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Zoey olhou para a palma da mão com a ponta da faixa laranja grudada na pele. Ela puxou um pouco para cima, desgrudando, a marca vermelha pela pressão. Já não sentia tanta dor – basicamente nada de puxão ou um espasmo −, mas seus dedos logo acima tremulavam levemente como se tivesse feito força demais. Abriu um sorriso ao cerrar o punho. Faltava pouco para se recuperar, e mesmo com os dedos tremendo, talvez pudesse treinar no quarto. Yiriz havia saído para ficar um pouco com Pyxis, enquanto Mana e Lucca ainda buscavam pelos... óbitos.

Zoey recostou as costas nas de Noah que pedalava com a bicicleta de volta para casa, passando ao lado de um grupo de Caçadores com a van estacionada ao lado de uma calçada, conversando entre si. Tinha decidido não pensar muito a respeito sobre o que significava os óbitos, o que aquela palavra trazia consigo; memórias do que havia visto lá no salão da ilha. Preferiu não tocar no assunto com os próprios pensamentos, nem mesmo quando o nome de Morrighan batia na cabeça como alguém querendo entrar em casa. Contudo... ainda havia aquele diário que Christopher lhe dera.

Zoey trincou o maxilar, afastando o rosto dele também. Ambos – o rapaz e o diário – eram lembretes constantes de que uma história acontecera antes de ela nascer. De onde viera, de tudo. Não. Para com isso. Nem o diário e menos ainda saber que Morrighan fora sua mãe não ajudaria em nada com o jogo. Apenas a memória dela contava, apenas para saber como tudo antes de a Maldição surgir podia ajuda-los a entender.

Noah parou com a bicicleta em frente ao apartamento, o movimento tão tranquilo como as árvores oscilando para lá e para cá com o vento ameno. Zoey saiu da garupa e olhou para a rua, um trio de crianças brincando com um gato branco do outro lado, mães conversando entre si enquanto observavam os filhos. Por que tudo parecia... alheio à todas as coisas? A tudo o que acontecia com eles, com ela? Ninguém estava atacando. Chuva não caia – nem mesma de sangue.

Estão esperando. Zoey respirou fundo. Não é de hoje. Tiraram a música do mundo; está tocando o silêncio.

Estão esperando.

— Zoey.

Ela piscou e olhou para o irmão que pegava a bicicleta nos braços, apontando com o queixo a entrada do prédio.

— Vai abrindo a casa. Eu já subo.

Zoey assentiu e seguiu para dentro, o hall da entrada vazio – apenas a cantoria do recepcionista ecoando detrás do balcão. Desde que Orla havia morrido, a sindica demorara para achar alguém que fosse capaz de coordenar a recepção, então duas pessoas passaram por ali antes do atual recepcionista. Marco era um homem parrudo, os óculos que deslizava do nariz pequeno e achatado. Zoey comprimiu os lábios; não queria atrapalhar a cantoria dele. Virou-se e subiu a escada, suspirando ao abrir a porta de casa. Queria poder falar com Rune sobre esse silêncio, mas ficar sem o celular... Ah, talvez pudesse, sei lá, barganhar com os pais? Lavar a louça do Noah pelo resto das semanas do castigo em troca do aparelho?

Um arrepiou andou pela nuca, as partículas de pó pairando na visão de Zoey com a clareza dos raios de luz que banhavam e atravessavam a sala e a cozinha. Seus olhos dispararam aos cômodos; vazios. A geladeira e a mesa estalaram, o som do refrigerador ressonando em seguida. Fechou a porta com cuidado, evitando respirar alto demais.

Tem alguma coisa aqui.

Zoey caminhou cautelosa até o corredor, observando os quartos. Olhou para a escada que levava até o seu e subiu, um rangido quando abriu a porta e, com a metade do corpo para dentro do cômodo, observou o lado da escrivaninha e da prateleira, seguindo para a janela aberta, cortinas esvoaçando. Será que Yiriz...

Their war, our curse - FBTG Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora