01. O Pelúcio Fugitivo

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O frio naquele dia rasgava a pele de quem habitava a tão turbulenta cidade de São Paulo.

A fumaça impregnando os pulmões, o cheiro de pão fresco, as enormes construções de concretos pichadas e o trânsito ensurdecedor completavam o cenário tão caótico.

Mas Harry estava acostumado com aquilo, de certa forma.

O menino praticamente explodiu o despertador na parede, quase arruinando o projeto de ciências patético que tinha criado para a feira que teria dali algumas horas.

Olivia o teria matado se aquele projeto fosse em dupla. Todos sabiam o quanto Harry era um imenso preguiçoso e irresponsável com tudo que — não — tinha coragem de fazer.

Harry levantou da cama grogue, batendo na quina do armário com força total e praguejando de forma que podia ser ouvido em todo apartamento e seus moradores.

— Que merd...

— Olha o PALAVREADO! — repreende sua mãe, Lílian, que já estava com a roupa para mais um turma no Hospital Estadual.

— Mãe, por que eu não posso estudar de tarde? — reclamou Harry, enfiando dois pão de queijo na boca e lançando um olhar irritado a seu pai que ria.

— Porque não tem ninguém para ficar com você — repetiu a mesma resposta, revirando os olhos pelo drama adolescente que era obrigada a suportar.

— Vamos lá, campeão! Semana que vem nós vamos viajar para a África do Sul — incentiva James, revirando os olhos quando Harry fez um bico adorável quando ficava contrariado.

— Todos nós sabemos que só você gosta de viajar de avião — debochou Harry, pegando um pouco de leite e bebendo do gargalo, ganhando um olhar irritado de Lilian. — Poderia existir um método que você simplesmente aparece no lugar.

— Seria mágico — concorda Lílian. — Mas você está atrasado e eu definitivamente não tenho tempo de fazer um debate aqui sobre os prós e contras de estudar de manhã.

Harry deu de ombros, achando no mínimo que sua mãe tinha ficado louca.

Todas as vezes que iriam iniciar uma discussão sobre um futuro próximo, Lílian fazia uma debate analisando os prós e contras e cada um colocava na balança o que pesava mais.

Foi assim que ela conseguiu fazer eles se mudarem para o Brasil.

— Carro. Agora — ordena no tom autoritário que nem mesmo James conseguiu refutar.

Harry desce as escadas do apartamento com rapidez, observando o seu vizinho, Jorge, fazendo uma luz verde sair das mãos enquanto desenhava algo na porta de entrada.

Suspirou longamente, balançando a cabeça e tentando colocar na cabeça que aquilo não era real. Era apenas algo que a mente dele tentava fazer enxergar.

"Não é real. Não é real", sussurrava o garoto para si mesmo.

Harry Potter tinha dezessete anos e era um menino esquizofrênico. Foi diagnosticado com 8 anos quando viu pequenos seres andando pelo jardim e jurou ser gnomos enquanto seus pais não conseguiam ver.

Além de ouvir vozes sem sentido na sua cabeça e sua cicatriz arder de vez em quando, Harry era um garoto nos parâmetros do normal.

Existia apenas algumas vezes em que ele via luzes, vassouras voando ou jurava que tinha avistado um bicho muito estranho formado por esqueletos trotando pelo céu.

— Você viu algo? — pergunta cautelosamente Lílian, já familiarizada com os episódios.

Harry mordeu os lábios, negando rapidamente e ouvindo um suspiro vindo de sua mãe, evitando o olhar acusatório que ela lhe lançava.

Elementais e o Herdeiro de Godin | DRARRY (HIATUS) Onde histórias criam vida. Descubra agora