epílogo | você ou aquele lá?

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A ponta do graveto de Rune afundou na areia, sua mão curvando-se para fazer um segundo círculo. Noah era o próximo, então ele completou o rosto do boneco de neve não com um outro círculo, mas com uma linha em ondinhas. O rosto do boneco era de uma simpatia de uma criança tímida e meio medrosa.

Lucca pigarreou, puxando uma linha no topo da cabeça do boneco de neve na areia, um cabelo. Os três permaneciam agachados no jogo de completar o mesmo desenho, enquanto Nina andava para um lado e outro balbuciando palavras em polonês, enquanto Matthew tentava acalma-la com seu jeito perdido.

Rune pressionou os dedos no graveto anguloso, respirando fundo quando o coração começou a acelerar. Ela tinha vontade de sair correndo ao redor da ilha para dispersar os pensamentos, até mesmo a irresistível vontade de olhar para trás para dar uma espiadinha para além da entrada do Outro Lado – assim como ela, Noah e Lucca tinham nomeado aquele lugar. Todos ali eram horríveis para dar nomes às coisas.

Mas demonstrar que também estava prestes a puxar os cabelos não parecia uma boa ideia quando a mãe de Zoey estava prestes a gritar aos quatro ventos que eles estavam demorando demais.

— Tenho que contar uma coisa. – disse Lucca.

Rune ergueu o olhar para ele; sua testa estava franzida para o boneco de neve, como se aquela figura fosse o normal naquele mundo e eles as peças erradas.

— Conta.

— Mana me beijou.

Rune olhou para o sorriso em V do boneco.

— Que? – Ecoou Noah com os lábios meio curvados. – Aquele cara que foi com a Zoey? Você é gay?

Aquilo era novidade.

— Não – Lucca balançou a cabeça, o olhar vago. – Talvez Mana também soubesse que não, mas esse não é o ponto.

Ele puxou outra linha para o cabelo do desenho.

— Como não é o ponto sendo que você não é gay e ele é? – Noah estava quase sussurrando, olhando de relance para os pais a alguns metros deles. Rune ergueu uma sobrancelha com um sorriso para ele; ela tinha visto o garoto com rapaz mais alto antes de irem para lá, ambos muito confortáveis um com o outro.

— Não importa se ele é gay – disse Lucca com receio na voz. Rune franziu o cenho para ele. – Estávamos comendo espetinho enquanto olhávamos para o céu, conversando sobre ele querer um cachorro. Disse que a vida de um cão é tão efêmera quanto a nossa... – ele inclinou a cabeça para o lado. – Então aconteceu. Mas o ponto é que os lábios dele diziam como uma despedida.

Diziam? – A voz de Noah saiu esganiçada, chamando a atenção dos pais. Sua garganta oscilou. – Como pode saber se-

— Eu já beijei antes, mesmo que não fosse garotos – Lucca suspirou, as sobrancelhas se juntando. – Era um beijo de despedida.

Uma risadinha escapou de Rune antes que ela pudesse conter, desenhando uma linha mais fechada acima do cabelo espetado do boneco, formando um coração.

— Por que ele diria adeus?

— Ou talvez ele soubesse que você não é gay e estava tentando alguma coisa mesmo assim – disse Noah, traçando uma linha angulosa como um raio no meio do coração de Rune. – E então pareceu como uma despedida. Que ele nunca mais vai poder te beijar de novo.

Rune sorriu, sentindo os joelhos arderem por estarem mais de vinte minutos naquela posição.

— Sei como é.

Their war, our curse - FBTG Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora