Capítulo 76

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Passei o restante da tarde, andando pela recepção, sob os olhos de desaprovação de Juan e desapontamento de sua abuela, eu me sentia a pior das criaturas, e o pior de tudo era que Juan não queria me escutar, e eu me sentia uma traidora, tinha decepcionado uma das pessoas que me recebeu tão bem, e gostava de mim, de verdade.

- Está na hora de ir.

- Certo.

Antes de pegar minhas coisas fui até onde a senhora estava, a abracei apertado.

- Obrigada, foi uma ótima estadia, sua comida é maravilhosa e principalmente obrigada pelo que fez por mim hoje.

- Encontre seu caminho minha jovem, descubra quem você realmente é, e viva, viva de verdade, e se cuida, você é uma pessoa maravilhosa, mas está se perdendo, sua luz está se apagando, não deixe isso acontecer.

Ela não podia ver, mas eu estava sorrindo com amor para ela.

- Vamos Luna, está na hora.

Escutar meu nome nos lábios dele deveria ser algo bom, mas o som era amargo. Peguei minhas coisas, dando um último aceno para a senhora e sai, mais um adeus para a minha lista.

- Antes de entrar no carro, me diga uma coisa.

- Sim.

- De onde veio e para onde vai?

- Bom, a história é complicada, enfim, vim fugida de algum lugar da Rússia, e estou voltando para casa, nos Estados Unidos.

- Estamos em perigo?

- Não, com certeza não, eles só estão atrás de mim, não querem me matar, apenas me manter prisioneira deles, algo como um acordo entre minha família e a família chefe deles.

- Por que?

- Longa história que nem eu sei exatamente com foi, mas o pouco que sei se eu te contar, ai sim, poderei estar colocando vocês em perigo.

- Ok, entra no carro.

Assim destrancou as portas e entrei no lugar do passageiro, já estive nessa posição em momentos melhores, flash de uma noite maravilhosa passam por meus pensamentos.

- Vou te deixar fechada em uma sala, não saia por nada, só quando eu chamar para a luta, no porta luvas tem um envelope com coisas que irá precisar.

- Certo.

Abri o compartimento e retirei o envelope, havia uma passagem de avião com meu nome de fachada, e uma identificação de lutadora para a noite, seguimos o caminho para um ginásio afastado, tudo estava calmo demais, poucas pessoas caminhavam por ali, não pareciam saber que aquele lugar seria palco de lutas, desci do carro segurando minhas coisas, escondida com meu disfarce.

- Não responda o chamado de ninguém.

Assenti concordando, entramos no ginásio, algumas pessoas pareciam estar treinando seus exercícios diários, absortos, socando sacos de areia, fazendo alongamentos, levantando peso.

- Você vai ficar no meu antigo vestiário, lá tem coisas para aquecimento e sacos para treino, mas fique disfarçada, por mais que irá ficar sozinha, em uma sala trancada, não é totalmente garantido que você não estará sendo observada, e de novo, não esqueça, só abra quando eu chamar, entendido?

- Sim.

Andamos mais um pouco, seguindo para a ala dos vestiários no fundo do ginásio, ele tira do bolso um molho de chaves, destranca a porta que parecia ou muito pesada, ou estava um pouco emperrada, ele faz sinal para que eu aguarde onde estava na entrada, ele entra acendendo luzes e abrindo as janelas, tudo parecia estar ali abandonado já fazia um tempo, ele faz outro sinal para que eu entrasse e fechasse a porta atrás de mim.

- Está um pouco empoeirado, a tempos não era usado por ninguém, mas nada que vá te prejudicar, precisa de mais alguma coisa?

- Queria dizer que tudo o que vivemos foi real, eu não planejava conhecer alguém tão incrível como você, mas saiba que tenho um carinho enorme por ti e sempre terei você em meu coração e pensamentos, sou muito grata por ter cruzado elo teu caminho.

- Devia ter levado isso em consideração antes de estragar tudo.

- Sinto muito, mas não planejei isso, não foi minha intenção, e eu não tenho culpa de que as coisas tenham se desenrolado dessa forma, ia contar o que pudesse não assim, mas de uma forma menos traumatizante ou agressiva, posso fazer uma pergunta?

- Diga.

- Como conseguiu uma passagem sem ter documentos?

- Tenha contatos e terá tudo na vida.

Dito isso ele sai do vestiário, fico ali, sozinha com meus pensamentos perturbados.

Sigo até a porta por onde ele saiu a trancando, logo que virei as costas para a porta, alguém tenta entrar, forçando a maçaneta, bem que ele avisou que eu não estaria exatamente sozinha por aqui.

Ouço vozes baixas no corredor, não consigo entender o que dizem, mas posso perceber que alguém permaneceu na porta, certo não posso sair daqui, e preciso ficar segura.

Olho ao redor, não tem muitas coisas possíveis para usar, puxo um banco de metal pesado que estava no centro da sala, colocando atrás da porta para bloquear o acesso, colocando em cima umas das lixeiras de metal que havia ali, para trancar a maçaneta.

Não é a melhor barricada, mas para o momento é o que temos e vai ter que servir.

Espio por uma pequena brecha das cortinas, as janelas possuem grades, o que ajuda na minha segurança, mas não dá para ver nada, o vidro jateado, apenas dava para ver vultos, mas nada que ajudasse, parecia ser apenas as pessoas que já estavam treinando antes.

Bom preciso me preparar para a luta, afinal é o meu bilhete para cair fora daqui, queria que minha passagem por aqui tivesse sido em condições melhores, ter conhecido essas pessoas em situação mais propícia, mas como não é o caso, o que me resta é focar na luta e sair daqui, pelo menos estou indo para casa, essa notícia conforta muita muito coração que já está a muito tempo espedaçado.

Não sei quantas horas passei ali, entre alongamentos, aquecimentos, treinos de socos em sacos de areia, já estava exausta física e psicologicamente, não podia nem sair dali, nem sequer poderia comer ou beber algo, pois eu precisava economizar o que tinha comigo, não sabia quanto dinheiro iria ganhar e nem sabia quanto tempo iria precisar me manter, até uma batida na porta.

Meu coração acelerou, minha respiração falhou, um formigamento correu pelo meu corpo, mas uma voz já familiar chamou meu nome, ainda podia sentir o amargor em seu tom, mas havia chegado a hora.

LunaOnde histórias criam vida. Descubra agora