Capítulo 19

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Entrei rápido no elevador, mas não fui ágil o suficiente para fechar as portas de metal antes que André pudesse deslizar para dentro também.

– Perdão – foi à primeira coisa que ele disse.

Sequei minhas lágrimas bruscamente, mas não consegui olhar para o homem na minha frente. Eu estava confusa, o misto de emoções dentro de mim ameaçava me estilhaçar a qualquer momento.

– Fale comigo, Manu. Por favor — implorou.

Por que ele tinha que falar desse jeito comigo? Tão gentil. Talvez, se André agisse como um verdadeiro babaca fosse mais fácil se afastar. Não que ele fosse perfeito, nenhuma pessoa é, mas ele sempre foi sincero comigo.

– Estou com medo, André – as palavras saíram da minha boca antes que eu pudesse pensar nas consequências dessa verdade.

– Também estou com medo – admitiu.

André encostou sua testa na minha.

– Peço perdão pelo que meu pai lhe disse. Ele é um homem impulsivo, às vezes, e não tinha o direito de falar com você daquela maneira – explicou. – Manuela, você é uma pessoa maravilhosa e sensível, não merece ser tratada mal por ninguém.

Respirei fundo, diante de suas palavras.

– Acho que fomos longe demais com essa mentira – sussurrei para André, tão baixo que tive a sensação dele não ter escutado.

– Não vou forçar a barra. Se quiser desistir disso tudo, não vou tentar impedir – soltou.

Ele apertou o botão do elevador, fazendo com que parasse.

— A decisão é sua, Manuela. Eu não quero te ferir — explicou. — Eu gosto demais de você para continuar com isso.

Limpei a garganta.

— Você sente algo por mim? Algo que vá além do nosso acordo?

— Sim. Existe algo que me faz querer ficar perto de você e querer te proteger – declarou. – Droga. Acho que não estou conseguindo expressar direito, mas nunca senti algo assim, tão intenso.

Fazia tempo que uma sensação tão boa tomou conta de mim, me senti mais leve e alegre, sem ter o peso do mundo carregado em minhas costas. Esse era o efeito inesperado que André despertava em mim e era algo incrível.

Tomei coragem.

— Eu gosto de você. Não sei quando esse sentimento novo começou, mas ele está aqui, presente em meu coração.

Reparei em cada movimento que André fazia.

Ele se aproximou lentamente, passou os braços em volta do meu corpo gentilmente e me puxou em sua direção. Depois grudou os lábios decididamente sob os meus, mas de forma suave e sem pressa. Uma batida errante soou no meu peito.

Seus lábios encontraram um novo ritmo, fazendo com que meu corpo derretesse como manteiga e não consegui mais segurar a reação. Beijei sua boca avidamente, retribuindo o seu gesto carinhoso.

– Vamos acabar com isso juntos, Manuela – murmurou André. — Sem mentiras ou escândalos a partir de agora.

Concordei.

— Isso. Juntos.

O bip da porta do elevador fez com que eu espalmasse as mãos no peito de André para afastá-lo.

– Acho que alguém está tentando usar o elevador.

André se remexeu, inquieto.

– Tem razão — falou ele, batendo com o punho no botão para que o elevador voltasse a funcionar.

Tomei um susto quando as portas se abriram. Margarida, a mãe de André, estava parada encarando nós dois.

– Aí estão vocês – a voz dela ecoou nos meus ouvidos.

– Mãe. Preciso lhe contar uma coisa...

Margarida interrompeu André.

– Peço desculpas, pelo meu marido – começou, dirigindo a palavra para mim. – Não a conheço intimamente, mas percebo que você faz bem para meu filho e isso é muito importante para mim.

Não estava esperando por isso.

– Darei uma festa em comemoração aos 40 anos da Construtora. O evento será daqui há duas semanas – contou ela. – Esteja pronta querida, você está convidada para essa grande celebração.

André abriu um sorriso para a mãe.

– Obrigada pelo convite – devolvi. — Mas acho que o André precisa contar uma coisa.

Margarida Ribeiro me puxou para um abraço.

– Ele pode contar tudo depois — explicou. — Seja bem-vinda a família.

Doce MentiraOnde histórias criam vida. Descubra agora