Capítulo 6

2.5K 215 6
                                    

Luna

Acordei completamente desnorteada, meu corpo estava dolorido, com certeza dormi de mal jeito, olhei ao redor, com as poucas brechas de luz que entrava pela janela, vi que não era meu quarto, então tudo aquilo foi verdade, estava tudo silencioso, até minha barriga dar o ar da graça reclamando de fome, que horas deve ser?

Não havia relógio em lugar nenhum, joguei as cobertas de lado, percebendo que meu irmão não estava mais aqui, ele deveria ter me acordado quando levantou, mas tudo bem, andei tateando pela parede até encontrar o interruptor para ligar a luz, pisquei algumas vezes até diminuir a ardência dos olhos acostumando com a claridade, devo ter hibernado, não pode ser possível.

Andei até o banheiro e dei um grito ao olhar minha imagem refletida no espelho, eu estava um demônio, como pode ter inchado tanto meu rosto assim? Devo realmente ter hibernado, quantos dias eu dormi? Por que eu acordei assim e a Bela Adormecida não? Que desgosto, os contos de fadas foram arruinados, isso só confirma o quanto são mentirosos.

Pego duas toalhas limpas que estavam enroladas em uma das prateleiras no armário da pia, o banheiro é pequeno, mas super prático, em um lado o vaso, branco com caixa d'agua acoplada, armário com muitos produtos de higiene e limpeza, além de toalhas limpas de banho e de rosto, um cesto para roupas sujas, e um enorme espelho com um armário aéreo, o box com nicho na parede para colocar as coisas, muitos ganchos nas paredes para pendurar as toalhas e roupas, praticidade é o que eu mais gosto nessa vida, vou para o banho, deixo a água esquentar enquanto retiro minha roupa, confiro a temperatura e entro embaixo da água quente, nada como um banho relaxante para colocar a cabeça no lugar.

Ok, vamos tentar raciocinar, então eu tenho um irmão chamado Lucas, Dylan pode estar por aqui, será que ele ainda lembra de mim?, mas como irá ficar meu trabalho? E a minha casa? Será que vou morar aqui? Afinal o que é aqui? Um complexo certo, mas um complexo de que? O que fazem aqui? E Death? Quem é aquele homem? E por que esses apelidos exóticos? Será que irei ganhar um apelido desses? E qual seria?

São tantas questões que estão rondando meus pensamentos, tudo está de cabeça para baixo, mas tudo está fazendo sentido ao mesmo tempo, as garotas que cuidavam de mim, pois meus pais nunca estavam lá, eles não tinham trabalho e mesmo assim tinham dinheiro, como não percebi isso antes? É óbvio que era o Lucas que os sustentava, tudo por mim, como será que teria sido minha vida se a mãe dele não tivesse falecido? Como seria se ele não tivesse entrado para o clube? Certamente teria crescido com muito amor e carinho, tudo o que aqueles que me deram a vida não foram capazes de me dar.

Tento limpar a mente lavando meus cabelos com o shampoo que tinha ali, era masculino, mas era melhor que ficar do jeito que estava, não tinha creme ou condicionador, mas pelo menos estaria limpo, o sabonete também era masculino, mas deixou a pele suave, e principalmente eu estava me sentindo limpa.

- Espero que não acabe com a água quente pirralha!

Gritou Skill batendo na porta, sorri com essa intromissão no meu momento de pensamentos, era bom ter um irmão, principalmente sendo ele, vou demorar para me acostumar quanto a isso, o melhor dos melhores com toda a certeza, mal o conheço, mas confio plenamente nele, ele transmite um sentimento de paz, de conforto, é tão estranho isso, mas é extremamente confortável isso, termino meu banho desligando o chuveiro.

Saio do box secando meu corpo, enrolando o cabelo com uma toalha e o corpo com outra, agora dei-me por conta que não tenho roupas limpas para vestir, desanimador isso.

Abro a porta enrolada nas toalhas e olho para Skill que está jogado na cama mexendo no celular, com certeza deve estar falando com a tal russa.

- Trouxe essas roupas minhas, deve servir até buscar as suas.

Falou não tirando os olhos da tela do celular, assenti pegando as roupas que estavam emboladas ao seu lado, ri da situação, claro que estariam assim, não poderia esperar nada menos do que isso, se eu sou uma bagunça ambulante sendo mulher, imagina ele sendo homem e meu irmão ainda por cima, voltei para o banheiro e vesti o que ele trouxe, uma de suas camisas que ficou como um vestido para mim, uma cueca e um short, certo, isso está muito estranho, coloquei meu sutiã, porque realmente estava tudo muito solto.

- Meu Deus, você está parecendo um rapper com minhas roupas, acho que ficou um pouco grande pra você, mas considerando que você dormiu dez horas seguidas, posso considerar que é um mini urso vestida.

Falou soltando uma gargalhada, olhei para ele com uma sobrancelha erguida, enquanto enrolava meu cabelo molhado em um coque desarrumado, outra vez minha barriga fez sua apresentação para o mundo.

- Eu acho que estou com fome.

Falei o óbvio.

- Venha, vamos até a cozinha, as bundas doces estão limpando a bagunça de ontem, ninguém vai encher o saco, ainda mais eu estando junto, fiquei sabendo da Rith, ignore aquela vadia, ela já deveria ter ido embora a muito tempo.

Disse levantando-se e indo até a porta, o segui até a cozinha, aqui tudo era enorme, não tinha visto muitas coisas desde que cheguei, e o refeitório era absurdamente grande, diversas mesas com bancos acoplados, uma grande mesa no centro, fogões, fornos e outros utensílios de cozinha industrial.

- Sim aqui é tudo em grandes proporções, inclusive alimentos, porque além de comerem igual animais é muita gente, então por isso as coisas industriais, é para facilitar a vida das Old Ladies, e algumas das bundas doces que tem autorização pra entrar aqui, tipo as com bom comportamento dentro dos padrões de uma bunda doce.

Falou enquanto eu dava risada como o final de sua narração. Havia uma garota com roupas muito curtas, seu cabelo colorido era impossível de não notar.

- Ei Jenny, pode preparar aquele lanche caprichado que só você sabe fazer? E aquele café que você faz muito bem também, para alimentar o dragão que vive dentro da minha irmã?

- Claro boy magia, e prazer em conhecê-la gata!

Falou vindo até mim para dar um abraço, dando uma piscada para meu irmão, gostei dessa garota, acho que posso fazer uma amiga pela primeira vez.

- Ela é a única das bundas doces que tem um quarto individual, porque ela ajuda muito mais do que apenas nos trabalhos sexuais, bom não preciso explicar o sentido dessas garotas estarem aqui, mas a Jenny é diferente, ela sabe exatamente seu lugar, nunca reclamou, ela faz faculdade de gastronomia, o clube paga seus estudos, em troca ela prepara nossa comida, ajuda a limpar o complexo, é muito alegre, educada, simpática, e por incrível que pareça, todos respeitam ela, tanto que aqui dentro apenas três caras levaram ela para a cama, sendo que dois foram mortos por um clube rival, assim ela tem quase um relacionamento estável com o capitão das estradas, você vai conhecer ele um dia desses, a gente gosta muito dela.

Ele falou com tanto carinho dela, como se fosse uma irmã do coração, logo sentou-se em uma mesa e eu fiz o mesmo, fiquei a observando como ela movimentava-se preparando meu lanche e cantarolando alguma música em uma língua estranha, acabei gostando ainda mais dela, não me importaria dela ter passado pela cama de todos, o importante é que ela me tratou bem, completamente diferente daquela outra vadia, é lembrarei de anotar o nome dela e de Sara no meu caderninho na lista de amigas.

Quando terminou de preparar meu lanche ela entregou para mim, se despediu falando que estava indo arrumar suas coisas para ir para a faculdade, assoprou um beijo e retribui da mesma forma, a alegria dela é contagiante.

Comecei a comer, Skill continuava enfurnado em seu celular, totalmente alheio ao seu redor, até que aqui seria um bom lugar para morar, mas preciso resolver minha vida, minutos mais tarde quando estava terminando meu lanche, Jenny volta completamente diferente de suas roupas anteriores, o salto se foi, dando lugar a um all star gasto, seu short, deu lugar a uma calça com detalhes desgastados, seu croped, deu lugar a uma camiseta de uma banda de rock e um cardigan longo por cima, caramba o que uma roupa não faz com uma pessoa, ela não parecia ser ela.

- Gata pare de me olhar assim, desculpe, mas não jogo nesse time, só vim buscar minha garrafinha de suco que esqueci na geladeira, beijinhos stars, qualquer coisa me liguem, adiós.

Engasguei com meu café com a insinuação de eu ser lésbica, Skill gargalhava com a situação, e pude ouvir a risada dela no corredor, eu apenas sabia tossir em choque. 

Após recompor-me e terminar meu lanche, lavei o que havia usado, estava na hora de resolver algumas coisinhas da minha vida.

LunaOnde histórias criam vida. Descubra agora