Capítulo 46

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Viro de costas, me encostando na fria porta com os olhos fechados, a partir desse momento era apenas aqui que eu iria me permitir cair, seriam dentro destas paredes que eu iria desmoronar e apenas esse espaço veria minha fraqueza, de amanhã em diante as coisas iriam mudar, eu precisava mudar, precisava me fortalecer para poder ajudar o clube, eles precisam da minha ajuda para proteger eles, da mesma forma que eles sempre me protegeram sem mesmo eu saber.

Abro os olhos e levo as mãos ao bolso com a lista dos planos que o Prez me deu, ficar longe do meu irmão e principalmente do grande amor da mina vida não iria ser uma tarefa fácil, mas seria necessária, o que me conforta é saber que é temporário, pelo menos até o final desta lista, devo permanecer aqui em segurança para colaborar com o clube.

Olho ao redor, um quarto simples e majestoso ao mesmo tempo, minimalista, com móveis de madeira sofisticados, posso sentir que há calefação no ambiente, pois estava tudo em uma temperatura agradável, caminho até a cama grande com uma cabeceira com flores esculpidas, passo as mãos pelos lençóis e fronhas de algodão brancos com bordados delicados, edredons aconchegantes e quentes, colchão macio que convida a ter boas noites de sono.

Cada lado da cama um bidê, com abajures ligados, tapetes estendidos ao chão frio, uma enorme janela com cortinas fechadas, na parede uma televisão, uma escrivaninha ao canto, impessoal, sem informações, como irei passar um tempo por aqui seria bom transformar este espaço em algo que eu reconhecesse como meu.

Uma pequena porta dava a um banheiro pequeno, mas com tudo o que necessitava, chuveiro quente com box, pia com armário, espaço para toalhas, produtos de limpeza e higiene, dois espelhos um a cima da pia e outro na parede inversa de corpo inteiro, vaso sanitário obviamente, um secador de cabelo já ligado na rede elétrica, com suporte na parede.

Em outra das paredes um grande guarda-roupas embutido na parede, abro suas portas e percebo que está vazio, várias gavetas, divisórias, prateleiras, espaço para cabides com cabides vazios, não era um quarto grande, mas era o que eu precisava, muito mais do que eu tinha e vivia confortavelmente, isso aqui já é como estar em um hotel cinco estrelas.

Sento na beirada da cama pensando no que fazer, estava cansada fisicamente, mas minha mente passava um turbilhão de coisas, seria bom um banho, mas não tinha roupas, isso é tão ruim estar com as mãos presas por correntes imaginárias.

Uma batida na porta e uma voz me chamando, levanto indo até a mesma abrindo lentamente, pois não tinha certeza se era comigo mesmo, ou se era apenas coisa da minha cabeça, ou até alguém em um quarto ao lado.

- Vim trazer toalhas para o banheiro, não tive tempo para comprar coisas para sua higiene, então pensei em te emprestar algumas coisas minhas, shampoo, sabonete, são novos, embalagens lacradas como pode ver, é só até poder comparar o que você precisa, e aqui um roupão, roupas femininas aqui são um pouco escassas, então para o momento só temos esse roupão, então se quiser posso levar para lavar estas roupas que está usando para que sejam lavadas e amanhã possa usá-las limpas e secas.

Era o rapaz que havia me acompanhado, aceito as coisas que estavam em suas mãos, e penso na ideia de lavar minhas roupas, seria muito bom roupas limpas e sei que mesmo que eu lavasse elas na pia do banheiro não iriam ficar limpas o suficiente.

- Certo, pode esperar um pouco para que eu possa trocar de roupas e te dar as para lavar.

- Se não se importa posso esperar ai dentro? O chefe fica sempre ranzinza com pessoas perambulando pelos corredores.

- Ok.

Saio da frente dando espaço para que ele entrasse no quarto, fecho a porta e sigo para o banheiro, certo, é normal ficar nervosa em saber que há um cara muito bonito sentado, provavelmente na minha cama do outro lado dessa parede? Não sei, se é um nervoso ruim ou bom, mas eu troco a roupa tão rápido que nem eu acreditei ser possível.

- Se não quiser mandar para lavar suas roupas íntimas não tem problema, me entregue apenas o que você se sentir confortável.

Essa era um questão que estava passando em minha mente, minhas roupas íntimas, era vergonhoso que outras pessoas que nem conheço vissem elas, que situação constrangedora.

Deixo meu sutiã e calcinha na pia, essas eu mesma irei lavar a mão, me sentirei melhor dessa forma, dobro as outras empilhando.

Ai que nervoso, sair de um banheiro somente de roupão, nunca passei por isso na vida, ninguém me viu com tão pouca roupa, eu sei que está tudo tapado, mas mesmo assim minha mente está apitando que não tem nada embaixo dessa coisa.

Respira, você não está nua, e ele não vai fazer nada contra ti.

Abro a porta como quem tira um curativo.

- Aqui está as roupas, as íntimas eu mesma vou cuidar, é menos constrangedor.

- Tudo bem, boa noite senhorita, até amanhã, logo cedo irei lhe chamar para conversar com a senhorita Mirka.

Assim ele pega as roupas e sai, não olhou para mim em momento nenhum, o que me deixou mais confortável, só em perceber que ele não ficou me olhando com segundas intenções ou coisas do tipo já colabora muito, tudo bem que ele pode ter pensado besteiras, mas ele não tornar expor de alguma forma seus pensamentos já é uma grande coisa.

Vou até a porta a trancando, vou até a janela e verifico se está bem trancada também, beleza, estou segura, vou para o banheiro, verifico a janela do banheiro a trancando também, toda medida de segurança é pouca quando se está em um lugar desconhecido, com pessoas desconhecidas, em um país desconhecido, nunca se sabe que tipo de louco existe por aqui.

Aproveito os produtos de higiene que ele trouxe, tudo em russo, é uma maravilha e não tenho nem onde buscar tradução, sabonete é fácil, pois é o único em barra, shampoo e condicionador vou seguir pela densidade do líquido dentro, e vamos na sorte.

O cheiro era exatamente o cheiro do rapaz, não tinha como dizer que não eram coisas dele realmente.

Tomo um banho e tento relaxar, fui atingida por um furacão e estou tentando achar uma tabua de salvação, o pouco de oxigênio que consigo pegar é o que me mantém viva, mas não exatamente consciente do que está acontecendo.

Após o banho uso as macias toalhas que ele trouxe, o toque relaxante na pele traz um pouco de paz para o momento, coloco o roupão agora mais confortável em saber que não haveria ninguém no quarto me esperando.

Vou até a cama com os cabelos molhados e adormeço exatamente da forma que estou, espero que amanhã a montanha russa da minha vida tenha um momento de estabilidade, pois minha sanidade mental está prestes a entrar em colapso.

LunaOnde histórias criam vida. Descubra agora