Capítulo 33

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Passei a manhã com Samuel e foi um pesadelo ouvir as palavras que saíam da boca dele.

Me senti desnorteada, confusa  e com muito medo diante da confissão do meu melhor amigo. Segundo ele, alguém tinha mexido nos freios do seu carro quando ele não estava por perto, o que resultou em seu acidente.

Lembrei-me no mesmo instante da ameaça que tinha recebido por aquele bilhete. Era real. Uma pessoa estava tentando machucar as pessoas que eu amava, por que eu não me afastei de André. 

Nunca levei a mensagem a sério até esse momento, não passou pela minha cabeça que alguém faria algo assim. No entanto, havia alguém muito ardiloso por trás disso, mas o que eu posso fazer? Contar a André? Me afastar dele? 

Não. Não posso fazer isso.

— Com licença, você tem outra visita Samuel — avisou a enfermeira.

Sorri pensando que fosse tia Amália, mas não era ela.

— Dino? — falou Samuel, ao vê-lo parado no batente da porta.

— E aí? Cara.

Dino abriu um sorriso fraco e, pedindo licença, aproximou-se do irmão. Ele parecia preocupado com Samuel, apesar de tudo que fez.

A verdade era que a relação entre os dois sempre foi muito complicada e conturbada. Samuel era um garoto justo e que tentava ficar longe de confusão, mas o Dino... Ele era um bagunceiro, com ele, a confusão era certa!

Os dois se afastaram após os avós, que cuidavam deles, partirem dessa vida. Cada um tomou seu rumo.

É claro que o Samuel se preocupava com o Dino, afinal, ele era seu irmão. Entretanto, jamais imaginei que o inverso acontecesse e Dino tivesse a mesma preocupação com o irmão mais novo, mas aqui estava ele, abraçando o irmão e perguntando se ele estava bem.

Não foi fingimento. Seu olhar era sincero, tanto que, reconheci o Dino do passado por um instante. Mais sensível e preocupado.

Dino limpou a garganta.

— Fiquei assustado quando soube do acidente. Foi como um soco na boca do estômago — disse ele. — No instante que achei que ia te perder, acho que algo mudou em mim. Desculpe-me, irmão.

Percebi que Dino tinha dificuldades em falar.

— Desculpa pelas vezes que te machuquei. Por colocar todo o peso de cuidar dos velhos em suas costas. Desculpe-me por magoar a sua melhor amiga — disse ele olhando para mim, minha garganta fechou. — Fui muito injusto com você todos esses anos, só queria poder fazer o certo tudo de novo se tivesse a chance.

— Ei, eu não morri — disse Samuel, encarando-o firmemente com seus olhos azuis. — Eu ainda estou aqui, irmão.

— Graças a Deus. Essa é minha chance de recomeçar. Você me perdoa?

Dino secou bruscamente as lágrimas do rosto.

— Eu reconheço o quão ruim fui com você Samuel. Desculpa pela vez que eu disse que tinha vergonha de você, nunca foi verdade. Eu só... Eu só precisava me afastar para colocar as coisas em ordem e...

Samuel agarrou o irmão pelos ombros.

— Não se preocupe. Eu entendo e aceito o seu perdão — disse ele. — Dino, você estar aqui nesse momento é a prova que eu precisava para saber o quanto você se importa. Que tal deixarmos o passado para trás, hein? Estou feliz por ter meu irmão de volta.

Foi comovente presenciar a cena. Ver aqueles dois se reencontrando, depois de tanto tempo separados.

Eles participaram da minha vida, sejam nos momentos felizes ou tristes. E mesmo que, eu já não confiasse no Dino como antes, foi gratificante ver que ele se arrependeu e voltou a ser o irmão mais velho que Samuel merecia ter.

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