28 | rune

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*escute à trilha sonora para melhor experiência :]



Qualquer químico que fosse já tentara encontrar a matéria-reversa. Era uma busca tão incansável quanto a cura de doenças – mas os meios eram mais complicados quando não podiam testar em um ser humano.

E porque Rune não queria fazê-lo, ainda assim.

A vantagem – embora ela não quisesse usar desse termo – de observar as reações da matéria-escura em outras substâncias era de que o resultado era similar; plantas murchavam e sucumbiam ao liquido até virarem cinzas. Já em metais a corrosão era um pouco mais devagar, alguns seis segundos a mais para oxidar, enquanto os minérios levavam mais dez – e talvez fosse o motivo para que myaloutiva durasse mais tempo sob a pressão da matéria. Rune se recordou dos rostos fascinados de Zoey e Lucca, logo após o amigo ter enxugado as lágrimas depois de contar sobre a habilidade de manipular o espaço, da existencia de myaloutiva e do símbolo que, ao desenhar próximo aos pés, poderiam dar saltos muito maiores — quase como se pudessem voar. Ela sorriu com a lembrança.

Sua mãe tinha muitos estudos com base em outros sobre reverter a matéria-escura em seus registros, a maioria testando em plantas – então os de Rune e Christopher não seriam diferentes. Estavam no porão outra vez, enquanto Lisa e Brooke estavam com Leif e Kira arquitetando um plano contra o alquimista.

Rune colocou uma gota do liquido escuro em um ramo de lavanda banhada em uma solução aquosa e deu um passo longo para trás, Christopher sussurrando myaloutiva no mesmo instante. Era perigoso estar apenas de luvas, máscaras e um visor para se proteger de reações com matéria-escura, e já que a barreira aguentava mais tempo a corrosão, se houvesse uma explosão ali, ambos ainda estariam seguros – mas o porão não estaria inteiro.

Rune engoliu em seco, os olhos vidrados enquanto o liquido consumia o ramo. Aquela solução tinha sido um teste bem-sucedido de sua mãe – a corrosão por matéria-escura demorava por volta de dez a quinze segundos −, Christopher e Rune adicionando pó de lápis-lazuli. O cristal condutor de Scarlet e Misha, segundo o rapaz, resistia mais tempo ao liquido preto ao invocarem myaloutiva, por pelo menos sete segundos a mais que o ouro de Brooke e Lisa e a prata de Christopher − e logo mais testariam-na comprimido em uma capsula ligada a três circulos alquimicos. O liquido preto engoliu o ramo como uma besta faminta, morrendo junto à planta em cinzas escuras.

— Vinte e um segundos. – disse Christopher ao apertar um botão do cronometro na mão enluvada.

Rune abriu um sorriso, um alivio abraçando-lhe o peito. A barreira pareceu evanescer-se com um desfoque tenue, e ela correu para anotar o resultado do teste.

— Seria mais seguro se testassemos a próxima etapa lá fora – disse Christopher, a voz soturna.

Rune murmurou um sim; coligar circulos alquimicos – principalmente os de fogo e eletricidade – eram tão perigosos quanto uma explosão, ainda mais em um espaço pequeno como aquele.

Seus olhos desviaram para os simbolos rabiscados nas margens do caderno. Eram os simbolos dos círculos de contagem e invocação que encontrara no bueiro, mas não ousara testar nenhum caso chamasse a atenção do alquimista. Ela paralisou. Merda. Tinha esquecido de avisar a Zoey e Lucca sobre a cera que comparara com a das cartas.

— O que houve? – Christopher se aproximou, erguendo o visor.

— Não, eu só... – ela piscou, passando a mão na testa que começava a ficar oleosa. – Se o alquimista for o mesmo remetente das cartas que estavam sendo enviadas a Zoey... E se ele parou de envia-las, sendo que nós fomos atacados por ele...

Their war, our curse - FBTG Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora