Capítulo 02

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Remoendo saudade, ruminando dor
Vivo sofrendo, esperando esse amor
Fez um estrago no meu coração
Bagunçou, bagunçou
A vida desse peão

Andrew Collins

Já passava das seis da tarde quando terminei de tratar dos cavalos e vim pra casa. O dia foi cansativo, como todos os outros, trabalhar com cavalos não é uma coisa fácil, ainda mais quando o haras está quase falido.

Entrei em meu quarto, desabotoei minha camisa e fui até a varanda e acendi um cigarro de palha. A pior parte do dia ia começar, mesmo com todo o meu cansaço, dormir é quase impossível desde que aquela maldita foi embora.

Meus pensamentos vagam até o dia em que nos conhecemos. Nunca pensei que aquela menina de salto alto carregando duas malas enormes cor de rosa tiraria a minha paz, meu sossego e meu coração.

Meu sonho sempre foi continuar o legado dos meus avós cuidando desse haras, estava tudo dando certo até meu pai me pedir pra deixar a filha de um amigo dele vir pra cá. Eu deveria ensinar ela a cuidar dos bichos e se tudo desse certo, ela sairia daqui uma pessoa menos fútil. Obviamente não deu certo, ela continua uma patricinha mal educada que só se importa com ela mesma.

Eu juro que não entendo o que aconteceu comigo pra gostar de uma mulher assim, sempre sonhei em achar alguém que gostasse das mesmas coisas que eu e não fosse só pra me agradar ou chamar atenção, mas Megan é totalmente o oposto.

Terminei meu cigarro e fui para o banho, tentando aliviar a tensão com uma gozada, mas não era o que meu corpo queria, ele ainda implorava por ela, mesmo que fosse um simples toque.

Quando eu saí do banheiro, a esperança e encontrar ela em minha cama apareceu. Eu ainda sentia a presença dela no quarto, mesmo meses depois, seu cheiro ainda estava impregnado no ambiente.

Ainda enrolado na toalha, desci para jantar, encontrei um prato no microondas como de costume, deixei ele esquentando e fui procurar algo para beber. Achei um suco de laranja na geladeira e agradeci por Rosa não ter aceitado ir embora junto com os outros funcionários. Trouxe ela da casa de meus pais quando me mudei para o haras, ela sempre cuidou de mim e da nossa casa, eu precisava de alguém de confiança.

Comi e lavei o pouco de louça que eu usei, voltei pro quarto, vesti uma cueca boxer, me sentei na varanda, acendi outro cigarro e voltei a pensar nela.

Acordei no outro dia com alguns raios de sol entrando em meu quarto, não sei exatamente que horas eu vim para a cama e consegui dormir, mas sei que já era bem tarde.

Me troquei, tomei café e fui tratar dos cavalos. As 8:00h eu precisava estar no escritório para entrevistar a possível nova veterinária, ao contrário de Rosa, quando mandei todos os outros funcionários embora, o veterinário foi junto, pois não queria trabalhar em um lugar fracassado. Tenho feito tudo sozinho desde então, meu melhor amigo Thomas sempre tenta me ajudar, mas eu sei que não posso aceitar, ele já tem os próprios problemas para cuidar, não precisa de mais. O ronco alto de uma caminhonete se aproximando me atraiu até a porta do escritório, encostei no batente e agradeci por ter feito isso, porque eu teria caído para trás assim que visse a perfeição que chegou ali.

A porta da S10 vermelha se abriu e um par de botas marrom com detalhes azuis desceu de lá. A mulher vestia um jeans escuro e uma camiseta clara com uma estampa também em tons azuis, mas nada chamava mais atenção que o sorriso meigo que ela carregava nós lábios. Talvez eu tenha a olhado mais do que devia, mas as curvas perfeitas daquele corpo, escondidas atrás dos longos fios castanhos escuros até a cintura, eram impossíveis de serem ignoradas

- Bom dia, é aqui o escritório da fazenda não é? - ela perguntou com uma voz doce e gentil.

- Bom dia, é aqui mesmo! - respondi.

- Sabe se o senhor Andrew está aí? - ela perguntou fechando a porta.

- Sou eu mesmo! - dei um sorriso de canto e ela ficou sem graça.

- Me desculpe! - ela riu - Sou Manuela, é um prazer conhecer o senhor! - ela estendeu uma de suas mãos em minha direção.

- O prazer é todo meu, mas não me chame de senhor - apertei sua mão e sinalizei para que ela me seguisse até meu escritório, ela se sentou em frente a minha mesa e eu comecei as perguntas - O que te fez querer ser veterinária?

- Cresci na fazenda, não consigo me imaginar fazendo outra coisa a não ser cuidar de bichos - ela deu um leve sorriso.

Continuamos conversando por um bom tempo, ela parecia ser perfeita, mas se fosse tão perfeita assim, não teria saído do antigo emprego.

- Você parece realmente muito boa, porque saiu do antigo emprego? - fui direto ao ponto e ela pensou um pouco.

- Problemas pessoais, eu e meu antigo patrão não estávamos mais nos entendendo então eu sai - seus olhos desviaram dos meus pela primeira vez em todo esse tempo, tem alguma coisa a mais nessa história.

- Na carta de recomendação ele falou muito bem de você - seus olhos voltaram rapidamente para os meus, como se não soubesse do que eu havia dito.

- Carta de recomendação?

- Sim, a que você me enviou junto ao currículo - respondi o óbvio.

- Ah, claro! Me perdoe, as vezes eu me esqueço de alguns detalhes - seu olhar ainda parecia confuso, mas acho melhor não me aprofundar nisso, preciso de um veterinário e não posso deixar ela escapar.

- A fazenda Big River cria gado não é? - ela confirmou com a cabeça - Você tem prática com cavalos?

- Sim! Lá tem muitos cavalos pra ajudar com o gado, vira e mexe eu tinha que cuidar de algum, modéstia a parte eu sempre me dava bem com eles - ela abriu aquele sorriso perfeito novamente.

Fiquei em silêncio analisando seu currículo e a nossa conversa por uns bons minutos, não faria mal dar uma chance a ela, se der errado eu procuro outra pessoa.

- Quando quer começar? - perguntei.

- Quando você quiser! - seu sorriso era perfeito, mas o de agora dava de dez a zero nos outros.

- Seria ótimo de você começasse amanhã mesmo.

Ela concordou e conversamos mais um pouco sobre o salário e a parte mais burocrática da coisa, e acabei combinando dela morar aqui, talvez eu me arrependa, mas é melhor que ela esteja por perto em emergências.

Levei ela para conhecer o haras, mostrei todos os cavalos, todas as baias, os pastos, os cachorros que amaram ela imediatamente, como nunca fizeram com alguém antes, apresentei ela a Rosa e percebi o quão encantadora ela era.

Manuela prestava atenção em cada palavra que eu dizia, sua expressão sempre parecia estar fazendo anotações mentalmente para não se esquecer de nada. Ela é doce, simpática, alegre e engraçada, seu único defeito é carregar uma aliança nos dedos, destruindo as mínimas esperanças que eu tinha de me interessar por alguém novamente.

Desde que Megan entrou em minha vida, nunca mais me atrai por mulher nenhuma, porque logo agora? E porque justo uma mulher comprometida?

Apaixonado na VeterináriaOnde histórias criam vida. Descubra agora