Capítulo 19

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(Conteúdo sensível)

Rafaella nunca pensou que seria agredida em toda a sua vida. Na verdade, já chegou a imaginar que poderia acontecer por sua língua afiada uma vez ou outra; as freiras cansavam de lhe dizer que ela deveria cuidar de sua língua — algumas vezes de forma mais brusca do que a outra. De qualquer forma, ela nunca imaginou que seria agredida por alguém em quem deveria confiar. Deitada em sua cama, enquanto o sangue secava contra seu rosto, ela suspirou. Tudo estava lhe doendo.

O rosto, o corpo, a alma.

Até seu coração estava doendo com a mágoa que sentia; os roxos já estavam espalhando—se por sua pele, alguns mais pretos que os outros, alguns maiores, outros pequenos. Algumas marcas de dentes finos e retos. Ela ainda sentia a mão agarrando seu cabelo e arrastando—a para o quarto.

Como foi jogada com força sobre a cama, como se ela fosse um saco inútil de qualquer coisa. Ainda conseguia sentir as mãos de Daniel sobre seu corpo onde as mãos de Gizelly  estiveram, mas ao invés de dar prazer, apenas machucaram. No lugar de fazê—lá suspirar, fizeram— na gritar.

Gritos mudos.

Tampados por uma mão que parecia quase afeminada.

Cada soco que levou, as tonturas, o couro do cinto rasgando sua pele, cada momento de uma tortura que pareceu durar infinitos, ainda parecia reverberar por seu corpo. Além de cada pulsar de dor que estava sentindo. Ficou encolhida em sua cama, abraçando as próprias pernas; não queria se mover, tinha medo que a dor fosse piorar e tornasse o pesadelo ainda mais real.

Pelo menos sua virgindade se mantivera intacta.

Então nem tudo estava totalmente perdido.

Gizelly  saltou de seu cavalo ao chegar às terras de Rafaella, andou até a varanda e ficou parada no lugar. Era estranho que Dama do Leste não estivesse lá, uma vez que ela sempre costumava estar esperando—a com o café fresco. E aquele sorriso no rosto... Gizelly não conseguira parar de pensar nela a noite inteira, e enquanto a madrugada chegava o gosto dela não saia de seus lábios; era quase como se pudesse sentir tudo formigar em seu corpo.

Ela não ficava daquela forma tinha muito tempo — nunca antes, se fosse ser totalmente sincera. Tudo era novo. Mas uma sensação boa. E assustadora ao mesmo tempo; como era possível ela querer beijar Rafaella de novo e querer sair correndo para longe dela o mais rápido o possível na mesma intensidade? Gizelly nunca fora dada a ter medos.

E se os tinha, enfrentava—os.

Mas Rafaella a apavorava como nada na vida.

Ela esperou alguns segundos e então subiu na varanda da casa, bateu na porta algumas vezes, com certa impaciência. Antes de qualquer um aparecer, ela ouviu os latidos do filhote; ele cercou seus pés implorando por carinho. Ela se agachou para segura—lo com delicadeza.

Wapi. — Ela chamou e encostou o focinho do filhote em seu nariz. — Como vai filhote?

Ela o encarou com desconfiança, sentindo que havia algo errado em como ele parecia choramingar. E então Camélia apareceu na porta, encarando—a com seriedade, o que ligou um alerta por todo o seu corpo; ela sentiu até mesmo o couro cabeludo se arrepiar. Deixou o filhote no chão.

— O que aconteceu?

— Não sabemos.

— Como assim?

— Rafaella está no quarto. — Ela disse com toda a calma que podia. — Não quis sair. Disse que precisava ficar sozinha.

— Qué?

A regra de ouro (Adaptação GiRafa)Onde histórias criam vida. Descubra agora