Gizelly acordou de um pesadelo, completamente assustada e ofegante. Odiava quando os tinha, era sempre a mesma visão, uma arma apontada, destravada, a sensação de impotência, o calor rasgando seu corpo e o sangue escorrendo como suor em dia de sol. Seus olhos estavam desfocados quando ela sentou na cama, pronta para pular do colchão macio demais e sair correndo, mas algo a segurou no lugar. Algo, que no caso nada mais eram do que as mãos trêmulas de Rafaella. Ela não precisava estar completamente ciente para reconhecer aquele cheiro incrível — o mesmo que povoava sua mente dias à fio.
— Oye. — A voz suave da Dama do Leste soou em seus ouvidos. — Foi apenas um pesadelo. — Ela continuou falando naquele tom que certamente poderia ser usado para apaziguar, ou até mesmo findar, guerras. — Estou aqui contigo. — Ela se aproximou até estar no colo de Gizelly, completamente sentada sobre suas pernas. — Estou aqui.
Gizelly suspirou longamente. Agarrou os pulsos de Rafaella. A mulher enlaçou as pernas em seu quadril e encaixou—se em seu corpo — não havia nada de sexual, Gizelly não estava acostumada com aquilo. Deveria estar querendo correr as mãos pelo corpo de Rafaella, e o fez, mas não era com desejo incontrolável, e sim pela vontade de estar perto. De tocar a mulher. Precisava daquilo como precisava respirar.
— Respire comigo, meu bem.
A menção carinhosa fez Gizelly piscar bem devagar — não queria perder o contato visual com aquela mulher. Era a primeira vez que não usava sua pistola para se livrar de um pesadelo; era a primeira vez que acordava de um pesadelo e continuava na cama. Eram muitas primeiras vezes de uma só vez.
Gizelly deveria estar em pânico.
O certo era sair da cama, montar em Kato e ir até outra cidade, cavalgar para tão longe que não lembraria seu nome; faria um serviço para alguém, mataria um homem sem importância, envolver—se—ia em uma briga, qualquer coisa. Aproveitaria.
— Estou contigo. Estou aqui. Não vou lhe soltar. Venha, respire comigo. — A voz calma de Rafaella continuava enevoando seus sentidos, tirando tudo o que havia de ruim ali. Principalmente de dentro dela. — Estou contigo, meu bem.
E Gizelly foi gradativamente se acalmando.
Sua respiração foi suavizando à medida que Rafaella acariciava seu rosto, e então a pistoleira descobriu que estava respirando junto com Rafaella, no mesmo compasso, no mesmo tom. Aqueles olhos mais verdes do que o mar. Dizem que no mar as águas verdes são mais rasas que as azuis, mas Gizelly estava se afogando neles, intensos, preocupados e cheios de carinho. Gizelly nunca pensou que poderia sentir carinho no olhar de alguém, mas o olhar de Rafaella não mentia por nada.
E ela foi se sentindo confortável como nunca.
E apavorada.
— Isso. — Rafaella disse como se aprovasse o fato de Gizelly estar respirando; manteve seus dedos acariciando o rosto da morena enquanto sorria para ela. — Viu? Foste muito bem. Mantenha os olhos em mim, por favor.
— Qué?
— Estás mais calma agora.
O peito da morena parecia comprimido, era uma sensação que ela estava odiando, como se não houvesse espaço o suficiente para o seu coração bater. Como se estivesse de frente para um revólver; como se estivesse na mira de algo muito perigoso. Por isso, afastou Rafaella de seu colo e saiu da cama em um pulo. A Dama do Leste cobriu—se apenas parcialmente com o lençol e encarou—a com os olhos muito curiosos.
Gizelly sustentou seu olhar.
— Devo ir, Duquesa.
— Por quê?
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A regra de ouro (Adaptação GiRafa)
FanficO sangue apache era o que corria nas veias de Gizelly Bicalho, junto com muito álcool. A mistura desses a tornavam uma mulher indomável e sem lei alguma. Conhecida nas redondezas pela velocidade de seu revólver, Gizelly era temida até por homens no...