A Resistência | Coroa em Chamas (Livro 3)

Capítulo 61

— É só um jogo de paintball, a gente se diverte e treina ao mesmo tempo — Kyle insistiu ontem, enquanto os outros o apoiavam. — O que poderia dar errado?

Estávamos exaustos dos treinos e reuniões, e achamos que poderíamos tirar algumas horas, as últimas antes de colocarmos os planos em ação, para nos distrairmos um pouco.

— Deixa as crianças se divertirem — Gabe disse para o Nathan com cara de entediado, enquanto Kyle o fuzilava com o olhar.

— Eu posso organizar o treinamento — Vitor se ofereceu. — Descobri um lugar muito massa para fazer de campo de jogo.

Sarah se voluntariou para ajudar, e Nathan olhou para a subtenente May, que sorrio concordando com a iniciativa.

— Certo — Nathan aprovou. — Mas será treinamento de desarmamento, imobilização e sinalização tática.

— Não vai ser paintball? — Jess perguntou chateada.

— Vai ser mais divertido, Jess — Vitor garantiu empolgado e, junto com a Sarah, explicou como seria.

Parecia divertido.

Além disso, o que poderia dar errado?

A pergunta do Kyle continua ecoando na minha cabeça.

Olho a minha volta nesse momento e vejo a resposta à ela.

Tudo poderia dar errado.

Tudo deu errado.

O sol ainda está alto, e um feixe de luz, que entra pela estrutura de ferro do teto abobadado já sem qualquer resquício de acrílico, ilumina o corredor que nos separa do Thomas.

Há uns cinco minutos, olhei para ele que sorrio para mim. Ele começou a vir na minha direção e, ao espreitar antes de sair da sala onde estava para se certificar de que não havia ninguém do outro grupo do treinamento, recuou.

Thomas fez um sinal tocando no antebraço direito, e meu cérebro rapidamente vasculhou o ensinamento teórico dos últimos dias, encontrando a palavra correspondente.

Inimigo.

O sorriso desapareceu e vi a expressão dele se converter em preocupação enquanto ele fazia um gesto para eu recuar.

Instintivamente, escondi-me na penumbra da sala onde estava, e então vi cinco pessoas passarem pelo espaço entre nós.

Gandolas e calças camufladas, coturnos pretos, coldres, quepes e carabinas empunhadas.

Soldados.

Penso no Vitor e na Sarah preparando o treinamento e colocando esse fator surpresa para adicionar adrenalina, até notar um detalhe que faz minhas pernas perderem a força e um vazio tomar conta do meu estômago.

A cor do uniforme camuflado é verde escuro, muito diferente do azul da Resistência.

Soldados da Matriz.

Respiro devagar tentando manter a calma, enquanto indico para a Sarah ficar em silêncio e me aproximo sorrateiramente dela.

— Isso não faz parte do treinamento — ela diz com a voz calma acabando com a minha esperança de serem nossos soldados disfarçados. — Isso não é uma simulação.

Mais cedo, dividimo-nos em dois grupos e espalhamo-nos pelas entradas do que foi uma estação de trem antes da guerra com térreo, piso inferior e trilhos. Nas partes mais abertas, foram colocados obstáculos e barricadas.

Nosso objetivo era encontrar e imobilizar os elementos do outro grupo. O objetivo deles era tornar o nosso trabalho difícil enquanto completavam pequenas missões.