Rafaella achou que era uma ótima ideia trocar de roupa para esperar Daniel aparecer em sua casa. Escolheu uma saia um pouco mais arrumada e uma blusa com mangas que iam até seus cotovelos, trançou uma parte dos cabelos para fazer um penteado bonito e foi para a varanda esperar o noivo aparecer. Já estava quase na hora que os dois haviam combinado previamente. Odiou—se por esperar que Gizelly aparecesse a qualquer momento, e odiou—se mais ainda por querer que a Selvagem cruzasse o horizonte em sua direção. Ela não merecia.
A diligencia de Daniel se aproximou de longe.
Rafaella esperou por instantes infinitos e então o noivo estava parado em sua frente, beijou—lhe as duas mãos e então sentou—se ao seu lado na varanda. Cada um em sua cadeira confortável. Rafaella suspirou e virou para ele.
— Acho que precisamos ter uma conversa séria, Daniel.
— Diga, querida.
— Antes de qualquer coisa, gostaria de agradecer por tudo o que fizestes por mim.
Daniel arqueou uma das sobrancelhas.
A bengala que usava como apoio, apenas para parecer mais elegante foi apertada entre seus dedos, com muita força. Ele sabia exatamente o que a noiva estava querendo dizer — ou começar a dizer — com aqueles olhos verdes demais, sabia desde que encontrara com ela horas antes. Sentia o cheiro de Gizelly nela inteira, quase como se fosse uma marca — e talvez fosse mesmo.
— Sabes que nossas visões de mundo andam completamente opostas uma da outra, nossas visões sobre a vida e sobre o futuro.
Ele ficou em silencio, a deixando falar — por mais que estivesse imaginando suas mãos em volta daquele pescoço lindo e delgado que ela tinha, como estavam envolvendo sua bengala.
— Nossas diferenças andam irreconciliáveis, tem tempo demais, creio. Sei que lhe dei minha palavra, mas não poderei cumprir com ela.
— Como é?
— Não poderei casar—me contigo. Nem o quero, de fato.
— Não queres? — A voz dele saiu arrastada, quase como se ele estivesse embriagado. — Não me amas?
— Não. — Ela disse com toda a sinceridade o possível. — Tenho carinho, afeto, por ti, Daniel. Mas não é amor. Nunca foi. E creio que nunca poderá ser. Conhecemos—nos jovens demais.
— Sei que és a mulher de minha vida.
— Não temos convivência o suficiente para que saibas disso.
— Sei que és.
— Sei que não sou. E tampouco acredito que sejas o amor da minha vida. Então é simples. Não podemos nos casar assim, iriamos nos odiar.
O homem largou sua bengala no chão e Rafaella suspirou.
— Nunca odiaria a ti.
— Odiaria me casar com um troglodita como tens se mostrado ser. Em nossas cartas costumavas ser tão doce. E hoje nem se lembra de pequenos detalhes sobre mim.
Daniel se ajoelhou ao chão, de frente para Rafaella.
— Não sou um troglodita. — Disse ao segurar a mão dela entre as suas. A mão dele era macia demais, suave até. — Sou um homem justo e fiel aos seus valores.
— Valores esses, com os quais eu não compactuo. — Ela disse ao retirar suas mãos das dele, mas colocou—as sobre o rosto dele. Acariciou—o ternamente. — Menos ainda concordo. Não é isso o que eu quero para mim.
— Tu és o que quero para mim.
— Mas tu não és para mim.
Ele segurou as mãos dela em seu rosto, mantendo—as no lugar que queria. Ela o olhou e seus olhos estavam marcados de alguma espécie de dor — que ele não identificou, e tampouco se importou de fato.
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A regra de ouro (Adaptação GiRafa)
FanficO sangue apache era o que corria nas veias de Gizelly Bicalho, junto com muito álcool. A mistura desses a tornavam uma mulher indomável e sem lei alguma. Conhecida nas redondezas pela velocidade de seu revólver, Gizelly era temida até por homens no...