Capítulo 16

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Mais uma semana que Rafaella estava exausta. Mais de um mês em Albuquerque e aquilo era seu lar por completo, mas tudo a estava deixando exausta e com vontade de sumir. Não apenas Daniel e seu machismo insuportável, mas principalmente o fato de Gizelly sumir como se ela nada importasse. A Dama do Leste ficava infinitamente confusa; afinal, como lidar com aquela selvagem que acariciava seus cabelos ao ensina–lá a atirar e no segundo seguinte sumia com seu cavalo pelo horizonte e simplesmente não voltava mais? Rafaella não estava acostumada a lidar com seres humanos, portanto, era difícil prever. E Gizelly era quase um enigma.

Com sua nova rotina, dividida entre cuidar de suas terras e dar aulas na escola com Manu, Rafaella havia encontrado tempo para escrever seu romance. Estava fadada a terminar; por vezes não conseguia pensar em mais nada, sonhava com ele, sentia cada pedaço dele por seu corpo enquanto dormia. E por vários dias acordava desesperada para colocar sobre o papel. Como naquela maldita sexta feira de lua cheia.

Por vezes encontro–me a pensar sobre a complexidade humana e como suas relações são frágeis se assim as deixarmos ser. Outrora me encontro sorrindo ao lembrar–me de como a mexa de meu cabelo cai despretensiosa, como se a espera de seus dedos ásperos. E então as mãos me afagam o rosto, me tomam a cintura e o resto do corpo. São minhas mãos, mas a carne é diferente da minha, como se fôssemos o encontro de dois em um. Como se fôssemos duas almas em um só coração.

Suspirou ao colocar o papel de volta junto aos outros, estava formando um caderno aos poucos. Gizelly havia lhe dado o conjunto inteiro, feito à mão. Era tão bonito quanto possível, e exatamente o que Rafaella gostaria de receber; diferente das joias que Daniel havia mandado para comprar seu perdão pela última briga. E por sinal, eles andavam brigando tanto...

Rafaella não conseguia pensar em como seria feliz daquela forma, com um homem como aquele ao seu lado. E toda vez que olhava para Mari e Manu pensava que era aquilo o que queria para si, um amor daqueles, forte, arrebatador e incontrolável. Queria o que não poderia ter, o que talvez não fosse para ela.

Mas queria.

Queria tanto que chegava a doer.

A lua brilhava nos céus quando aqueles olhos encontraram os meus, escuros como o céu acima de nós. Intensos como o carvão que crepita e queima sob o fogo do desejo. Estava perdida antes mesmo de pensar no que poderia acontecer comigo; fui arrebatada em queda livre, como um riacho forte em noites de tempestade. Não chovia do lado de fora, mas entre nós era um tornado descontrolado. E ninguém queria controlar nada.

Rafaella largou a folha novamente, assoprando a tinta que secava contra o papel macio. Guardou–o junto com os outros só mais uma vez, jurando que seria a última daquele dia. Tinha tanto o que fazer; havia prometido para Mari que encontraria com ela para preparar uma surpresa para Manu, afinal, o aniversário de casamento merecia uma comemoração especial.

O que Rafaella não esperava era que depois de uma semana inteira sem dar qualquer resquício de notícia, e até ignorando–a pela cidade, fosse encontrar Gizelly na loja da senhora Waters. E a mulher estava com a morena insuportável nos braços; agarrada a ela. Ivy falava perto de seu ouvido, com aquela voz esganiçada e o jeito espalhafatoso.

A morena, sem perceber que Rafaella estava no mesmo lugar que ela, afastou–se de Ivy pela milionésima vez, estava cansada das investidas da mulher; apesar de saber que elas eram necessárias, uma vez que ela precisava encontrar algum descanso para sua mente que insistia em lembrar–se do sorriso de Rafaella. Só que não conseguia focar em nada; toda vez que pensava em começar a deitar com uma mulher, era Rafaella que vinha à sua mente; diabos, a mulher estava em todos os cantos.

– Achei que a Selvagem da sua amiga fosse nos ajudar.

Mari quase riu do desdém de Rafaella.

– Gizelly por vezes é impossível mesmo

A regra de ouro (Adaptação GiRafa)Onde histórias criam vida. Descubra agora