Capítulo 27

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— Eu particularmente achei que demorou a acontecer. — Mari disse no momento em que Gizelly sentou em seu consultório. A morena largou o chapéu de qualquer jeito sobre a mesa e bufou. — Estão nisso há meses.

— Nisso?

— Gi, é óbvio que tem algo acontecendo entre vós, qualquer um pode ver. Até de longe.

— Não há nada acontecendo entre nós.

— Não minta para mim, mulher.

Gizelly cruzou os braços, sentindo—se acuada como uma criança pega fazendo algo que não deveria estar fazendo. Mas era uma analogia injusta, afinal ela estava fazendo o que queria fazer e o que Rafaella queria que ela fizesse. Ou tivesse feito, como era o caso. Não poderia ter nada de errado, certo?

— Bom, eu não sei o que dizer.

— Podes dizer a verdade. Estás apaixonada.

— Que diabos? — Gizelly disse com tanto pânico que quase gritou. Só ouvir aquela palavra lhe dava calafrios; estar enamorada significaria que ela não teria para onde fugir. E ela sempre precisava fugir em algum momento. — Estás louca.

— Não digo que é amor, minha cara amiga, mas que é algo, é. Não consegues manter as mãos longe dela.

— Desejo.

— Paixão.

A morena revirou os olhos.

Mari ajeitou o jaleco enquanto levantava da cadeira, deu a volta em sua mesa e sentou—se na beirada dela, no espaço entre o móvel e Gizelly. A morena a encarou com os olhos brilhantes demais; Mari reconheceu o medo ali, o pânico e o pavor. Conhecia sua melhor amiga o suficiente para saber quando não insistir.

— O que vais fazer, então?

— O que há para fazer?

— Toma—lá como sua. Dizer para ela que queres estar com ela. Dizer—lhe a verdade.

— Não há uma verdade. — Gizelly ainda tentou mentir, mas Mari a conhecia bem demais, e só o olhar severo que a médica lhe lançou, fez a morena encolher os ombros. — Não há o que fazer.

— Tu consegues realmente me dizer que não há nada? Que tu não tens nenhum sentimento por ela?

— Não. Não consigo. — Ela confessou. — Mas não é amor.

— Não precisa ser. Mas é alguma coisa, certo?

Gizelly se recusou a responder.

— Ela também sente o mesmo.

— Qué?

— Rafaella sente o mesmo que ti. Eu lhe garanto.

Desde que pusera os olhos em Rafaella havia suspeitado que ela era uma mulher apaixonante. Se aproximara dela de forma honesta e inocente. E de todos os seus pecados, roubar a inocência de Rafaella tinha sido o maior; não tinha esse direito. Apertou os olhos com os dedos, suspirou longamente.

Mas também não tinha tido escolha alguma, a necessidade, o desejo, e todo o resto que sentia por Rafaella não havia lhe dado outra opção. E a própria Dama do Leste também não havia lhe deixado pensar em outra coisa com aqueles olhos esmeraldinos.

Estar apaixonada... Ela quase riu sozinha. Aquele pensamento era tão perigoso quanto era possível, especialmente para Rafaella. As coisas que Gizelly amava sempre acabavam destruídas no fim das contas.

Gizelly encarou a médica, com toda a curiosidade exposta nos olhos castanhos. Mari sorriu e colocou o chapéu de Gizelly sobre os próprios cabelos pretos. A morena encarou a médica e descruzou os braços, apoiando as mãos sobre os joelhos dobrados.

A regra de ouro (Adaptação GiRafa)Onde histórias criam vida. Descubra agora