Capítulo 27

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Ouvir o Kyle e o Thomas no banheiro foi... estranho.

Ora eles riam, ora o Thomas gemia de dor ou chamava um palavrão para logo a seguir rir de novo. Em uma das vezes, até ponderei entrar no banheiro para ver se estava tudo bem, mas apenas bati e perguntei do lado de fora. O Thomas disse para eu não me preocupar. Já o Kyle falou que eu poderia entrar se quisesse ter certeza.

Óbvio que não entrei.

Continuo andando de um lado para o outro torcendo para que eles estejam evitando molhar os locais com pontos. Leio os rótulos dos remédios que estão na mesa ao lado da maca. Releio o prontuário e volto a andar de um lado para o outro.

Minha ansiedade só acaba quando ouço a porta do banheiro se abre.

Corro meus olhos pelo Thomas que agora está com uma camiseta de manga curta cinza e um short preto. Sinto um alívio quando consigo ver pela cor do curativo na perna que ele está seco. Ao contrário do Kyle, que está encharcado.

— Você não estava mentindo — Thomas diz, assim que o ajudamos a se sentar na maca — foi doloroso demais, mesmo que o meu enfermeiro tenha sido delicado — completa, e o Kyle pisca para o Thomas antes de dar uma risada.

— Eu descobri minha vocação, acho que você vai ter um colega de profissão, Em — fala.

— Que maravilha, porque agora eu vou precisar de ajuda. E Thomas, eu não falei que o banho seria doloroso. Na verdade, a parte dolorosa vem agora.

— O que?

— Retirar os curativos impermeáveis — respondo —, é isso que vai doer.

— Você está brincando, não é? — Apenas balanço a cabeça negativamente e vejo o Kyle se segurando para não rir. Thomas respira fundo, talvez para tentar aceitar a ideia e então continua: — Tudo bem, mesmo que eu tivesse entendido antes, eu teria tomado banho da mesma forma.

— O que a gente não faz pelo boy, não é? — Kyle provoca e tenho a sensação que ele já descobriu tudo sobre o Thomas e o Philip.

— Você não quer deitar? — pergunto, enquanto conecto o soro de novo ao cateter. — Talvez seja melhor para esse procedimento.

— Não, estou bem assim — fala seguro. — Já estou farto de ficar deitado.

— Tudo bem. Vou fazer o da perna primeiro e depois você deita e tiramos o do abdômen, combinado?

Ele concorda e peço ajuda do Kyle para colocar a perna ferida na maca.

Retiro a ponta do curativo e começo a puxar lentamente.

— Sabe por que a gente estava rindo no banheiro? — Kyle pergunta, e eu faço que não com a cabeça, tendo quase certeza que não vou gostar de saber. — Descobrimos que temos algo em comum com você. Na verdade, eu, ele e a Anna.

— O que? — pergunto tentando não demonstrar muito a curiosidade que ele me fez sentir agora.

— Nós já pegamos uma surra de você. — Sinto o meu rosto aquecer e não consigo conter uma risada, o que me faz tirar as mãos da perna do Thomas. — Me diz uma coisa, você já bateu no Lucas também?

— Para, Kyle, eu preciso me concentrar — digo tentando ficar séria para voltar a retirar o curativo.

— Agora eu estou curioso, quero saber.

— Não, nunca. Por que eu bateria no Lucas?

— Sei lá — ele ri. — E no Nathan?

Dou uma risada involuntária já entregando a minha resposta.

A Resistência | Coroa em Chamas (Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora