18 | rune

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A grade se desprendeu das laterais do bueiro, as mãos ágeis de Brooke fazendo o mínimo de ruído para qualquer coisa que pudesse espreitar por ali.

O estomago de Rune embrulhava com o cheiro pútrido de carniça e peixe podre, o odor pairando no ar abafado – e até formava uma névoa quase translucida com tudo aquilo. Ela engoliu a saliva salgada; provavelmente vomitaria em algum momento depois que saíssem dali. Deveria ter tomado algum remédio para ânsia.

Rune abaixou o olhar; uma centopeia rastejou próxima de seus pés, as antenas grossas se remexendo. Ela sentiu um calafrio – era complicado ter empatia por insetos com tantas pernas.

— Aqui é cheio dessas pragas – sussurrou Brooke à sua frente, seus passos cuidados sobre o chão irregular, gosmento e sujo. — Mas não sobrevivem por muito tempo. São mais frágeis do que a gente com o contato de matéria-escura.

Rune comprimiu os lábios, observando as paredes curvadas do bueiro como um túnel. Tinha considerado entrar ali de máscara, como sua tia havia pedido também, contudo, as garotas do clube tinham entrado naquele lugar duas vezes e saíram ilesas – não que aquilo significasse alguma coisa. Não podia se arriscar tanto com o contato com a matéria-escura, mas tinha ido preparada – roupas que cobriam a pele exceto pelo rosto, cabelos bem amarrados e luvas feitas por isolantes térmicos que não a impediam de usar a alquimia. Seu projeto da produção de anéis com ignição e que respondessem aos círculos e símbolos alquímicos estava quase completo – e torcia para que pudesse termina-lo mesmo com a investigação do bueiro em andamento.

Rune olhou para o rifle pendurado nas costas de Brooke. Ela e as outras garotas – até mesmo Leif – tinham uma quietude impressionante, como panteras numa floresta à noite, apenas os olhos brilhando. Christopher era o mais silencioso, porém. Parecia bem à vontade perto delas, embora Kahi e Scarlet estivessem em outro grupo. Era como se ele sentisse falta da presença delas, mas não avançava demais. Observava, trocava algumas palavras, como se a mera presença delas fosse o suficiente.

Rune abriu um sorriso. Era isso – apenas a presença, mesmo que sem palavras, já bastava.

Seu sorriso desmanchou-se devagar quando seu olhar captou símbolos nas paredes de cimento escuro. Os símbolos já a acompanhavam desde que colocara os pés dentro do bueiro, contudo, a legibilidade deles era mais intensa, embora um pouco gasta. Rune franziu as sobrancelhas e puxou do cinto de ferramentas seu bloco de notas e um lápis, anotando tudo o que seu cérebro processava, os dedos fazendo o possível para acompanha-lo.

Espere. Os símbolos... havia um padrão neles. Círculos fechados, os símbolos arcaicos dispostos dentro deles como se fossem uma contagem.

Rune sentiu a pele formigar e os batimentos desacelerarem.

Eram símbolos alquímicos.

— Brooke – Rune tateou no ar até tocar nas costas da garota. – Espera.

— Olha, não temos muito tempo – a voz dela se elevou um pouco, e Rune a sentiu se afastar. – Eu odeio esse cheiro e estou começando a odiar espaços estreitos.

Rune escutou o passo seguinte de Brooke pisar em algo molhado como uma poça d'água – e os círculos da parede se acenderam em rubro.

Um urro ecoou pelo bueiro, chegando até as garotas como um toque no rosto. Brooke sacou o rifle, apontando para o túnel além, escuro, e Rune começou a dar passos para trás, sentindo a pele sob a roupa pesada suar. Brooke murmurou alguma coisa para ela, mas não conseguiu entender.

Their war, our curse - FBTG Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora