Capítulo 20

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Quando a noite chegou, Rafaella acordou no aconchego mais confortável de toda a sua vida; nunca havia dormido nos braços de alguém antes, e Gizelly ainda estava lá, envolvendo—a, protetora e — até um pouco possessiva — de um jeito extremamente carinhoso. Ela cantarolava algo em uma língua que Rafaella não entendia, portanto supôs que deveria ser de sua língua materna. Tudo o que ela queria era saber tudo sobre a selvagem, cada pedaço que era possível, estava extremamente curiosa; Gizelly não era nada parecida com os índios que já cruzaram seu caminho, e muito menos com nada do que ela lia nos jornais na época de escola. As freiras certamente reprovariam a amizade delas, e Rafaella não ligava nenhum pouco.

Gizelly lhe dava tanta segurança que ela só queria mais.

Mas ao mesmo tempo lhe amedrontava; não sabia nada dela além de que tinha sangue apache e era a mão mais rápida de todo o Oeste, e provavelmente do Leste e de todo o continente se duvidasse. Era no mínimo curioso que a morena, com as mãos tão calejadas, marcadas, tivesse dedos tão delicados ao lhe acariciar os cabelos; fazia Rafaella se perguntar se era uma regalia direcionada apenas para ela- e torcia para que sim.

- Posso lhe fazer uma pergunta?

- Não acabaste de fazer?

- Outras?

- Plural.- Ela constatou e deu um sorrisinho; Rafaella se moveu por cima de seu corpo e apoiou as mãos embaixo do próprio queixo para encarar Gizelly nos olhos. E diabos, aqueles olhos verdes demais... Gizelly engoliu seco. - Diga duquesa.

- Gostaria de saber mais sobre a senhorita.

Gizelly pressionou os lábios em uma fina linha, o que realçou o furinho que ela tinha no queixo.

- Acho que passamos do momento de nos tratar com formalidade, não é?

- Sim, creio que sim. - E aquilo fez Rafaella sorrir de novo.

Gizelly afastou uma mexa de cabelo que caía sobre o rosto delgado de Rafaella.

- Estás se sentindo melhor?

- Muito melhor.

- O que achas de tomar um banho quente? Posso ver com Camélia para prepararmos pra ti.

- Estás fugindo de mim.

A morena deu uma risada quase sarcástica.

- Se tem uma coisa que eu não consigo fazer, duquesa, é fugir de ti. Estás em toda parte.

- Não quero que fujas.

E foi ali que Gizelly soube que precisava fugir.

- O que queres saber? Podemos conversar sobre isso enquanto tomas banho?

- Está bem. - Sabendo que pelo menos alguma coisa estaria ganhado, Rafaella resolveu levantar da cama, mas seus braços pareciam adormecidos. Por isso, Gizelly levantou primeiro, e ergueu Rafaella da cama. - Obrigada.

- Não por isso. - Ela deu um sorrisinho e voltou a calçar as botas.  Colocou o chapéu sobre os cabelos.

- Estás indo embora?

- Vou chamar Camélia.

- Por que precisa se vestir desta forma?

- Estou sempre vestida dessa forma.

- Parece que estás a ir embora.

Rendendo-se à voz doce de Rafaella, Gizelly tirou o chapéu e as botas, colocou-os junto no chão perto da cama. Sorriu para Rafaella e saiu do quarto à procura de Camélia. Encontrou Matthew na cozinha, ele estava sem camisa, completamente suado e sorrindo.

A regra de ouro (Adaptação GiRafa)Onde histórias criam vida. Descubra agora