Capítulo 3

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Meu humor estava péssimo com a descoberta do despejo e a questão era que, eu não tinha encontrado uma solução viável para resolver esse problema.

Minha vontade era ajudar meu patrão, pois ele ainda não tinha conseguido um novo lugar para a Doce & Massa. E suas olheiras escuras indicavam que ele não pregava os olhos direito faziam dias!

Para piorar, não consegui contatar nosso antigo proprietário. Dino. Só em pensar naquele sujeito dava vontade de esmurrar alguma coisa, o descarado desapareceu sem dar explicações depois que vendeu o prédio e eu não tinha dúvidas que ele devia estar gastando cada centavo ganho.

- Acho melhor não chegar perto - falou o senhor Giovanni num tom conspirador.

- Por que não? - ouvi tia Amália rebater em um tom brincalhão.

Estreitei os olhos na direção dos dois.

- Do que estão falando?

- Da sua cara assustadora. Que tal largar isso e encher uns balões com a gente, hein? - disse ela.

Peguei um grampeador e estourei um dos balões coloridos, ganhando um olhar reprovador da minha tia.

- Muito chato - resmunguei.

Tia Amália tomou o objeto das minhas mãos.

Minha tia é uma mulher bastante bonita, com seu cabelo ondulado e sorriso doce. Eu tinha herdado os mesmos olhos castanhos, cabelo amarronzado e o rosto fino da família. E, apesar de ter certeza de que pareceria um pouco com minha tia quando ficasse mais velha, ela continuava insistindo que a cada dia eu estava mais parecida com a minha mãe.

- Que tal descansar um pouco, bambina? - avisou meu chefe.

Sério isso?

Com tanta coisa para fazer e ele me dando folga.

Não tínhamos organizado nem metade da bagunça. Por sorte, tia Amália fez questão de dar uma passada na confeitaria mais cedo e acabou ficando para nos ajudar com a organização da festa de 15 anos de alguma garota.

Eles praticamente me enxotaram dali. Eu sabia que era inútil discutir contra Amália e Giovanni, por isso, decidi aproveitar meu tempo livre para investigar o inimigo.

Encolhida atrás da bancada e sentindo-se uma verdadeira espiã, saquei meu telefone e dei início a minha pesquisa sobre André nas redes sociais. Foi um surto atrás de outro, toda vez que deslizava o polegar pela tela. Havia centenas de fotos dele todo charmoso em eventos sociais e de trabalho, algumas delas acompanhado da Rebeca.

Eu queria me chutar por estar perdendo meu tempo com esse homem, mas minha curiosidade falou mais alto e inevitavelmente continuei vasculhando.

- O que você faz escondida aí, garota? - disse uma voz curiosa, surgindo atrás de mim.

Bati a cabeça com força na bancada, quando levantei abruptamente.

- Nada! - falei depressa, encarando meu amigo.

Eu sabia que era uma péssima mentirosa e obviamente o jovem de cabelo loiro sacou que eu estava fingindo na maior cara de pau. Um sorriso travesso surgiu em seu rosto e rapidamente, ele rebateu o celular da minha mão, sem me dar qualquer chance de reação.

O safado arregalou os olhos quando viu a foto de André estampada na tela do meu telefone. Senti o rosto pegar fogo, uma mistura de raiva e vergonha tomou conta de mim por ser pega espiando.

- Samuel, me dá isso aqui! - rosnei, tentando arrancar o aparelho de suas mãos. Porém, ele era mais alto do que eu e conseguiu se esquivar das minhas tentativas.

- Eu sabia que você tinha uma queda por ele - disse.

- Não tenho não.

Ouvindo toda nossa confusão, minha tia e o meu patrão apareceram no salão principal para saber o que diabos estava acontecendo e encontraram-me prestes a agarrar o pescoço dele.

- Manuela, por que você está o atacando?

- Ele é um fofoqueiro enxerido!

Samuel deu risada.

- O quê você está fazendo aqui? - perguntou tia Amália para meu melhor amigo.

- Vim tirar as fotos do senhor Giovanni - respondeu.

Franzi a testa.

- Desde quando você trabalha para aquela revista?

- É temporário.

Arranquei meu celular de suas mãos. Pelo visto, o dia seria longo.
. . .

Nós demos muitas risadas enquanto Samuel tirava as fotos do senhor Giovanni para colocar no artigo de receitas. Meu amigo era um ótimo fotografo e bem fofoqueiro também.

- Seu patrão é muito bacana, né? - falou Samuel cutucando minhas costelas.

Puxei sua câmera, para analisar a foto de perto.

- Sim, ele é. Por isso, quero encontrar um jeito de ajudá-lo - murmurei.

Samuel escutou atentamente quando lhe contei sobre o problema que a confeitaria estava enfrentando. Desabafei tudo aquilo que estava me incomodando, sobre nosso despejo inesperado, o sumiço do Dino, a venda do prédio e a compra por André.

- Saquei. Por isso, você estava de olho no arquiteto bonitão, né?

Expirei o ar com força.

- Já te disse, foi só uma pesquisa idiota - rebati.

- Até parece. Eu não sou cego, aquele cara é um deus grego - disse.

- Para com isso! - ameacei.

Ele deu risada.

- Acho que já deu minha hora - falou organizando suas coisas.

- Vai ter pipoca e refrigerante hoje a noite? - perguntei seguindo ele até a porta da confeitaria.

- Claro. Fazemos isso toda sexta feira.

Abracei seus ombros.

- Você é o melhor amigo do mundo!

Samuel sorriu.

- Eu sei. Não atrasa, Manu.

- Pode deixar.

Tentei voltar para a confeitaria após a partida de Samuel, mas minha atenção ficou presa em um senhor que atravessava a rua.

Podia chutar que se tratava de um executivo, pois usava um terno cinza impecável e carregava uma maleta pesada presa na mão.

O senhor parecia meio perdido, um tanto apressado e, assim que enfiou sua carteira no bolso, nem percebeu o objeto escorregar e cair no chão.

- Ei, sua carteira! - gritei, mas ele não ouviu.

Naturalmente, apertei o passo para atravessar a rua e apanhei o objeto antes que algum espertinho a pegasse. Já com a carteira em mãos, varri com os olhos ao meu redor a procura do homem que deixou uma parte sua para trás e o enxerguei caminhando alguns metros a minha frente.

Sem pensar duas vezes, apenas o segui.

Doce MentiraOnde histórias criam vida. Descubra agora