Outros, Não

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Um dos medos que Lea mais temia era recuperar suas lembranças, falara repetidas vezes para si mesma que jamais iria querer se lembrar do passado de novo. Ele a assombrava a maioria de suas noites e tê-lo por completo, com certeza, iria piorar.

Sentou-se ao lado de Minho, ainda estupefata e com a mente em turbilhão.

Lembrar-se de todo o passado não era algo que queria. Não seria bom. E as entranhas revirando dentro dela confirmaram o que vinha sentindo desde que o Homem-Rato lhe dissera que estava tudo acabado: aquilo parecia fácil demais.

O Homem-Rato pigarreou para limpar a garganta.

— Tal como informado nas entrevistas individuais, os Experimentos como os conheceram foram finalizados hoje. Uma vez que a memória de vocês seja restaurada, tenho certeza de que acreditarão em mim, e poderemos ir adiante. A todos foi transmitido um breve resumo sobre o Fulgor e as razões para os Experimentos. Estamos muito perto de concluir o Esboço da Zona de Conflito Letal. Os dados que necessitamos para aprimorar o que já temos serão mais adequados se servidos pela plena cooperação de vocês, com a mente em estado de perfeita consciência.
Portanto, parabéns.

— Devia ir até aí para quebrar esse seu nariz de mértila — resmungou Minho. O tom da voz estava terrivelmente calmo, considerando a ameaça das palavras. — Estou farto de você agir como se tudo fosse lindo; como se mais da metade de nossos amigos não tivesse morrido.

— Adoraria ver o nariz desse rato esmagado! — acrescentou Newt.

A raiva em sua voz impressionou Lea, que nem sequer pôde imaginar a que coisas horríveis Newt fora submetido durante a Terceira Fase.

O Homem-Rato revirou os olhos e deixou escapar um suspiro.

— Antes de qualquer coisa, vocês têm de ser advertidos de que haverá consequências caso tentem me ferir. E fiquem informados de que todos ainda estão sob vigilância. Em segundo lugar, sinto muito pela morte de entes queridos, mas no fim terá valido a pena. O que me preocupa, no entanto, é que nenhuma palavra minha parece ter despertado vocês para a gravidade do assunto: falamos aqui da sobrevivência da raça humana.

Como a morte de Chuck valeu a pena?, o  ódio avançou sobre todo o corpo de Lea.

Minho tomou fôlego, como se fosse iniciar uma briga, mas se conteve e fechou a boca.

Para Lea, não importava quanta sinceridade o Homem-Rato deixasse transparecer em suas palavras, aquilo tinha de ser um truque.

Tudo era um truque.

Mas, àquela altura, sabia que nada de bom resultaria em combatê-lo, nem com palavras, nem com os punhos. Por enquanto, precisavam mesmo era de paciência.

— Calma gente... Vamos ver o que esse cara tem a dizer. — Lea suspirou tentando acalmar os outros mesmo estando morrendo de vontade de atacar o homem.

No momento em que o Homem-Rato fez menção de prosseguir, Caçarola o interrompeu:

— Nos dê apenas um motivo para confiar que vocês vão... como foi que chamou? Dissipador? Depois de tudo o que fizeram com a gente, com nossos amigos, querem remover a perturbação causada pelo tal do Dissipador? Não, obrigado. Prefiro continuar ignorando meu passado, mas me sinto profundamente sensibilizado e agradecido.

— O CRUEL é bom — ouviu-se a voz de Teresa num rompante, como
se falasse consigo mesma.

— O quê? — perguntou Caçarola. Todos se viraram para encará-la.

— O CRUEL é bom — repetiu, muito alto, ajeitando-se melhor na cadeira para enfrentar o olhar de todo o grupo. — De todas as coisas que poderia ter escrito em meu braço quando acordei do coma, escolhi essas palavras. Já refleti sobre o assunto, e tem de haver uma razão para isso. Precisamos nos calar e fazer o que o homem diz. Só poderemos entender
esta situação com a memória restaurada.

Error 3 [Maze Runner: A Cura Mortal]Onde histórias criam vida. Descubra agora