Capítulo 28

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Rafaella achou que era uma ótima ideia trocar de roupa para esperar Daniel aparecer em sua casa. Escolheu uma saia um pouco mais arrumada e uma blusa com mangas que iam até seus cotovelos, trançou uma parte dos cabelos para fazer um penteado bonito e foi para a varanda esperar o noivo aparecer. Já estava quase na hora que os dois haviam combinado previamente. Odiou—se por esperar que Gizelly aparecesse a qualquer momento, e odiou—se mais ainda por querer que a Selvagem cruzasse o horizonte em sua direção. Ela não merecia.

A diligencia de Daniel se aproximou de longe.

Rafaella esperou por instantes infinitos e então o noivo estava parado em sua frente, beijou—lhe as duas mãos e então sentou—se ao seu lado na varanda. Cada um em sua cadeira confortável. Rafaella suspirou e virou para ele.

— Acho que precisamos ter uma conversa séria, Daniel.

— Diga, querida.

— Antes de qualquer coisa, gostaria de agradecer por tudo o que fizestes por mim.

Daniel arqueou uma das sobrancelhas.

A bengala que usava como apoio, apenas para parecer mais elegante foi apertada entre seus dedos, com muita força. Ele sabia exatamente o que a noiva estava querendo dizer — ou começar a dizer — com aqueles olhos verdes demais, sabia desde que encontrara com ela horas antes. Sentia o cheiro de Gizelly nela inteira, quase como se fosse uma marca — e talvez fosse mesmo.

— Sabes que nossas visões de mundo andam completamente opostas uma da outra, nossas visões sobre a vida e sobre o futuro.

Ele ficou em silencio, a deixando falar — por mais que estivesse imaginando suas mãos em volta daquele pescoço lindo e delgado que ela tinha, como estavam envolvendo sua bengala.

— Nossas diferenças andam irreconciliáveis, tem tempo demais, creio. Sei que lhe dei minha palavra, mas não poderei cumprir com ela.

— Como é?

— Não poderei casar—me contigo. Nem o quero, de fato.

— Não queres? — A voz dele saiu arrastada, quase como se ele estivesse embriagado. — Não me amas?

— Não. — Ela disse com toda a sinceridade o possível. — Tenho carinho, afeto, por ti, Daniel. Mas não é amor. Nunca foi. E creio que nunca poderá ser. Conhecemos—nos jovens demais.

— Sei que és a mulher de minha vida.

— Não temos convivência o suficiente para que saibas disso.

— Sei que és.

— Sei que não sou. E tampouco acredito que sejas o amor da minha vida. Então é simples. Não podemos nos casar assim, iriamos nos odiar.

O homem largou sua bengala no chão e Rafaella suspirou.

— Nunca odiaria a ti.

— Odiaria me casar com um troglodita como tens se mostrado ser. Em nossas cartas costumavas ser tão doce. E hoje nem se lembra de pequenos detalhes sobre mim.

Daniel se ajoelhou ao chão, de frente para Rafaella.

— Não sou um troglodita. — Disse ao segurar a mão dela entre as suas. A mão dele era macia demais, suave até. — Sou um homem justo e fiel aos seus valores.

— Valores esses, com os quais eu não compactuo. — Ela disse ao retirar suas mãos das dele, mas colocou—as sobre o rosto dele. Acariciou—o ternamente. — Menos ainda concordo. Não é isso o que eu quero para mim.

— Tu és o que quero para mim.

— Mas tu não és para mim.

Ele segurou as mãos dela em seu rosto, mantendo—as no lugar que queria. Ela o olhou e seus olhos estavam marcados de alguma espécie de dor — que ele não identificou, e tampouco se importou de fato.

A regra de ouro (Adaptação GiRafa)Onde histórias criam vida. Descubra agora