Capítulo 5

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Sozinha em casa, enquanto a noite caía, Rafaella descobriu latas de feijão, banha e uma garrafa de uísque; pressionou a mão contra o estômago que reclamava de falta de alimentação e decidiu que os feijões iriam servir por enquanto. Tudo o que lhe restava era descobrir como fazer aquele forno de aparência além de todas as dúvidas, funcionar. Talvez com um pouco de madeira e fósforos... Mas onde teria? Ela descobriu alguns galhos singelos na caixa de lenha e uma caixa de fósforos.

Demorou pouco mais de meia hora de frustração, combinada às palavras que as freiras reprovariam com veemência, mas ela conseguiu acender o forno. E esquentar seus feijões. Recusou o uísque pelo bem do seu estômago, e comeu tudo que era possível das duas latas que pareciam antigas.

Sua vida agora era uma aventura, ela pensou sorrindo. Do tipo que ela contaria para Manoela, sua melhor amiga na Filadélfia; isso se algum dia reencontrasse a pequena, a última coisa que sabia sobre ela era que havia fugido para morar com a mulher que amava. E isso era tudo o que Rafaella sabia sobre mulheres que amavam outras mulheres. Não que se importasse com isso, Manoela havia ensinado muito sobre outros meios de ver o mundo. As pessoas se amavam e pronto.

Não precisava de explicação.

E Rafaella era romântica demais para querer explicações sobre o amor. E talvez fosse isso que a incomodasse em toda sua situação com Daniel; não havia amor. Daniel não a fazia querer pular da janela  no meio da noite para encontrá-lo em um beijo fervoroso debaixo da chuva. Na verdade, Daniel não despertava muitos desejos em seu corpo. Ou nenhum, sendo bem sincera.

Mas também, eles não tinham muita convivência antes, talvez fosse tudo uma questão de tempo. Era noiva de Daniel havia tanto tempo que mal conseguia se lembrar de como tudo começara, um cortejo? Ele beijara sua mão? Ela não conseguia se lembrar, mas sentiu o calor dos lábios de Gizelly sobre suas palmas. Esfregou-as na saia que vestia e encarou os dedos muito finos. Daniel deveria despertar algo nela.

Nos romances que ela costumava ler escondida na escola, a heroína era geralmente uma mulher desamparada, uma vítima à espera de um herói destemido e valente; e então o homem aparecia e as balas em seu estômago de tanta vontade. O desejo era nítido e real.

Quase instantâneo.

E ela também não precisava de herói algum.

Nem de heroína, se corrigiu ao pensar em Gizelly.

Em nenhum livro aquela morena selvagem teria sido categorizada como heróica. Embora ela tivesse aparecido exatamente como uma salvadora de sua diligência. Enfrentando os Apaches e salvando Rafaella sem qualquer hesitação. Ela tinha os olhos tão quentes quanto o temperamento, aparentemente, e dificilmente se encaixava no que Rafaella pensaria como heróico. Até porque... Ela nunca pensara em Daniel como seu herói, e o moreno de fato não se enquadrava nos padrões.

Terminou os feijões, com o estômago mais que cheio, e decidiu que precisava se lavar, banhar-se de fato, e o único local possível era o riacho que ficava em sua propriedade. Era seu, portanto desfrutaria. O plano era banhar-se e encher um balde para a manhã seguinte. Era o que faria.

Gizelly observou a Dama do Leste sair da casa com um balde em uma das mãos e o lampião aceso na outra; onde diabos aquela mulher estaria indo? Era óbvio que para o riacho, mas por que naquele horário? Já era tarde da noite e ela estava completamente sozinha naquele lugar. Ela estava casualmente confortável entre duas rochas grandes na propriedade que agora era de Rafaella; com carne defumada e uísque o suficiente em seu alforje para sobreviver pelo menos três dias.

Não que fosse ficar três dias ali, na verdade não conseguia se lembrar nem do motivo pelo qual havia ficado. A Dama do Leste não era seu problema, não era nada, aliás. E ainda assim.... Lá estava ela. Sorrateiramente indo de encontro à Rafaella apenas por precaução. Ficaria por perto caso algo acontecesse.

A regra de ouro (Adaptação GiRafa)Onde histórias criam vida. Descubra agora