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A luz se condensava em sus pálpebras fechadas, deixando o mundo do lado de dentro de seus olhos com um manto avermelhado. Zoey bocejou, grunhindo, rolando para o outro lado da cama. O aroma de café da manhã lhe dava as boas-vindas. Rosquinha salgada, leite com achocolatado. Talvez chantilly, mas ela não conseguia sentir o aroma do quarto.

Ainda.

Zoey abriu um sorriso, franzindo o nariz enquanto tentava abrir os olhos, amolecendo os braços ao lado do corpo, os pés quentes sob o cobertor pesado. O dia seria mais quente do que os anteriores, um arco de saída da primavera e a porta de entrada para o verão ainda tímido.

Seus olhos se abriram, o brilho da luz do sol que atravessava as fibras da cortina azul-violeta da janela entreaberta se a estrela quisesse fazer companhia à lua que já se foi. Ela desviou o olhar para as outras estrelas que pendiam do teto inclinado do quarto – estrelas de cinco pontas que seriam acesas após voltarem da ilha.

Zoey suspirou, levantando-se devagar da cama, o cabelo como uma bola de lã enorme emaranhada atrás da cabeça. Ela pegou o celular, acendendo a tela; ainda era de manhã. Bom, ela sempre acordava nas manhãs de seu aniversário, o que lhe dava a oportunidade de fazer mais coisas antes que o dia acabasse, apesar de que estaria só começando ao irem até o Mercador de Desejos.

Seus dedos encontraram o contato de Lucca e ligou para ele. Seus pais tinham liberado o celular enquanto não terminassem aquela história toda de jogo.

E aí? – Lucca atendeu depois de dois toques. – Você não deveria estar dormindo? É o seu aniversário, Holmes.

Zoey sorriu.

— Sempre acordo cedo nesse dia. Você está bem? A Kira...

É, ela está – a voz de Lucca era tranquila. – Ela fez mais alguns exames ontem à noite e estão colocando a prótese.

Zoey enrolou um fio descosturado do cobertor no dedo indicador. Tinha recebido a notícia no dia anterior, e ficou preocupada caso o amigo tivesse outro surto por causa do ataque. Mas fora ele que ligara para ela com voz de choro. Zoey comprimiu os lábios. Queria ter saído correndo até o hospital para ficar com ele.

Hein?

— Hum? – ela piscou. – O quê?

Lucca riu, um som calmo.

Tudo bem se eu passar aí para irmos ao festival?

— Ah, tá. Sim, sem problemas – Zoey franziu as sobrancelhas. – Mas e Kira?

Ela é teimosa, então exigiu que dessem alta para ela após os testes com a prótese. Vai estar no festival com Nell

Oi, Zoey alguma-coisa! – a voz de Vincent atravessou a de Lucca. – Fiquei sabendo que hoje é seu aniversário. Parabéns! O dong-saeng preparou uma coisa que−

A voz dele foi abafada, uma risada de Lucca em seguida. Zoey não se segurou e riu também.

A gente se vê depois, então?

— Tudo bem – Zoey olhou para as estrelas penduradas. – Mande melhoras para Kira.

Ela encerrou a chamada, passando o polegar distraído na tela lisa que se apagou. O plano de ação tinha sido abortado depois do incidente com a General, e aparentemente nada acontecera com Christopher também. Era aniversário dele, e Zoey mal tinha tocado naquele diário desde que lhe fora entregue dias antes. Ela se levantou da cama, indo até a escrivaninha, fitando a capa de couro flexível. O rapaz não tinha se aproximado mais, o que era compreensível; afinal, ele estava trabalhando com Rune em seu porão alquimista. Na verdade, não tinha o visto mais desde que ele desaparecera da janela do hospital quando aquele monstro de matéria-escura lhe atacara. Um arrepiou percorreu a coluna de Zoey só de lembrar.

Their war, our curse - FBTG Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora