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Seu dedo cutucou a marca de queimadura que rodeava sua barriga como um cinturão, a mancha dos dedos daquele outro braço da criatura de matéria-escura em sua pele como se tivesse encostado em ferro ardente. A doutora – Faye, ela se lembrou – dissera que ficaria tudo bem; não era uma queimadura grave e que deixaria apenas algumas marcas depois de algum tempo.

Zoey soltou um suspiro, cobrindo a barriga com a blusa e erguendo os olhos para o espelho do banheiro.

— Zoey – seu pai apareceu na porta do banheiro, os cabelos emaranhados. Ele apontou para a própria testa. – Temos que trocar o curativo.

Zoey fez um biquinho que seu pai imitou, as sobrancelhas erguidas seguido de uma risada, e ambos caminharam até a cozinha, o cheiro do café desabrochando da caneca no fogão. Ela sentou na cadeira, observando Noah mexer no celular enquanto mordia um pedaço de torta.

— Vocês não vão fazer nada depois da aula, certo? – perguntou Nina tirando a caneca de metal do fogão, despejando o café em uma xícara.

— Meus dias de folga são nas terças, mãe – Noah murmurou.

— Eu sei, mas temos que tratar de alguns assuntos – ela olhou para Zoey com aquele olhar suspeito de mãe. – Aliás, filha. Acho que a General gostaria que soubesse disso.

Sua mãe retirou um papel dobrado da calça de pijama xadrez, entregando-a Zoey. Ela franziu as sobrancelhas enquanto seu pai desgrudava o curativo de sua testa, e abriu o papel. Palavras estavam escritas numa caligrafia bonita que não era dela, um alivio correndo pelo peito.



Eu não fui uma amiga o suficiente para Lucca.

Obrigada por ter sido. Sei que continuará ao lado dele.

Kira.



Zoey respirou fundo, olhando para o nome de Kira.

— Quando isso...

— Foi no dia em que você saiu correndo para ajudar Lucca. – Nina se debruçou na mesa, um sorriso por trás da xícara manchada de tinta. – Você nunca me contou muito sobre ele, e só conhecíamos Rune até então. Foi uma das ligações que fizemos junto ao brasão da Ordem.

— Sua mãe deveria ser detetive, não acha? – seu pai ajeitou o curativo limpo em sua testa, abrindo um sorriso.

Zoey olhou para o papel outra vez. Será que era por isso que tinha a levado até em casa? Com todas aquelas perguntas sobre decisões...

— Ela é tão estranha... – Zoey fez uma careta.

— Não tanto quanto você – debochou Noah. Zoey mostrou a língua para ele.

— Bom – Nina olhou para todos da mesa. – Ainda é muito cedo para dizer que tudo o que vimos e conversamos ontem ainda foi processado por completo, mas precisamos conversar com a General sobre a responsabilidade dela para com essa história. – Ela abriu um sorriso. – Afinal, ela também decidiu guardá-la para si.

Zoey e Noah se encararam. Ai, merda.


*


Zoey continha um sorriso meio nervoso, um frio brincando na barriga dela como se achasse graça da situação. Claro que ela nunca imaginaria que iria até a Ordem junto aos pais para falarem do mesmo assunto que ela e os outros vinham discutindo há semanas – e muito menos a importância da participação deles com isso tudo.

Their war, our curse - FBTG Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora