capítulo vinte e um

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ARTHUR MAZZA

No carro, Meggie decidiu ir na frente. Quieta, em silêncio e parecendo perdida no tempo.

Na minha mente, o olhar de medo dela ainda estava presente, como se afastou rápido, as lágrimas ameaçando cair e o receio de me olhar. Não era possível que ela estava com medo de mim, ela ia me beijar.

Os olhos de Meggie eram como janelas para sua alma e eu conseguia enxergar e ler com facilidade o que ela estava sentindo, mesmo que isso não fizesse sentido. E eu sabia que ela sentiu medo, só não sabia do que e isso estava me matando. Minha vontade era mandar parar o carro e ir até ela envolvendo-a e mantê-la protegida de qualquer coisa que seja.

Chegando ao hotel, eu tentei descer mais rápido que ela mas um grupo de fãs me impediu de até Meggie que se esquivou indo para o elevador com Milene.

Quando consegui ir para meu quarto já era tarde, preferi não tentar a sorte e acorda-la ou atrapalhar qualquer coisa que estivesse fazendo. Tomei um banho e me sentei em uma poltrona com meu irmão na outra.

— Foi estranho — comentei com ele, depois de falar tudo o que eu vi ou acho que vi.

— Bobeira, maninho. Coisa de mulher — disse olhando para o celular.

— Não parecia coisa atoa — falei tão baixo que ele não me escutou, muito menos respondeu.

Estranhei quando meu celular tocou, um número desconhecido. Geralmente, eu não atendia e ainda bloqueava mas resolvi atender e ir para a sacada.

— Alô? — disse, me sentando perto da sacada.

— E aí, cantor — franzi o cenho reconhecendo aquela voz — Como está minha filha? A danada não me atende, aí tive que apelar pra você.

— Senhor Slow? — ri — Meggie está no quarto dela.

— Graças a Deus! — ouvi sua comemoração — Era isso que eu queria ouvir, ganhou ponto comigo.

Fiquei em choque, totalmente surpreso sem reação e a única coisa que consegui dizer foi:

— Como conseguiu meu número?

— Sou um pai babão, que se preocupa. Eu dou meu jeito — deu uma pausa para brigar com um tal de "Cadu" — Estou brincando, seu irmão me passou.

Olhei para trás vendo Enzo ainda concentrado no celular.

— Bem, respondendo sua pergunta. Ela está bem — dei de ombros, sabendo que poderia estar mentindo.

— Cuida bem dela, rapaz. Meggie é minha pedra preciosa.

— Vou cuidar, Grayson.

— Acho bom — pausa — Será que agora que está namorando minha filha você faz um show de graça para a família?

Gargalhei alto, mas assenti desligando em seguida depois de mais palavras trocadas.

Já se passava das duas da manhã e eu ainda não havia pregado o olho, ao contrário do meu irmão que dormiu assim que a cabeça encontrou com o travesseiro. Me remexi e troquei de posição incontáveis vezes até que desisti.

Levantei da cama vestindo um casaco de frio e chinelo antes de sair do quarto em silêncio. Precisava de ar.

Indo pelo menos caminho de semanas atrás, achei a porta que levava ao terraço e subi os extensos degraus até enfim ar fresco. E claro que, não me surpreendi ao encontra-la aqui, na verdade, eu torcia a cada degrau que ela estivesse no mesmo lugar da última vez.

Me aproximei, fazendo barulho fazendo-a olhar para mim e me sentei ao seu lado sentindo um frio na barriga ao olhar para baixo vendo minhas pernas penduradas.

—. O que está fazendo aqui? — perguntou, olhando o horizonte.

— Pegar um ar. Gosto de olhar as estrelas e a lua, e você?

— Gosto do mar — respondeu e abraçou o próprio corpo coberto por uma blusa de frio fina  — Sobre hoje mais cedo eu...

— Não precisa falar, Meggie. Eu fui errado, não devia ter te tocado sem permissão e te assustado — interrompi-a, não querendo forçar.

— Por favor, Arthur. Preciso desabafar — disse, parecendo que um nó estava em sua garganta. Fiquei em silêncio vendo-a respirar fundo.

— Você não me assustou, nem um pouco — sorriu, doce — O meu passado me assustou, as lembranças me assustaram.

— Que lembranças, Meggie? — uma sensação estranha tomou conta do que estava por mim, o medo do que estava preste a ouvir.

— Quando eu comecei minha carreira de verdade, uns quatorze anos no máximo eu tive meu primeiro empresário — ficou em silêncio por alguns segundos, como se buscasse forças — E quando nós estávamos... Bem, você sabe. Eu me lembrei das coisas que passei e fiquei com medo, as lembranças ainda estão frescas na minha memória. Desculpa.

— Não peça desculpa, por favor — me apressei em dizer — Meggie, se não quiser dizer, tudo bem mas essas lembranças...

Me remexi, sentindo meu peito queimar.

— Alguém te tocou? — ela não falou mas o soluço contido que saiu de sua garganta foi o suficiente para eu entender. Logo também ela balançou a cabeça assentindo.

Trinquei os dentes sentindo uma raiva que nunca senti antes me consumir. Apenas imaginar alguém tocando-a sem sua permissão me faz querer caçar o sujeito e descontar minha raiva com minha próprias mãos.

Respirei fundo, procurando palavras.

— Eu sinto muito, ninguém deveria passar por isso — as lágrimas desciam por seu rosto mas o receio de toca-la me fez ficar quieto no meu canto, por mais que minhas mãos coçasse querendo puxa-la para um abraço.

O pedido para o contrato,para não ter  toques sem avisos prévios agora faz sentindo.

Eu queria saber mais, queria saber sobre aquela história mas seu choro que parecia rasgar sua pele me fez calar e apenas estender a mão para ela que agarrou-a com força puxando-me de leve. Medindo tudo o que fazia, me aproximei passando meu braço por seus ombros. Meggie apoiou a cabeça no meu peito, agarrada ainda a minha mão.

Ficamos em silêncio, olhando para o horizonte durante longos e bons minutos. E tudo o que eu queria era que ela parasse de chorar e me ajoelhar pedindo desculpas por todas as vezes que a fiz se lembrar do ser que não merecia ser chamado de humano. Seu choro cessou, e me senti aliviado por isso.

Limpei rápido uma lágrima na minha bochecha quando ela olhou para mim, apoiando o queixo em meu ombro.

— Prometa que não contará a ninguém — assenti — Você é o único além de Milene que sabe.

— Não vou contar a ninguém mas, se quiser conversar você sabe onde me encontrar — ela sorriu, não era um sorriso de verdade mas pelo menos ela tentou.

— Eu queria muito te beijar lá — declarou me pegando de surpresa soltando uma risada — Prometi para mim que nunca ia querer isso.

— É eu também queria — falei descontraído, levando uma mecha de seu cabelo para trás que estava grudada em sua bochecha molhada — Sempre quis.

— Eu ainda quero — suspirei.

— Modelo... Está sensível não acho que seja uma boa ideia — eu disse, me esforçando para me manter longe o suficiente — Melhor não.

— Ah — me senti um idiota quando ela se afastou de mim se levantando, pensando que eu havia a rejeitado.

— Modelo...

— Não, tudo bem. Você está certo — forçou novamente um sorriso — Melhor eu ir para dentro. Boa noite, Arthur.

Respirei fundo me levantando vendo-a chegando perto da porta de metal preste a abri-la e descer as escadas.

Eu esperava não me arrepender disso.

Tudo Pela Fama. {completa}Onde histórias criam vida. Descubra agora