Fabiano tentou me convencer.
O idiota queria que eu fingisse ser a noiva de mentira do seu amigo até que o contrato milionário fosse fechado com George Miller. Ele tinha proposto isso com a desculpinha esfarrapada de que o senhor Miller gostava de mim. Vê se pode! Mas eu não iria cair nessa cilada, já tinha problemas demais para resolver.
Isso sem contar com a Rebeca.
Ela podia ser uma mimada, insuportável e completamente irritante, mas não merecia ser apunhalada pelas costas. Era uma burrice e eu tinha absoluta certeza que jamais teria coragem de arrancar seu namorado, fingindo um noivado de mentira e a magoá-la completamente.
Misturei a massa com tanta força sob a mesa, que senti meus dedos ficarem dormentes.
- Manuela, tem cliente! - gritou meu chefe, trazendo minha mente de volta para a realidade.
- Maldito temperamento italiano - saí reclamando do meu esconderijo, enquanto caminhava apressada em direção ao balcão.
Os horários de pico eram um saco. Não sei onde estava com a cabeça quando resolvi ficar cobrindo a vaga da outra funcionária.
Catei o bloco de notas no bolso do avental e segurei minha caneta, preparada para anotar o pedido do cliente. Foi aí que percebi quem estava me esperando e estatelei no lugar. Eu tinha ficado louca ou "André maldito Ribeiro" tinha aparecido na Doce & Massa?
Ele vestia apenas jeans e uma camisa cinza simples hoje, e esboçava um sorriso no rosto capaz de derreter uma geleira.
- O q-que está fazendo aqui?
- Eu preciso falar com você - disse com a voz urgente.
Isso não era um bom sinal.
Antes que pudesse falar algo, André me arrastou até o banheiro e trancou a porta sem fazer nenhuma cerimônia. Dava para perceber que ele estava agitado, praticamente pude ouvir as engrenagens martelando em seu cérebro.
- O que está acontecendo?
- Só temos dez minutos - falou.
- Dez minutos, para quê?
- George Miller aparecerá na confeitaria a qualquer momento - confessou.
Meus olhos cresceram em espanto.
- Não brinca! Isso tudo é culpa daquele seu amigo doido - acusei.
- É. Eu sei - disse André esfregando o rosto de forma agitada. - Sinto muito por isso.
Por um momento, fiquei desorientada dentro do ambiente fechado. O que André queria que eu fizesse? Essa história de noiva de mentira já tinha virado uma bola de neve gigante.
- O que pensa em fazer? - perguntei.
André passou a mão pelo cabelo escuro de forma exasperada.
- Eu não sei - disse ele, um pouco perdido. - Mas... eu quero lhe pedir desculpas. Não podia tê-la envolvido nessa confusão desse jeito. É que estou prestes a fechar um negócio importante e com receio de perder tudo, comecei a atropelar o que vinha pela frente. Eu sou um idiota né?
Ri sem humor.
- Fico aliviada que saiba disso - digo. - Mas o que pretende dizer? Vai negar tudo?
- Não posso. Se eu desmentir que você é minha noiva, adeus investimento. George Miller gosta de transparência, seja nos negócios ou na vida pessoal.
- E a Rebeca?
Ouvi um suspiro profundo.
- Acredite em mim. Não existe mais nada entre a Rebeca e eu - disse ele.
- Como assim? Por quê?
- Nós tivemos uma briga feia, por sua causa. Quer dizer, não foi necessariamente sua culpa, mas... acabou. Ela não quer mais olhar na minha cara.
- O quê? Isso só pode ser uma piada de mau gosto.
Ele suspirou.
André enfiou a mão no bolso e depois estendeu o celular na minha direção. Saquei na hora o motivo da briga deles, pois na tela haviam várias fotos de nós dois espalhados em vários tabloides de notícias.
- Eu sinto muito - falei.
- Não foi sua culpa. Provavelmente, é só um fofoqueiro de plantão. No entanto, essas fotos fizeram um estrago, Rebeca está furiosa comigo.
- Saco - resmunguei.
De repente, ouvimos a voz de George Miller do lado de fora. Encostei meu ouvido na porta do banheiro para ouvir melhor a conversa dele com o meu patrão e André fez o mesmo.
- Puta merda. Ele está aqui! - cochichei sem acreditar.
- Por favor, me ajude. Somente desta vez - pediu André e eu senti seu hálito fresco pousando em meu pescoço.
Girei meu corpo para conseguir fitá-lo.
- Não. Ficou louco?
Seus belos e brilhantes olhos verdes me analisaram por um momento e, ele decidiu abrir o jogo.
André começou me contando sobre a construtora e o trabalho honesto que faziam. Depois, explicou sobre o projeto de casas populares que tinha elaborado e estava exaustivamente trabalhando nos últimos meses. Afirmando que, quando assinasse o bendito contrato, automaticamente poderia usufruir dos recursos que George Miller estava disposto a oferecer e assim adiantaria o projeto de construção.
- Um lar. Eu quero dar um teto para essas pessoas, um local seguro - contou André, tentando me convencer.
Neguei com a cabeça.
Mesmo sendo um belo gesto de sua parte, jamais poderia fingir um relacionamento.
- Não.
- Manuela, por favor, eu preciso da sua ajuda - implorou. - E George Miller gosta de você e lhe escuta, por isso não me deixe na mão justamente agora.
- Isso não vai dar certo - vacilei.
- Vai sim. Podemos fingir.
- Fale por você, eu não sei mentir.
André segurou o riso.
- Eu sei.
Estreitei os olhos.
- Sabe como?
- Sua feição entrega tudo, Manuela. Eu notei o quanto estava apavorada naquele restaurante.
- Essa sua abordagem de me convencer a ajudá-lo, não está dando muito certo. Sabia? - falei com raiva.
- E que tal um acordo?
Isso despertou meu interesse.
- Tipo o quê?
André deu um sorriso maroto.
- Podemos negociar a situação da Doce & Massa, sua preciosa confeitaria.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Doce Mentira
Teen FictionManuela Martins curtia viver sua vida simples na cidade. Dona de uma personalidade atrevida, decidida e de um coração generoso demais, ela jamais imaginou que algo pudesse abalar a sua vida. No entanto, tudo muda quando um aviso de despejo surge na...