24 | kira

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Ela tentou não revirar os olhos. Apenas soltou um suspiro exasperado, caminhando em direção aos dois seres rancorosos na calçada da Ordem.

Kira olhou para o relógio no pulso, a brisa gelada de final de tarde esvoaçando seus cabelos, e agradeceu por estar com o uniforme de combate para aquecer a pele. Aquelas meninas aparentemente não tinham senso de compromisso, e ela estava sem paciência para poder retrucar com elas.

A garota mais baixa de cabelos claros encontrou com seu olhar, um sopro de acidez que logo substitui-se por gentileza. Se Kira não soubesse a aversão que toda aquela turminha tinha por ela e por toda a Ordem, julgaria aquilo como falsa simpatia.

— Distância do prédio, preferência pela sombra do que pelo calor do sol – Kira sorriu para a menina; Lisa, ela se lembrava, e voltou para a outra, Brooke. – Não sabia que vampiros sequer existiam.

— Preferimos não se misturar com a índole de vocês. – Brooke cruzou os braços, erguendo o queixo. Era impressionante o contraste de roupas entre ela e a mais baixa. – Precisamos de um acesso a um mapa.

— Ah? – Kira sorriu com ligeiro deboche. – Espero que não estejam desperdiçando o meu tempo.

Brooke emitiu um tch, enquanto Lisa observava o prédio da Ordem.

— Você deve saber sobre a história do bueiro – a garota com olhos afiados prosseguiu, a irritação relevando-se em seu sotaque forte romeno. – Voltamos lá para ir mais além e fomos atacados por matéria-escura. Rainhart especula que há um alquimista morando por lá, e queremos o mapa do subterrâneo daquela floresta. É a floresta de Courcelette. Fica em Shannon.

Kira franziu as sobrancelhas; o nome lhe era familiar.

— Certo – Kira se virou – Não posso deixa-las nesse vento gelado, e entregar um mapa de arquivo confidencial a crianças não é muito seguro do lado de fora. O pai de vocês deve saber muito bem disso.

Ela não esperou a reposta de nenhuma das duas e seguiu para de volta do prédio, ouvindo os passos das meninas atrás de si. Atacados por um monstro de matéria-escura em um bueiro. O nome da floresta era como um eco de dor, mas Kira não sabia exatamente em qual lugar a memória residia em sua mente. Além disso, aquelas meninas eram perspicazes – procura-la para verificar um mapa de uma floresta da cidade. Bom, era esperado que tudo o que houvesse de estranho rondando Quebec tivesse ligação com a Ordem. E para recorrerem diretamente a Kira deveria ser pela ausência de Lucca para poder fazê-lo.

Kira e as meninas atravessaram as portas do prédio, o barulho de passos para lá e para cá, de telefonemas chegando e do falatório contido de visitantes e Caçadores que perambulavam pela recepção. Ela as guiou até sua sala, observando o incomodo visível na curvatura da boca pintada de batom vermelho-escuro de Brooke. Lisa parecia apenas apreciar as prateleiras.

— Fiquem à vontade. Há café e chá na mesa, caso sintam fome.

Kira fechou a porta, respirando fundo. Ficar de olho em crianças era trabalhoso demais.

Ela abandonou o corredor de sua sala dobrando uma esquina, entrando em uma encruzilhada para seguir um outro corredor dentre a teia de aranha de mais corredores, cumprimentando alguns colegas de trabalho no caminho. Era reconfortante a sensação de saber que Vincent não estava no prédio para se deparar com ele e correr o risco de receber uma torrente de perguntas e flertes, embora este último parecesse mais reprimido desde a noite em que dormiu na casa do homem. Não que ela estivesse sentido falta das investidas dele, porém, Vincent parecia abatido demais com a ideia de que Lucca ia para sua casa só para tentar acalmar as próprias sensações para poder flertar com ela. Que tipo de hyung ele era pensando desta forma?

Their war, our curse - FBTG Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora