Capítulo 27

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Eu tô apaixonado na veterinária
Ela é o queijo e eu sou a goiabada
Ela, a tampa, e eu sou a panela
Pode apostar, eu vou casar com ela

Manuela Freitas

Os dias na casa dos meus pais estão se passando cada vez mais de vagar. Tem sido ótimo poder ter o carinho e cuidado dos meus pais, mas eu sinto falta do haras, de cuidar dos cavalos, de trabalhar o dia todo com Andrew. É extremamente tentador ler suas mensagens e ter que ignorar, receber uma ligação e não poder atender, só de ouvir sua voz eu sei que meu coração voltaria a pular dentro do meu peito, mas isso me mataria por ele não poder mais ser meu.

Carol sempre vem me ver e diz que precisamos conversar, que não posso deixar o nosso amor morrer, mas eu não tenho forças para lutar por uma pessoa e viver com o medo dela não me amar de verdade. Eu sei que ações são bem melhores que palavras, mas a insegurança mata pouco a pouco a segurança que as atitudes passam.

Fazem duas semanas, exatas duas semanas que eu não saio de casa, raramente saio do quarto e tenho passado mais tempo bêbada do que nunca. A bebida não apaga, infelizmente, mas pelo menos eu me esqueço de metade do meu dia, tornando a vida mais tolerável.

Meus pais me intimaram a ir com eles em um evento agropecuário. Implorei de joelhos para que me deixassem em paz, mas aparentemente eu voltei a ter treze anos e meu pai me deu um enorme sermão sobre "parar de sofrer e aceitar a realidade", na verdade acho que é mais por eu ter acabado com o estoque de vinho do que por estar trancada em casa.

Cá estamos nós, eu na minha segunda garrafa de cerveja, meu pai conversando com alguns compradores de gado, minha mãe sendo simpática com as esposas e alguns herdeiros me olhando de cima a baixo. Terminei minha cerveja e fui atrás de outra, não estava afim de ouvir as baboseiras que eles sempre dizem.

Encontrei Thomas e Carol no meio do caminho, quase fiz uma dancinha vitoriosa, mas não tinha energia para isso. Nós sentamos em uma mesa para beber e várias cervejas depois, quando eu já estava quase me alegrando, Andrew chegou com a patricinha pendurada em seu braço, meu sorriso se desfez na hora.

- Sei que você tem tentado evitar o Andrew, mas acho que o destino venceu! - Carol sorriu.

- O destino que lute, eu vou embora! - virei o resto da minha cerveja e me levantei.

- Sabe que não pode fugir para sempre não é? - foi a vez de Thomas rir.

- Mas eu posso tentar! - dei um meio sorriso tentando não transparecer minha dor e sai.

Encontrei meu pai não muito longe dali e pedi para que ele me levasse embora pois não estava me sentindo bem. Como sempre, ele disse que já ia e eu fui esperar no carro.

Me desmanchei em lágrimas na escuridão daquele estacionamento. Agora ele estava feliz, como eu desejei, mas e eu? O que eu ia fazer?

Não demorou para que eu ouvisse as portas da caminhonete destrancarem, me apressei em me sentar no banco de trás para que meu pai não me visse chorando. O motor da caminhonete foi ligada e nós saímos dali em silêncio, fomos o caminho todo assim até que ele ligou o rádio, mal pude acreditar no que estava ouvindo.

"Eu me apaixonei na menina da camionete vermelha
De calça jeans e botina, jeito de menina roceira
Esse cabelo preto, ai, ai, ai, meu pai
Nasci foi pra ser fazendeiro

Eu tô apaixonado na veterinária
Ela é o queijo e eu sou a goiabada
Ela, a tampa, e eu sou a panela
Pode apostar, eu vou casar com ela"

A linda história que tinha tudo pra ser minha, mas infelizmente, esse não é o meu final feliz.

- Pai, você pode por favor desligar? Minha cabeça está explodindo - tentei disfarçar minha voz de choro.

A música continuou tocando. Olhei para a janela e percebi que aquele não era o caminho de casa, estávamos no meio de uma plantação que eu não fazia ideia de onde era, antes mesmo que eu pudesse processar isso, o carro parou.

- O que aconteceu? - perguntei assustada olhando para o banco da frente.

Para a minha total surpresa, meu pai não estava no banco do motorista, mas sim, uma figura que eu reconheceria a mil metros de distância. Mesmo com a escuridão, pude ver o desenho da barba recém aparada, quase alcançada pela gola da camisa preta, que combinava perfeitamente com o enorme chapéu de feltro escuro como a noite.

- O que você está fazendo aqui? - perguntei.

- Precisamos conversar! - a voz que eu tanto sentia falta ecoou pelo carro.

- Não temos nada para conversar Andrew! - revidei tentando criar uma barreira entre nós.

- Temos muito o que conversar Manuela, por favor! - ele se virou e me olhou nos olhos, ele também parecia abatido, mas sua energia não demonstrava isso.

- Eu não quero! - tentei abrir a porta mas ela estava trancada - Maldita trava para crianças! - praguejei socando o banco.

- Lian não é meu filho! - ele disse.

- O que? - parei de tentar abrir a porta e me concentrei em suas palavras - Tá bêbado? - apertei as sobrancelhas.

- Não! - ele respondeu de imediato.

- Então está maluco?

- Não, Lian não é meu filho, é uma longa história, mas foi bom ela ter voltado, me fez perceber que eu não estava te tratando como você merecia, você merece todo o amor do mundo e eu posso te dar, eu só estava com medo - dele desviou o olhar mas rapidamente voltou encarar meus olhos - Eu te amo Manuela, me dá mais uma chance pra te fazer feliz...

Será que era sonho? Ou talvez delírio pelas cervejas, mas ele está realmente aqui dizendo essas coisas pra mim?

- Eu preciso de ar! - foi a única coisa que eu consegui dizer.

Ele suspirou, destravou a porta e eu desci. A lua cheia iluminava quase tudo, menos os meus pensamentos.

Se o Lian não eu filho dele, quer dizer que a ideia de final feliz ao lado da Megan não é real, e se ele está aqui agora é porque o sentimento por mim é maior do que o sentimento por ela...

O que eu vou fazer?

Apaixonado na VeterináriaOnde histórias criam vida. Descubra agora