Cervo

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Estavamos desde a última noite no acampamento. Perto suficiente de Fjerda, mas longe suficiente de suas fronteiras  para garantir nossa segurança. Estava amanhacendo e eu não consegui dormir a noite toda, com tudo que estava acontecendo ao meu redor, resolvi desenhar, e já estava há horas, quando houve um barulho do lado de fora da minha tenda. Intrigada, fui ver o que era.

Ao sair, me deparei com Mal sentado em frente a fogueira, observando a neve, esquentando água. Ele me vê mas não faz menção de se levantar, apenas volta a observar a água aquecendo. Antes que eu possa dizer ou fazer qualquer qualquer outra coisa, ouvi algo outra vez. Dessa vez, Mal parece ter percebido também, já que rapidamente se levantou, pegou sua arma e deu passos a frente, procurando a fonte do som. Logo em seguida o ouvimos de novo. Tive um sentimento, me senti atraída de onde o som estava vindo.

Fui atras e vi um animal, um cervo, o cervo. Ela era igualzinho ao de meus sonhos, branco como a neve, uma galhada enorme. Mal se aproximou de mim, me passando sua arma. Sabia que ele estava me pedindo para matar o animal, mas ao olhar em seus olhos, vi sua alma, sabia que não poderia fazer isso. Abaixei sua arma quando em união, duas pessoas chamaram meu nome. Reconheci como sendo o Darkling e Mal, mas não dei atenção. Me aproximei do animal, e apesar das pessoas ao meu redor ficarem pedindo para que eu voltasse, me afastasse, por algum motivo sabia que ele não me machucaria, apenas sentia.

Ao chegar perto, o animal se abaixou um pouco, pude colocar minha mão nele e o afagar. Ao tocá-lo pude sentir meus poderes aumentando, estava hipnotizada pela criatura, quando escuto a voz de Darkling, como um sussurro:

       Alina, você precisa matá-lo. Só assim poderá ter seu poder.

Não. Deve haver outro jeito, não posso matar ele, não consigo!

Alina, você sabe o que deve ser feito, é para o bem do nosso povo.....

Antes dele terminar sua fala, me desabo no chão, em prantos. Não posso, não consigo matar o cervo. Tão puro, criado para o abate. Nascido para que um dia alguém o matasse, tomando tudo que era seu para si, sua escolha, sua liberdade, seu poder, sua vida... Apenas não consigo, eu.....

Alina, olha.

Ele estava deitando no chão, seu olhar não desviava do meu. Me aproximei de novo, queria saber o que estava errado, olhei por ferimentos mas não havia nada. Então escuto uma voz na minha cabeça. "Alina Starkov, conjuradora do Sol. Seu coração tão puro quanto sua luz, não quis tirar minha vida para pegar meu poder. Por esse mesmo motivo, você é digna de o ter. Vivi centenas de anos, e fico feliz em ir agora. Faça bom proveito do meu poder, mantenha seu coração puro, seja forte. A partir de hoje sempre estarei com você, precisa apenas me chamar que aparecerei." Fiquei espantada, o cervo estava falando comigo? Na minha mente? Queria lhe fazer tantas perguntas mas quando olhei para ele de novo, seus olhos estavam fechados, estava morto, mas nenhum ferimento, só deu sua vida para que eu pudesse ter seu poder.

Pude ver uma parte de sua galhada brilhando, como se tivesse uma linha tracejada. Usei minha luz cortando a galhada, peguei o pedaço que havia cortado e gritei por David. Não sabia como mas eu sabia o que eu deveria fazer a seguir.

Ele chegou, apoiei os chifres em meu pescoço, ele usou sua magia e os chifres do cervo se fundiram com a minha pele, minha luz explodiu, ninguém conseguia manter seus olhos abertos a não ser por mim. Os chifres que não se fundiram com a minha pele se tornaram uma espécie de colar, delicado, dourado, mas obviamente irremovível.

Quando a luz diminuiu e apagou, todos estavam com caras que variavam entre choque, espanto ou confusão. Não os culpo, afinal alguns acabaram de acordar. Mas quando olhei para o Darkling vi orgulho, satisfação e admiração. A forma que me olhava me fez finalmente acreditar que ele realmente me via como a esperança dos grishas e a chance de corrigir seus erros. Ele realmente se importava comigo, e apenas esse pensamento me fez sorrir.

Sei que deve ter entendido que estava sorrindo por causa dele, porque ele mesmo me encarou e sorriu. Naquele momento parecia haver nada além de nos dois. Uma conexão surgiu, uma que não consigo explicar, mas conseguia sentir um pouco do que ele estava sentindo, pela primeira vez eu o entendia, entendia seu poder, seu sentimento de obrigação sobre a proteção dos grishas, entendia a solidão que ele deveria sentir por achar que era o único que poderia fazer isso, que deveria fazer sozinho.

Light of mineOnde histórias criam vida. Descubra agora