capítulo dezessete

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ARTHUR MAZZA - EUA, DOIS DIAS APÓS.

O silêncio era assustador. Você nunca sabe que o ele esconde na escuridão.

As lembranças, os medos, anseios, ansiedade, tristeza e a solidão. Mas, as memórias eram com certeza a pior ou melhor parte dele. A nostalgia de estar em completo e absoluto silêncio com os momentos que te levavam para uma onda nostálgica era único, apesar de triste.

Eu me encontrava em uma onda dessa nesse instante.

Se aquela dia não tivesse acontecido, eu com certeza estaria agora com o zíper da calça aberta e a barriga estufada de tanto doce e bolo, no fundo estaria tocando one directon por mais que eu não gostasse e estaria observando-a abrir os presentes animada.

Estaria comemorando mais um ano de vida de Anne.

Deitei minhas costas no telhado, tomando cuidado para não cair e fitei o céu a cima de mim. Uma noite quente e estrelada, perfeita para sofrer um luto sem fim.

Éramos melhores amigos, daqueles que nasceram praticamente juntos e que os pais também eram melhores amigos na adolescência. Só que, com o passar dos anos a amizade dela se tornou bem mais pra mim. Eu já não a olhava com os mesmos olhos e não via Anne apenas como uma "irmã'.

Claro que, eu amava sua amizade mas eu queria mais. Queria ser o cara que iria a fazer feliz, queria ser o cara que ela confiasse seu coração.

Porém, Anne sempre deixou mais que claro que seus sentimentos sempre foram voltados para nossa amizade e nada além. E mesmo não gostando eu aceitei, pois a ideia de perde-la era dolorosa demais. Talvez mais dolorosa que um amor não correspondido.

Eu só não sabia que eu estava destinado a perde-la de qualquer forma.

Anne sempre foi quieta, na dela mas comigo era como se fosse outra pessoa. Sorria, brincava e me fazia rir. Nunca me escondeu nada, éramos um livro aberto.

Pelo menos eu achava que ela confiava em mim.

Estávamos bem, melhor do que nunca quando ela sumiu por uma semana. Sem notícias, sem ligações e sem mensagens. Fui atrás dela e tive a pior notícia que já recebi.

Ela estava no hospital, apenas esperando a hora de partir.

- Filho? - levantei meu tronco vendo minha mãe gritando da varanda - Desse daí!

- Já vou! - ela assentiu e entrou para dentro novamente, sabendo que eu não ia descer.

Pensei que teria paz mas quando a janela do meu quarto abriu e meu irmão passou por ela vindo ao meu encontro eu sabia que teria que fazer o mesmo desabafo de todos os anos.

Enzo se sentou ao meu lado e me ofereceu uma barra de chocolate, aceitei levando o bloco de açúcar até a boca.

- A noite está bonita - ri.

- Você sempre começa o assunto assim - ele me olhou com os olhos negros.

- Queria não ter que começar esse assunto, maninho - suspirei - Mas não consigo te ver assim.

- Quando eu vi, já estava aqui - levei mais um pedaço até a boca.

- Ainda dói, não é? - assenti, segurando o choro - Sabe que se chorar vai te aliviar.

Fiz careta, odiava admitir que ele estava certo.

- Mas não vai me trazer respostas, Enzo. Por que ela não me contou? Eu ajudaria - meu ombros tremeram.

- Anne não queria te ver sofrer, sabia que ia partir e quis aproveitar apenas bons momentos com você - olhei de novo para o céu - Sabe que ela não gostava de te ver mal, ela só pensou no seu bem.

Balancei a cabeça, concordando.

- Como eu não percebi? Me faço essa pergunta todos os dias. Como não percebi que ela estava morrendo? - meu irmão me abraçou permitindo-me chorar em seu ombro.

- Eu acho que já está na hora de superar, ela gostaria de te ver bem - neguei - Sabe? Conhecer gente nova, se apaixonar, ter um família e aquilo que sempre sonhou.

Fiquei em silêncio.

- Anne tinha o sonho de te ver feliz, se não quer fazer isso por você, faça por ela - olhei para ele limpando as lágrimas - Ela fez parte da sua história mas acabou! Se permita viver pelo menos o que resta da sua vida.

Ainda em silêncio, nós dois passamos a madrugada no telhado. Eu perdido em meus pensamentos e meu irmão tentando me animar.

Eu não ficava todos os dias do ano remoendo meu erro de não ter percebido que o câncer estava correndo-a, as vezes, nem lembrava disso por conta da correria da minha vida. Mas, em datas como aquela era impossível não pensar no que eu podia ter feito para ajuda-la.

Anne tinha câncer terminal, optou por não fazer o tratamento, perdeu as esperanças...

Lembro-me de vê-la em cima daquela cama de hospital, fraca e incapaz de respirar sem máquinas.

Foram os piores três dias da minha vida, pura angustia e sofrimento. Eu era capaz de dar minha vida para ela ficar bem.

- Vai trazê-la aqui? - meu pai perguntou.

- Não sei, ainda não conversamos sobre - falei colocando minha mochila nas costas.

- Arthur - disse em tom de reprovação.

- Deixa ele, amor - minha mãe interviu - Ele tem que se sentir bem com a ideia.

- Obrigada, mãe.

- Mas se poder se sentir bem antes de voltar pro Brasil eu vou ficar feliz - meu pai gargalhou, concordando.

- Vou conversar com ela, só não quero assusta-la - meu irmão me repreendeu com o olhar.

Me despedi deles e fui com meu irmão para o aeroporto, teria alguns shows antes de voltar para o Brasil dar início as gravações do clipe. A agenda estava lotada e provavelmente veria a modelo apenas no dia da viagem e preferia assim.

As fotos foram bem vistas apesar de apenas prévias terem sido lançadas, tive ainda mais alcanço de público assim como ela. Poderia dizer que o plano estava ocorrendo mais perfeito impossível.

Eu poderia ter deixado ela fazer as fotos com Mateus, como Enzo disse mas agora ela meio que faz parte da minha vida e minha carreira está ligada temporariamente a dela. E se Meggie afunda, eu vou junto.

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