Capítulo 35

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E aí tempo?
Não era você que ficou de resolver
Não foi você que prometeu que ia curar?
Que iria me ajudar a esquecer...

Manuela Freitas

Três meses, doze semanas, tempo suficiente para saber se meu baby é um menino ou uma menina, mas o pesadelo de estar sozinha nessa história ainda não acabou.

Os dias estão passando, mas nada está adiantando, ainda dói, e dói muito, cada dia é mais difícil levantar da cama e fingir que nada está acontecendo, fingir que eu estou seguindo em frente, quando na verdade sinto que estou revivendo todos os dias o mesmo dia infernal sem o amor da minha vida ao meu lado.

Hoje infelizmente tenho que ir em uma premiação representando o haras, acontece a cada cinco anos, eu não queria, mas não pude por ninguém no meu lugar, já que Thomas vai representando a própria fazenda, meu pai vai representando a Big River e meu sogro a fazenda dele. Tem vários prêmios pra todos os tipos de produtores rurais, para todos os tipos de plantações e todos os tipos de criações, só que ali não era meu lugar, eu não deveria estar ali representando o sonho e trabalho que não foi meu.

Me olhando no espelho cheguei a conclusão de que estava bonita, mas não me sentia assim. Meu vestido preto colado marcava minha barriga que estava começando a aparecer, logo eu não conseguiria mais esconder a gravidez e teria que contar para todos que um pedacinho do Andrew está crescendo dentro de mim.

Respirei fundo e caminhei em passos firmes até a mesa onde meus pais conversavam alegremente com Thomas, Carol e os pais de Andrew, tentei sorrir, mas sei que não pareceu sincero, então me sentei na cadeira reservada para mim e tentei participar das conversas entre eles.


Estava tudo correndo bem até a premiação começar e eu ter que ir receber os prêmios que o Andrew conquistou, foi muito difícil, mas nem se compara a situação constrangedora que eu tive que enfrentar quando desci do palco.

- Andrew realmente era sortudo! - um homem de aparentemente uns trinta e cinco anos se aproximou, ele se parecia um pouco com o Andrew, o corpo forte, a barba escura e os olhos, mas tinha uma energia ruim, que me fez ativar o alerta instantaneamente - Além de tudo ainda tinha um avião desses em casa, ual! - ele me olhou de cima a baixo.

- Nunca foi sorte, ele mereceu cada conquista! - respondi fria.

- Você não diria isso se conhecesse a história toda princesa! - ele sorriu malicioso.

- Não me interessa historias contadas por pessoas desconhecidas, agora se me der licença, preciso voltar para a minha mesa! - tentei sair mas ele me segurou.

- Desculpe a grosseria, esqueci de me apresentar, sou Bryan Collins! - meu sangue congelou nas veias.

- Collins? - perguntei confusa.

- Sim, sou primo do seu falecido marido! - parece que ele sabia exatamente o poder daquelas palavras em mim - Eu deveria ter herdado o haras, mas ele foi bem espertinho e influenciou meu avô a deixar para ele!

- Se isso for verdade, deve ter um bom motivo, mas eu não quero ouvir de você! Boa noite senhor Collins! - me afastei antes que ele pudesse me impedir e voltei para mesa onde aparentemente ninguém havia percebido a minha demora.

Eu tentei esquecer esse assunto, mas ele martelava insistente na minha cabeça, comecei a me sentir mal então achei melhor ir embora. Me despedi de todos e sai, mas para a minha infelicidade aquele homem estava do lado de fora, como se estivesse me esperando.

- Sabe priminha, acho que é mais do que minha obrigação te dizer que muitos homens ficaram doidos nos seus cavalos, principalmente depois da premiação, acho que você precisa de alguém pre te ajudar a conciliar tudo isso e não deixar o haras afundar agora que Andrew não está mais aqui pra cuidar de tudo! - ele me seguia enquanto eu dava passos largos em direção a caminhonete vermelha.

- Sou perfeitamente capaz de cuidar de tudo, obrigada pela preocupação! - respondi e ele riu.

- Você é mulher, não tem capacidade pra tocar o haras sozinha, precisa de um homem ao seu lado! - eu ri.

- Eu não preciso de homem nenhum! Me deixa em paz e volta pro inferno de onde saiu - abri a porta do carro, entrei e entrei com raiva.

- Se eu fosse você não falaria assim comigo princesa! - ele sorriu malicioso na última palavra e senti meu estômago revirar - Saiba que nossa conversa ainda não acabou! - ele foi interrompido pelo ronco da minha caminhonete indo para longe dali.

De onde esse cara saiu com essa história toda? E até que parte é verdade? Por que logo agora? Minha mente estava um caos, não que isso fosse uma novidade.

Cheguei no haras, cumprimentei os cachorros que dormiam na varanda em suas casinhas e fui pro quarto. Depois de um banho longo, coloquei um pijama confortável e me sentei na varanda, onde muitas vezes Andrew e eu nós amamos aos olhos da lua.

Acariciei minha barriga e senti uma lágrima correr pelo meu rosto.

- Oi pequeno, ou pequena - tentei - Espero que você não sinta essa mesma tristeza que eu, porque é muito ruim! Mas saiba que eu vou fazer tudo pra que você não sinta falta do seu pai, mesmo que eu nunca aprenda a lidar com isso, não vou deixar você viver com o mesmo! - dei um sorriso fraco - Vou sempre te contar como ele era incrível, e você vai sentir orgulho de ser filho dele mesmo sem o conhecer, ele fazia eu me sentir a mulher mais incrível do mundo! Nunca vou aceitar terminar assim...

Perdi o controle das minhas lágrimas.

- Por que você me deixou Andrew? Por quê? - olhei para o céu embasado pelas minhas lágrimas - Nós ainda tínhamos tanto pra viver, você precisava saber do seu filho, me ajudar a montar o quartinho, escolher o nome, ver minha barriga crescer, me emprestar suas camisas quando eu odiasse cada roupa que eu vestisse! - apertei uma almofada que estava ao meu lado - Você prometeu que nunca mais me abandonaria! Você prometeu cuidar de mim! Prometeu que seríamos felizes! - chorei ainda mais descontroladamente - Eu não sei viver aqui sem você Andrew! Eu não sei viver sem o seu amor, não existe vida sem ter você ao meu lado! - enxuguei minhas lágrimas com a manga do pijama - Só queria acordar e saber que está tudo bem, só queria acordar e ter você de volta!

Chorei por mais alguns minutos em silêncio, depois me deitei e dormi abraçada com uma das camisas dele. Sonhei com ele aqui de novo, acariciando minha barriga e conversando com o bebê. Chorei o resto da noite por não aguentar mais viver com esse sofrimento.

Apaixonado na VeterináriaOnde histórias criam vida. Descubra agora