capítulo trinta

74 12 2
                                    

Pode ser considerado gatilho!!!!
(Abuso psicólogico)

Os olhos eram os mesmos. Frios e sem vida. Na boca, o mesmo sorriso sacastico. Exatamente como era. Otto estava lá, eu o vi, ele me viu. Eu não estava vendo coisas, era real.

Quando o vi, me senti como a menina medrosa de catorze anos que obedecia tudo o que ele falava. Me senti vulnerável e odiava transparecer isso. Odiava saber que ele ainda me causava essa sensação que eu nunca estaria segura. Odiava saber que eu ainda tinha medo.

E também não gostava de gostar do conforto que o peito de Arthur tinha, enquanto íamos para o hotel. Desde que entramos na carro, me permiti descansar minha cabeça em cima de seu coração enquanto imagens de Otto ainda vagava na minha mente, causando-me arrepios.

- Meggie, chegamos - o cantor desceu do carro, estendendo a mão para mim.

Subimos em silêncio, sentia seu olhar sobre mim mas não conseguia encara-lo naquele momento. Abraçada ao meu próprio corpo, caminhei até meu quarto com ele ao meu lado. Não o repreendi quando o mesmo também entrou no meu quarto, não sei se conseguiria ficar sozinha agora.

Geralmente, quando eu tinha algum pesadelo ou até ataques de lembranças era Mili que ficava comigo, me escutava e me abraçava. Só que... Ela não estava em condições de me ajudar.

Olhei pela janela, tentando criar alguma desculpa pelo surto na boate. Mas tudo foi em vão quando escutei sua voz, calma perguntar do outro lado do quarto.

- Quem você viu lá? - me virei, olhando-o nos olhos.

- Eu achei que vi.. - Arthur levantou uma sobrancelha, duvidoso fazendo eu soltar todo o ar de meu pulmão - Otto.

- Otto? - se desencostou da porta.

Caminhei até a cama, me sentando e escorando minhas costas na cabeceira. Arthur também se sentou, do outro lado me olhando com atenção.

- Promete que não vai me julgar?

- Eu não vou te julgar, nunca - sorri, sem graça.

- Otto foi meu primeiro empresário - olhei pra o lençol, que foi esmagado na mão do cantor - Ele estava na boate, me olhando, sorrindo.

Senti meu estômago embrulhar.

- Se não quiser falar.. - balancei a cabeça.

- Quando eu entrei na moda, não tinha ninguém para me instruir ou algo assim até que um dia eu estava fazendo uma seção de fotos para uma loja de um shopping quando ele apareceu - dei uma pausa - Todo engravatado e engomado cumprimentando a todos importantes só Studio.
"Lembro quando ele se sentou, bem na minha frente e não tirou os olhos de mim. Durante todo o ensaio ele me analisava e quando chegou o fim ele caminhou até meus pais dizendo que eu tinha talento e potencial. Se apresentou como empresário o que fez meus pais pularem de alegria, eu também claro.
Otto não cobrou quase nada de mim, dizia que alguém como eu não podia deixar escapar e que dinheiro não era problema para ele.

Senti a mão de Arthur na minha, por cima dos lençóis brancos.

- Para uma criança, aquilo foi um máximo. Ele era legal também, me dava presentes, fez amizade com meus pais. Eu até o chamava de tio - ri, sentindo a primeira lágrima descer - Até que olhar do primeiro dia voltou a se repetir e elogios exagerados foram ditos. Naquela altura, meus pais confiavam muito nele e por causa de nossa condição nem sempre conseguiam me acompanhar nos trabalhos.
"Tudo ficou pior, ele começou a pegar no meu corpo 'sem querer' como se eu não fosse apenas alguém de catorze anos. E quando eu menos percebi, ele me manipulava, abusava e ameaçava. Nunca contei aos meus pais".

- Está doendo! Estou sem ar - minha voz saiu em um fio enquanto ele me estrangulava contra a parede como o rosto próximo ao meu.

- Se você tentar mais uma vez me chutar, socar ou qualquer coisa desse tipo pirralha - fechei meus olhos e apertei a boneca em minha mão - Já sabe o que vai acontecer com seu papai e com sua mamãe. Eles vão pra debaixo da ponte e você nunca mais vai ver eles. E Meggie, você sabe que eu cumpro com minha palavra.

Com brutalidade me jogou em uma poltrona, minha boneca caiu da minha mão mas eu sabia que era melhor eu não me mexer para tentar pega-la.

O homem que vestia um terno branco passou as mãos por seus cabelos lisos de costa para mim. Tentou respirar fundo mas se virou para mim com os olhos vermelhos de raiva.

- Eu devia te castigar, fazer pior com você - me encolhi - Sabe que pode ser pior, não sabe?

Não respondi; eu sabia o que era estupro e sabia que mesmo ele não fazendo algo que as agências, médicos e até meus pais pudessem ver eu sofria aquela violência. E sabia que podia piorar se ele quisesse.

Tentei me defender nas primeiras vezes, esperniava, dava socos, tentava gritar mas de nada adianta. E aí veio as ameaças.

Ele sabia que eu eu amava mais que tudo meus pais e sabia que não tínhamos a melhor condição do mundo. Era meu ponto fraco e ele usava isso a favor dele.

Estremeci quando o ele agarrou a jarra de flores e tacou na parede. Não demorou para ele começar a me torturar.

- Meggie! Ei, eu estou aqui, olha para mim - abri os olhos vendo Arthur ajoelhado na cama de frente para mim.

- Desculpa, eu.. - Arthur jogou a cabeça para o lado, fazendo me parar de falar.

- Sabe que pode falar comigo sobre qualquer coisa, não sabe? E não precisa pedir desculpas - sorriu, e eu lhe abracei.

- Ele vai vir atrás de mim.

- Não vai, não vou deixar - disse, com firmeza - Ninguém vai te fazer mal, Meggie. Eu prometo.

Como se fosse totalmente normal para nós dois, nos deitamos na cama ainda abraçados. Eu já estava me sentindo bem apesar da preocupação ainda estar presente na minha cabeça. Perguntas ainda me artomentavam... Ele viria atrás de mim? Tentaria algo para me machucar? Otto iria cumprir a promessa que fizera? Iria infernizar minha vida até o fim?


Tudo Pela Fama. {completa}Onde histórias criam vida. Descubra agora