Capítulo 36

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Gizelly ouviu o fogo antes mesmo de vê—lo; levantou a cabeça como um lobo que pressente o inimigo. Estava a caminho das terras de Rafaella quando viu a primeira chama e pôs Kato a galope o mais rápido que era possível. Poucas vezes em sua vida havia sentido medo, daqueles que atravessava sua garganta e ardia no peito; odiava o sabor dele. Enquanto surgia, em sua mente, a imagem de Rafaella presa dentro da casa em chamas, ela sentiu o pavor. Outra imagem, voltou à sua cabeça, uma velha imagem de fogo, tiros e choro. Era o medo lhe comandando.

O medo, o ódio e uma angustia que jurou não sentir nunca mais. Porém, suspirou de alivio ao ver que era apenas o estábulo em chamas, e não a casa. Ao notar dois cavaleiros escondidos atrás das rochas, freou Kato, sacando seu revólver no mesmo segundo. Eles não iriam escapar.

E então escaparam.

Por que Gizelly viu Rafaella estendida no chão. E ela era tudo o que importava. Saltou da cela e correu até ela, enquanto Kato cavalgava até Kansas como se ela também precisasse dele. Rafaella estava pálida como a lua e cheirava à maldita fumaça. Gizelly achou que conseguiria lidar com o medo, mas o desespero que assolou seu peito a impediu de pensar com clareza.

— Duquesa. — Ela chamou ao sacudir a mulher em seus braços. Ajoelhou—se com ela, puxando—a para seu peito. — Ora, diabos, responda—me.

Ao colocar a mão no peito da moça, sorriu por sentir as batidas de seu coração; mesmo que estivessem menos fortes do que ela gostaria. Ergueu—lhe a cabeça com gentileza, na esperança de encontrar os olhos verdes, mas tudo o que sentiu foi o sangue quente escorrer em seus dedos, o que fez com que ela sentisse seu próprio sangue ferver com intensidade descontrolada.

— Não ouse morrer agora, Duquesa. Por favor, não podes me deixar, não assim. Não aqui. Por favor, Rafaella. Fique comigo.

Não queria dizer que estava lutando contra o desespero, mas estava, por isso encarou os céus enquanto a fumaça lambia seu rosto e sumia entre as estrelas.

— Ancestrais, levem—me, deixem—na aqui, por favor.

Segurou a mulher com cuidado e levou—a para dentro; precisava colocar a Duquesa em um colchão, qualquer lugar macio e então cuidar dela. Ela estava ferida. Nada mais importava. Derramaria o sangue dos cavaleiros das pedras em outro momento.

— Não podes me deixar assim, Duquesa. Ainda...

Ao colocar a moça deitada na cama que depois elas dividiriam, interrompeu—se, pois precisou respirar profundamente aliviada ao ver que Rafaella respirava com normalidade. Ela estava viva. Gizelly iria sobreviver também.

— Vamos, Duquesa, acorde para mim, por favor. Preciso que me digas o que diabos aconteceu neste lugar. E preciso dos teus olhos em mim antes que enlouqueça—me.

A confissão lhe escapou de forma tão natural que pareceu o motivo exato pelo qual Rafaella começou a abrir os olhos. Gizelly queria ajoelhar aos céus e agradecer, mas apenas apertou Rafaella em seus braços enquanto sentia o desespero aliviando seu corpo. A mulher dos olhos verdes parecia estar desfocada. E demorou pouco mais do que alguns minutos até que ela estivesse respirando e enxergando tudo, como deveria.

— Beba isto.

Gizelly levou o copo aos lábios dela, que bebeu com vontade. O uísque a esquentou por dentro. Mas Rafaella resmungou mesmo assim.

— É horrível, não quero.

— Trará um pouco de cor às suas faces.

De certa forma, o uísque reanimou Rafaella e Gizelly teve que segura—lá para que não saltasse da cama.

A regra de ouro (Adaptação GiRafa)Onde histórias criam vida. Descubra agora