Capítulo 79

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Era sempre uma visão maravilhosa, as falésias brancas de Dover.

Bernard Bouvier pensava sorrindo, ao observar o litoral do convés  do Courageux, o pequeno vapor de passageiros que fazia a travessia entre Calais e Dover diariamente.
Mesmo já tendo visto os lindos paredões duas vezes antes, brilhando ao sol da manhã, mesmo assim era espetacular.

Torcia para que seus tios, o Visconde e a Viscondessa Whiteshore, não tivessem esquecido que ele chegava hoje para passar a temporada com eles, matando a saudade da familia, visitando a Grande Exposição e principalmente, fugindo de um terrível casamento arranjado que sua mamá fazia questão que ele honrrasse, mas que ele, definitivamente, recusava-se a fazê-lo.

Considerava-se demasiadamente jovem para isso, casar-se.

Além de não ter o mínimo de afeto pela sua pretensa noiva.
Não que Odette fosse de todo desagradável, mas não conseguia imaginar-se casado com ela. E na verdade, com ninguém.
Seu coração era um terreno estéril para o sentimento chamado 'amor romântico'.
 
E as vezes, temia não vir a senti-lo nunca.

Bernard julgava, que para ter uma família, viver com alguém, era lógico ser este o primeiro requisito: amar esta pessoa.
Como poderia vir a passar o resto de sua vida com alguém a quem não amava? Por quem não sentia paixão.
Não. Preferia permanecer solteiro do que impor infelicidade a uma jovem inocente e a si mesmo.
Que seus pais o perdoassem, mas não faria isso.
Mesmo que significasse ter de ficar em definitivo na Inglaterra, longe da família.

Matthew Parrish estava ansioso, sentado em sua carruagem, para receber seu querido primo.
Desde o dia anterior o aguardava para levá-lo, o mais rápido e o mais confortável possível para Londres e a Mansão Archer Parrish.
Faziam já uns bons anos que não se viam, mas sempre teve no primo um bom amigo e companheiro de traquinagens, porque sendo próximos em idade, gostavam das mesmas brincadeiras e estripulias.
Com certeza, eles se divertiriam muito juntos novamente, e aproveitariam a temporada sem dúvidas.

Estava distraído em seus pensamentos, quando reparou que um rapazola magro e alto se encaminhava em direção a carruagem, com um servente do cais a passar trabalho, empurrando o carrinho de bagagens logo atrás, aonde Matthew pode ver dois grandes baús.
Reconhecendo o primo, Matthew saltou da carruagem e acorrendo até ele em longas passadas o envolveu em um abraço fraternal.

Comment était le cousin du voyage? —Matthew inquiriu sorrindo.

Très bon cousin! Très bon... —Bernard respondeu divertido.

—Pronto para ir direto, ou desejas descansar um pouco? —Matthew perguntou atencioso —Não sei se você lembra primo, mas demoraremos umas oito horas para estarmos em Londres.

—Eu lembro sim Matt, mas prefiro ir logo e descansar com minha família, tudo bem? —Bernard respondeu com seu inglês carregado de sotaque.

—Por mim está primo! Vamos colocar seus baús na carruagem—Respondeu Matt sorrindo, e sinalizou para que Nigel, seu cocheiro ajudásse o rapaz do porto, que com certeza, não conseguiria colocar os baús sozinho.

—O primo importa-se de levarmos esse baú —Disse Bernard sinalizando para o baú de couro verde —Dentro da carruagem?

—Claro que não primo! —Matthew respondeu —São presentes de tia Berenice para mamá? Louças ou cristais?

Non... —Bernard disse com um meio sorriso —É um aparelho portátil para retratos instantâneos!

—Sério!? —Matthew exclamou —Primo, isso fará toda diferença em nossa temporada, pode acreditar!

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