Capítulo 5

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Fabiano tentou me convencer. 

O idiota queria que eu fingisse ser a noiva de mentira do seu amigo até que o contrato milionário fosse fechado com George Miller. Ele tinha proposto isso com a desculpinha esfarrapada de que o senhor Miller gostava de mim. Vê se pode! Mas eu não iria cair nessa cilada, já tinha problemas demais para resolver.

Isso sem contar com a Rebeca.

Ela podia ser uma mimada, insuportável e completamente irritante, mas não merecia ser apunhalada pelas costas. Era uma burrice e eu tinha absoluta certeza que jamais teria coragem de arrancar seu namorado, fingindo um noivado de mentira e a magoá-la completamente.

Misturei a massa com tanta força sob a mesa, que senti meus dedos ficarem dormentes.

- Manuela, tem cliente! - gritou meu chefe, trazendo minha mente de volta para a realidade.

- Maldito temperamento italiano - saí reclamando do meu esconderijo, enquanto caminhava apressada em direção ao balcão.

Os horários de pico eram um saco. Não sei onde estava com a cabeça quando resolvi ficar cobrindo a vaga da outra funcionária.

Catei o bloco de notas no bolso do avental e segurei minha caneta, preparada para anotar o pedido do cliente. Foi aí que percebi quem estava me esperando e estatelei no lugar. Eu tinha ficado louca ou "André maldito Ribeiro" tinha aparecido na Doce & Massa?

Ele vestia apenas jeans e uma camisa cinza simples hoje, e esboçava um sorriso no rosto capaz de derreter uma geleira.

- O q-que está fazendo aqui?

- Eu preciso falar com você - disse com a voz urgente.

Isso não era um bom sinal.

Antes que pudesse falar algo, André me arrastou até o banheiro e trancou a porta sem fazer nenhuma cerimônia. Dava para perceber que ele estava agitado, praticamente pude ouvir as engrenagens martelando em seu cérebro.

- O que está acontecendo?

- Só temos dez minutos - falou.

- Dez minutos, para quê?

- George Miller aparecerá na confeitaria a qualquer momento - confessou.

Meus olhos cresceram em espanto.

- Não brinca! Isso tudo é culpa daquele seu amigo doido - acusei.

- É. Eu sei - disse André esfregando o rosto de forma agitada. - Sinto muito por isso.

Por um momento, fiquei desorientada dentro do ambiente fechado. O que André queria que eu fizesse? Essa história de noiva de mentira já tinha virado uma bola de neve gigante.

- O que pensa em fazer? - perguntei.

André passou a mão pelo cabelo escuro de forma exasperada.

- Eu não sei - disse ele, um pouco perdido. - Mas... eu quero lhe pedir desculpas. Não podia tê-la envolvido nessa confusão desse jeito. É que estou prestes a fechar um negócio importante e com receio de perder tudo, comecei a atropelar o que vinha pela frente. Eu sou um idiota né?

Ri sem humor.

- Fico aliviada que saiba disso - digo. - Mas o que pretende dizer? Vai negar tudo?

- Não posso. Se eu desmentir que você é minha noiva, adeus investimento. George Miller gosta de transparência, seja nos negócios ou na vida pessoal.

- E a Rebeca?

Ouvi um suspiro profundo.

- Acredite em mim. Não existe mais nada entre a Rebeca e eu - disse ele.

- Como assim? Por quê?

- Nós tivemos uma briga feia, por sua causa. Quer dizer, não foi necessariamente sua culpa, mas... acabou. Ela não quer mais olhar na minha cara.

- O quê? Isso só pode ser uma piada de mau gosto.

Ele suspirou. 

André enfiou a mão no bolso e depois estendeu o celular na minha direção. Saquei na hora o motivo da briga deles, pois na tela haviam várias fotos de nós dois espalhados em vários tabloides de notícias.

- Eu sinto muito - falei.

- Não foi sua culpa. Provavelmente, é só um fofoqueiro de plantão. No entanto, essas fotos fizeram um estrago, Rebeca está furiosa comigo.

- Saco - resmunguei.

De repente, ouvimos a voz de George Miller do lado de fora. Encostei meu ouvido na porta do banheiro para ouvir melhor a conversa dele com o meu patrão e André fez o mesmo.

- Puta merda. Ele está aqui! - cochichei sem acreditar.

- Por favor, me ajude. Somente desta vez - pediu André e eu senti seu hálito fresco pousando em meu pescoço.

Girei meu corpo para conseguir fitá-lo.

- Não. Ficou louco?

Seus belos e brilhantes olhos verdes me analisaram por um momento e, ele decidiu abrir o jogo.

André começou me contando sobre a construtora e o trabalho honesto que faziam. Depois, explicou sobre o projeto de casas populares que tinha elaborado e estava exaustivamente trabalhando nos últimos meses. Afirmando que, quando assinasse o bendito contrato, automaticamente poderia usufruir dos recursos que George Miller estava disposto a oferecer e assim adiantaria o projeto de construção.

- Um lar. Eu quero dar um teto para essas pessoas, um local seguro - contou André, tentando me convencer.

Neguei com a cabeça.

Mesmo sendo um belo gesto de sua parte, jamais poderia fingir um relacionamento. 

- Não.

- Manuela, por favor, eu preciso da sua ajuda - implorou. - E George Miller gosta de você e lhe escuta, por isso não me deixe na mão justamente agora.

- Isso não vai dar certo - vacilei.

- Vai sim. Podemos fingir.

- Fale por você, eu não sei mentir.

André segurou o riso.

- Eu sei.

Estreitei os olhos.

- Sabe como?

- Sua feição entrega tudo, Manuela. Eu notei o quanto estava apavorada naquele restaurante.

- Essa sua abordagem de me convencer a ajudá-lo, não está dando muito certo. Sabia? - falei com raiva.

- E que tal um acordo?

Isso despertou meu interesse.

- Tipo o quê?

André deu um sorriso maroto.

- Podemos negociar a situação da Doce & Massa, sua preciosa confeitaria.

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