Capítulo 30

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Gritos e mais gritos vinham do andar de baixo, eu continuava nu e com os sentidos zoados, levanto cambaleando e volto para o banheiro, jogo muita água fria no rosto, o café, vou até a garrafa térmica de café e sinto o cheiro, parece estar normal, mais um estouro no andar de baixo, vou ter que arriscar e tomar, vou tomar direto da garrafa, vamos supor que esteja limpo e a droga esteja na xícara, porque eu estou tendo certeza que estou sim drogado, tomo vários goles, está com gosto normal, me sentindo menos merda, consigo me vestir, pego meu colete e confiro a arma, tudo ok.

Desligo todas as luzes, saio sorrateiramente do quarto para ver o que está acontecendo, os sons altos não estão contribuindo para o meu estado nada sóbrio, fecho os olhos e concentro, eu sou o Prez dessa porra, eu tenho que ser um exemplo, preciso proteger os meus.

Ando agachado e tento olhar para o andar de baixo, é o completo cenário de fim do mundo, a parte de entrada do prédio estava destruída, nítido que o barulho que escutei era de uma bomba, não consigo ver direito as coisas, tudo está uma confusão de escombros e escuro, gritos de homem machucados, mulheres, pessoas correndo, tiros, muitos tiros.

Corro descendo as escadas, desviando como posso de balas, e tentando não cair por estar tonto, não vou conseguir fazer muita coisa, não estou em boas condições, colocaria ainda mais em risco as coisas do que ajudaria, quanto mais perto do primeiro andar mais tonto eu fico, assim acabo me desconcentrando e levo um tiro de raspão, caio das escadas, chegando até o último degrau, tento me levantar mesmo com todas as dores.

Sinto alguém me ajudando a levantar.

- Porra cara olha o teu estado, onde você estava que estou te procurando desde a primeira explosão?

- Skill, eu fui drogado, levei um tiro de raspão e não estou conseguindo ajudar em nada.

- Tudo bem cara, a maior parte dos caras já conseguiram escapar, mas tem muitos que se machucaram seriamente.

- Alguma perda?

Ele consegue me ajudar a achar um local para sentar. 

- Graças aos céus não, mas tenho uma notícia bem de merda.

- O que?

- A Sindy foi atingida, ela foi levada correndo para o Doctor, mas eu acho que bom, vou deixar ela te contar, ela nem tinha contato para nós, acabamos descobrindo por acaso, então vou deixar que ela te conte.

- Contar o que? Porra, me fala logo, eu preciso saber seja lá o que for.

- Ela estava grávida, mas ela foi atingida, começou a sangrar muito, e cara eu acho que ela vai perder a criança.

- Porra velho a fadinha não merecia isso, como isso tudo foi acontecer?

- Não quero acusar ninguém, mas depois que a fadinha te deixou lá em cima com a mulher de lenço, ela veio falar que sentiu alguma coisa ruim vindo daquela mulher, e agora você me dizendo que foi drogado, eu realmente acho que ela tem muito a ver com isso.

- E a ruiva? E você como estão?

- Eu estou bem, estava dando uns amassos na minha mulher, então não fomos atingidos, estamos bem, ela foi junto com a Sindy, aqui estava uma loucura, tiroteio, teve mais explosões, então mandei as duas com os prospectos para o hospital que Doctor está fazendo plantão, eu sabia que se enviassem eles para o clube seriam seguidos e seria ainda mais perigoso, pelo menos lá elas estarão em segurança lugar público e tudo mais.

- Obrigada por tudo e me perdoe por não estar aqui para ajudar, eu que teria a obrigação de deixar todos em segurança, eu que teria que ter planejado planos de proteção, na verdade não deveria ter feito essa festa, ou pelo menos não deveria ter bebido tanto.

- Pelo menos você sabe quem era a mulher que estava no teu quarto?

- Não faço ideia, não sei nome, praticamente não lembro de nada, lembro do perfume, e que tinha olhos escuros, tenho uma vaga impressão que posso ter transado com ela, mas acho que foi apenas alucinação, eu não sei o que foi na verdade que aconteceu naquele quarto.

- Sindy estava muito puta da cara, te deixou lá e mandou ela ficar lá, porque você estava muito bêbado, mas depois quando ela baixou a adrenalina ela começou a ficar bem preocupada.

- Eu me sinto extremamente culpado pelo que aconteceu aqui, eu deveria ter tido mais cuidado, eu deveria ter sido mais Prez de verdade.

- Cara, não tinha como você saber que tudo isso ia acontecer, poderia ter ocorrido em qualquer outro lugar que estivéssemos, temos um alvo marcado em cada cabeça de membro do clube, agora precisamos descobrir quem fez isso, recuperar quem foi atingido, e é isso.

- Eu poderia ter evitado, aglomeração de membros é um alvo fácil, estava muito na porra da cara.

- Você esteve internado tempos, merecia um descanso.

- Descanso, não a porra de uma festa até encher o cu e perder a porra da consciência e deixar o clube desprotegido e presa fácil.

- Não está mais em discussão isso, aguente fomos atingidos por bombas pequenas pelo menos, teve tiroteio, mas logo foram embora, era só um aviso, não era para nos matar, agora é hora de levantar, curar esses machucados, e reerguer esse lugar, limpar essa merda toda, ninguém pode saber o que aconteceu aqui, temos que criar uma história, a polícia já está vindo, então eu fico para resolver tudo, e você vai para o hospital.

- Não, eu estou bem, só preciso de uma água e vou estar pronto para outra.

- Você que sabe, mas e o envelope o que dizia?

- Não abri ainda.

- Cara poderia ter sido a porra de um aviso!

- Eu sei.

- VAI TOMAR NA PORRA DO TEU CU, PODERIA TER MORRIDO TODOS AQUI NESSA MERDA!

- EU SEI PORRA!

- Cara sério, eu estou indo, se vira, depois dessa não tem como olhar para a tua cara e não querer te arrebentar.

- Eu mereço.

- Não você não merece, porque eu estou tendo muita consideração aqui nesse momento, se eu tivesse um pingo a menos de consideração ai sim você ia descobrir o que merece, qualquer outro iria encarar isso como traição, mas eu vou atrás da minha mulher, e pensarei muito bem no caso de me tornar um dos nômades, porque sério, não estou conseguindo lidar com tudo isso aqui.

Assim ele deu as costas para mim, saindo pelo meio dos escombros, as sirenes da polícia chegando, e eu na merda, na profunda merda e muito ferrado.

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