Doce Mentira

Capítulo 17

Isso não podia estar acontecendo.

André iria perder o investimento por conta de uma sabotagem.

Uma pessoa muito suja tinha tramado um plano ardiloso e estava colocando-o em execução, mas quem seria? Qual sua verdadeira identidade? Será que fazia parte da concorrência?

Não consegui ficar esperando, por isso, resolvi ir até a construtora para falar com André. Ele não tinha conhecimento sobre a conversa que flagrei em seu ambiente de trabalho e minha intuição dizia que eu deveria contar tudo que sabia.

- Manuela? - disse André confuso, quando me viu na porta do seu escritório. - O que está fazendo aqui?

Meu coração martelou dentro do peito e meu corpo implorava por oxigênio, devido minha pequena corrida.

- Diga-me que ainda não cancelou o contrato.

- Nós estamos fazendo isso, agora - a voz de George Miller penetrou em meus ouvidos e só então, percebi que estava sentando em uma poltrona.

- Por favor, não faça isso - pedi.

Seus olhos de gelo fitaram meu rosto, sem compreender direito o que eu estava fazendo ali tentando evitar o cancelamento do contrato milionário.

- Senhorita Manuela, lhe admiro e a respeito muito como pessoa. Porém, isso aqui são negócios. Houve uma quebra de contrato, pois o doutor Ribeiro garantiu que não haveria riscos no projeto de construção. E, logo no início, ocorreu uma inundação. Como posso fechar os olhos para isso? - perguntou em tom ríspido.

- Mas não foi culpa dele. André não pode se responsabilizar pelo incidente...

- Esse é o dever dele - esclareceu o empresário. - Ele é o responsável pela obra e de tudo que acontece nela.

Engoli em seco.

- O senhor não está entendendo. Alguém está tramando contra André, o que aconteceu foi uma sabotagem.

George Miller ficou mudo, com minha revelação.

- Como você sabe disso? - perguntou André surpreso.

- Eu escutei alguém da construtora falando por telefone. Estão armando algo, tenho certeza.

- E você só me conta agora? Que droga, Manuela.

Fabiano aproveitou o momento para entrar na conversa, às vezes, aquele homem parecia um fantasma.

- Você sabe quem fez a ligação?

Neguei com a cabeça.

- Não. Eu estava trancada dentro do banheiro - respondi.

- Isso significa que você não tem provas e sem elas, não pode afirmar que realmente exista uma sabotagem - falou o Sr. Miller.

André suspirou derrotado.

- Manuela, obrigado por avisar - disse. - Sei que sua intenção foi boa, mas é hora de desistir.

Olhei em seus olhos extremamente verdes, havia tristeza neles. André não queria largar o projeto, aquilo era muito importante para ele.

Foi então que uma ideia surgiu.

- Já sei! - gritei, assustando os três homens na sala. - Há um jeito de encontrar a pessoa responsável pela ligação e comprovar o que estou dizendo. Sendo mais otimista, podemos até descobrir o sujeito que está por trás de tudo isso.

- Como? - perguntou George Miller interessado.

- Pelas câmeras de segurança, existem muitas delas na empresa.

Não perdermos tempo. Todos nós saímos da sala de André e nos dirigimos ao espaço onde ficavam as câmeras de vigilância.

- Algum problema patrão? - perguntou o homem mais velho, quando viu André.

- Preciso que analise as câmeras de segurança, quero saber sobre algo que ocorreu três semanas atrás - disse ele.

Meus olhos não desgrudaram um segundo daquelas telas. Minhas mãos suavam com o nervosismo, enquanto esperava pelo momento certo.

De repente, minha imagem apareceu na tela. Eu estava sacudindo a blusa que tinha sido manchada pelo café, até que sumi dentro do banheiro.

- As câmeras não mostram a parte interna - murmurou André.

- Nem precisa. Somente uma pessoa entrou no banheiro, enquanto permaneci trancada lá dentro.

Congelei quando vi a figura que apareceu.

Baixinha. Óculos acima do nariz salpicado de sardas. Olhos amendoados.

- Maria Clara? - soltei incrédula.

Não podia ser. Aquela garota não era capaz de matar uma formiga, mas foi ela que apareceu no vídeo. Não tinha como negar.

- Ela é nossa estagiária, precisamos encontrá-la.