Capítulo trinta e três

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MEGGIE SLOW

O avião pousou no aeroporto de Sattle, era madrugada mas minha mãe me esperava de braços abertos. Corri para ela, mantando a saudade de quase dois meses fora. Mili também a cumprimentou, tímida.

— Como está o papai? — perguntei, puxando a mala para fora do aeroporto.

— Teve uma parada cardíaca, ele não quer fazer a cirurgia porque o médico disse que as chances de dar errado no caso dele era mais que cinquenta por cento — minha amiga apertou minha mão — Só você pode convence-lo.

— Por que no caso dele é tão perigoso fazer o procedimento?

— Idade, pressão alta e principalmente porque as veias continuam a entupir  mesmo com remédios e a nova dieta e estilo de vida que entramos.

Parei por um instante, para colocar a mala dentro do porta-malas.

— Você acha que ele deve arriscar entrar no centro cirúrgico? — perguntei, entrando no carro junto com Milene.

— Filha, se ele não fazer ele terá outras paradas cardíacas e vai muito sofrimento — meus olhos arderam — Só vai ser uma maneira mesmos indolor.

— Quais as chances dele sair com vida da cirurgia?

— Trinta e cinco por cento, só que tem o pós operatório que é onde a maioria dos pacientes dessa operação não aguentam.

Fiquei em silêncio. Eu sabia que esse dia ia chegar, o dia da partida do cara que eu mais amo no mundo. Só não esperava que iria ter data marcada. Meus olhos vagaram pela paisagem da cidade até chegar em casa e quando eu estava no conforto do meu quarto foi quando eu me permiti desabar. Chorei tanto que no final eu sentia que minhas lágrimas tinham acabado.

Esse era meu maior problema, eu sempre sofria em silêncio. Talvez um abraço cairia bem mas eu fui incapaz de me levantar e ir até o quarto da minha mãe ou de Milene pedir consolo.

E só ai, consegui me arrumar e ir para o hospital onde Grayson estava. Quando o vi, agradeci por meu corpo estar desidratado o suficiente para nenhuma lágrima escapar.

Seu sorriso foi direcionado para mim e eu corri até ele, dando um beijo em sua testa.

— Oi, minha filha — sua voz estava fraca.

— Oi, pai. Como está? — segurei sua mão me sentando na cadeira ao lado da cama, do melhor hospital que consegui pagar.

— Mal o suficiente pra tirar você do trabalho — fechei meus olhos por alguns segundos mordendo a parte interna da bochecha — Minha pequena não fique triste.

Sorri, recebendo seu carinho na minha bochecha.

— Não estou triste.

— E esses olhinhos enchados? Hum? — ele sorriu — Vamos, sorria de verdade! Já sei! Como está você e o cantor?

Abaixei minha cabeça rindo e ouvi sua comemoração. Levantei meu olhar para ele, que tocou a ponta do meu nariz.

— Uma pena que nunca tive uma conversa descente com ele. Nem pus medo nele — Gray balançou a cabeça, chateado.

— Você por medo em alguém? Pai! Você não mata nem uma mosca — ele gargalhou.

— Ele te trata bem? — assenti, sentindo meu coração se apertar.

— Preciso te contar uma coisa — me remexi, desconfortável — Eu e Arthur nós... Não é de verdade.

Grayson ficou em silêncio alguns segundos mas logo abriu um sorriso acolhedor.

— Ah, eu sei. Pais sabem quando o filho está gostando de alguém e na primeira e única vez que ele foi em casa você não gostava nem um pouco dele — Sorri — Mas, agora seus olhos brilham só de eu falar o nome dele.

— Isso é mentira!

— Artur — ele gargalhou — Eu falei! Brilhou.

Suspirei, colocando meus cotovelos na cama.

— Desculpa por ter mentido.

— Tudo bem, não precisa pedir — beijou minha mão — Toda mentira tem um fundo de verdade, lembra de eu falar isso? A verdade da mentira de vocês é o amor.

Não respondi, deixei que ele me contasse sobre todas as coisas que meu gato fez que fez minha mãe surtar. Sofá rasgado, bicho morto dentro de casa, sapatos mijados e por mais que aquelas histórias fossem repetidas já que Cadu nunca aprendia eu ri como se fosse a primeira vez com medo de ser a última vez que eu fosse ouvir da boca de meu pai.

Meu pai era o rei dos conselhos e não sei se eu sobreviveria sem ele.

— Por que não quer fazer a cirurgia? — Grayson fez careta.

— Na verdade, eu vou. Só queria te fazer mais uma vez.

— Não fala isso, pai — meu corpo tremeu e meu coração de apertou dentro do peito.

— O médico já me alertou de tudo e eu sei que é minha hora.

— Não, por favor, não — ele chorou. Abracei-o e derramei todas as lágrimas que eu achei que eu não tinha mais.

— Eu te amo, muito, mais que tudo na vida — beijou minha testa — Marquei a cirurgia para hoje, daqui três horas.

A cirurgia foi longa, longa demais para meu gosto. Fiquei todo o período na sala de espera do hospital com Milene, que me abraçou o tempo todo sem eu pedir. Saiu do meu lado apenas para fazer uma ligação mas logo estava aguentando toda aquela melancolia que saia de mim.

Mesmo já esperando a notícia, doeu demais quando recebi.

Meu mundo se abriu sob meus pés e um flashback de memórias passou na minha mente e mesmo me sentindo despedaça, eu me levantei e fui até minha mãe consolando-a. Me mantive forte mesmo sabendo que meu interior clamava para libertar a dor que meu peito estava sentindo.

Com ajuda de Milene, arrumei toda a papelada e preparei um velório simples para a manhã seguinte.

Já se passava da meia noite quando cheguei em casa e corri para meu quarto depois de deixar minha mãe dormindo em seu.

Milene ainda ficou resolvendo algumas burocracias quando me lancei debaixo do chuveiro almejando que a água levasse minha dor.

Eu sabia que aquela madrugada eu não ia conseguir dormir.

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