Capítulo 30

1K 109 27
                                    

Gizelly  acordou de um pesadelo, completamente assustada e ofegante. Odiava quando os tinha, era sempre a mesma visão, uma arma apontada, destravada, a sensação de impotência, o calor rasgando seu corpo e o sangue escorrendo como suor em dia de sol. Seus olhos estavam desfocados quando ela sentou na cama, pronta para pular do colchão macio demais e sair correndo, mas algo a segurou no lugar. Algo, que no caso nada mais eram do que as mãos trêmulas de Rafaella. Ela não precisava estar completamente ciente para reconhecer aquele cheiro incrível — o mesmo que povoava sua mente dias à fio.

Oye. — A voz suave da Dama do Leste soou em seus ouvidos. — Foi apenas um pesadelo. — Ela continuou falando naquele tom que certamente poderia ser usado para apaziguar, ou até mesmo findar, guerras. — Estou aqui contigo. — Ela se aproximou até estar no colo de Gizelly, completamente sentada sobre suas pernas. — Estou aqui.

Gizelly suspirou longamente. Agarrou os pulsos de Rafaella. A mulher enlaçou as pernas em seu quadril e encaixou—se em seu corpo — não havia nada de sexual, Gizelly não estava acostumada com aquilo. Deveria estar querendo correr as mãos pelo corpo de Rafaella, e o fez, mas não era com desejo incontrolável, e sim pela vontade de estar perto. De tocar a mulher. Precisava daquilo como precisava respirar.

— Respire comigo, meu bem.

A menção carinhosa fez Gizelly piscar bem devagar — não queria perder o contato visual com aquela mulher. Era a primeira vez que não usava sua pistola para se livrar de um pesadelo; era a primeira vez que acordava de um pesadelo e continuava na cama. Eram muitas primeiras vezes de uma só vez.

Gizelly deveria estar em pânico.

O certo era sair da cama, montar em Kato e ir até outra cidade, cavalgar para tão longe que não lembraria seu nome; faria um serviço para alguém, mataria um homem sem importância, envolver—se—ia em uma briga, qualquer coisa. Aproveitaria.

— Estou contigo. Estou aqui. Não vou lhe soltar. Venha, respire comigo. — A voz calma de Rafaella continuava enevoando seus sentidos, tirando tudo o que havia de ruim ali. Principalmente de dentro dela. — Estou contigo, meu bem.

E Gizelly foi gradativamente se acalmando.

Sua respiração foi suavizando à medida que Rafaella acariciava seu rosto, e então a pistoleira descobriu que estava respirando junto com Rafaella, no mesmo compasso, no mesmo tom. Aqueles olhos mais verdes do que o mar. Dizem que no mar as águas verdes são mais rasas que as azuis, mas Gizelly estava se afogando neles, intensos, preocupados e cheios de carinho. Gizelly nunca pensou que poderia sentir carinho no olhar de alguém, mas o olhar de Rafaella não mentia por nada.

E ela foi se sentindo confortável como nunca.

E apavorada.

— Isso. — Rafaella disse como se aprovasse o fato de Gizelly estar respirando; manteve seus dedos acariciando o rosto da morena enquanto sorria para ela. — Viu? Foste muito bem. Mantenha os olhos em mim, por favor.

— Qué?

— Estás mais calma agora.

O peito da morena parecia comprimido, era uma sensação que ela estava odiando, como se não houvesse espaço o suficiente para o seu coração bater. Como se estivesse de frente para um revólver; como se estivesse na mira de algo muito perigoso. Por isso, afastou Rafaella de seu colo e saiu da cama em um pulo. A Dama do Leste cobriu—se apenas parcialmente com o lençol e encarou—a com os olhos muito curiosos.

Gizelly sustentou seu olhar.

— Devo ir, Duquesa.

— Por quê?

A regra de ouro (Adaptação GiRafa)Onde histórias criam vida. Descubra agora