Capítulo 6

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- Espera, eu ouvi direito? - falei sem acreditar.

- Sim. Podemos negociar o prédio, porém você precisa me ajudar com George Miller durante esses seis meses - afirmou André.

Talvez eu estivesse ficando maluca simplesmente por cogitar aceitar tal ideia, mas tinha que dar um jeito de arrumar a bagunça que o Dino criara e ajudar meu patrão.

Nunca havia pensado na possibilidade de participar de uma farsa, no entanto, já que se passar por uma noiva de mentira era a única maneira de ficar com o prédio, poderia fazer isso sem medir esforços. Certo?

- Então você concorda? - pressionou André.

- Concordo - respondi depressa. - Mas primeiro, precisamos impor algumas regras.

André ergueu uma sobrancelha escura.

- Que tipo de regras?

Com uma caneta, rabisquei depressa no bloquinho três regras básicas:

1. Nenhum segredo sobre a vida pessoal será revelado.

2. Beijar, abraçar ou qualquer contato físico, somente se for necessário e com permissão.

3. PROIBIDO se apaixonar.

André fez uma careta ao ler o papel.

- Que lista ridícula, Manuela. Até parece que eu vou me apaixonar por você - rosnou.

- Ótimo. A distância é boa e eu gosto - cuspi a informação.

Ele ficou vermelho como um tomate maduro, tamanha sua raiva.

- Cuidado. Talvez seja você que se apaixone.

Isso era algo impossível de acontecer. Seria mais fácil ganhar um prêmio milionário na loteria ou um meteoro cair na Terra, antes que me apaixonasse... novamente. Minhas feridas antigas ainda estavam bem abertas por causa de um canalha e não havia a mínima probabilidade de que abrisse meu coração outra vez para o amor, sem chance.

- É mais fácil o inferno congelar - respondi, puxando a maçaneta da porta do banheiro para abri-la.

André me encurralou no batente da porta, impedindo minha passagem.

- Espera. Ainda não terminamos nossa conversa - falou.

Segurei André pela gola da camisa, fazendo com que ele ficasse bem próximo do meu rosto.

- Escuta aqui. Prometo que irei cumprir minha parte no acordo, eu serei a noiva mais feliz que essa cidade já viu. Satisfeito? - exagerei.

- É um bom começo - rebateu ele.

- No entanto, não brinque comigo - alertei. - Nem pense em pisar na bola ou eu caio fora no mesmo instante. Estamos entendidos?

Ele abriu um sorriso torto.

- Entendi. Docinho - ele disse.

- Não me chame de docinho! - repreendi. - Saiba que entrei nessa furada apenas para conseguir a confeitaria de volta.

- Tudo bem. Agora, será que dá para relaxar? - perguntou André, segurando minhas mãos para soltá-las da sua camisa.

Alguém tossiu discretamente, chamando nossa atenção.

- Doutor Ribeiro, eu não esperava vê-lo aqui - a voz surpresa do meu patrão atingiu os meus ouvidos.

Olhei para os dois senhores ainda parados perto de nós. Questionando a mim mesma sobre quanto tempo o meu chefe e George Miller estavam nos observando. Será que haviam escutado nossa conversa?

André tentou se afastar de mim e não sei explicar exatamente como, mas ele acabou batendo à cabeça na porta.

Ai caramba!

- Você está bem? - perguntei já vendo um volume aparecer bem na sua testa.

- Estou bem - disse ele, mas não acreditei.

- Eu não... Eu não tinha visto vocês dois aqui - falei sem jeito.

O senhor Giovanni não era bobo. Ele notou meu nervosismo e percebeu na hora que tentávamos esconder algo. Era um segredo bem sujo, na verdade, daqueles que envolviam ganhar muito dinheiro e que se entrelaçava em uma teia de mentiras.

Com humor e tentando conter o riso, George Miller entrou na conversa.

- Sinto muito. Não foi nossa intenção atrapalhar vocês - disse ele.

- Atrapalhar? Atrapalhar o quê? - falei estupidamente.

André grunhiu ao meu lado e então, percebi tarde demais o motivo.

George Miller achou mesmo que eu estava dando uns amassos em André no meio do trabalho? Fala sério! Até parece que eu faria algo assim, ele não era o meu tipo.

Limpei a garganta.

- Acho que o André precisa de gelo. Vou lá buscar - comentei e praticamente saí correndo dali.

. . .

Apesar de André negar várias vezes que não precisava daquilo, dava para sacar que sua testa estava dolorida por causa da pancada. Por isso, segurei a compressa gelada a pressionando contra ele.

Claro que estavamos sendo vigiados pelos olhos atentos de George Miller.

- Manuela, está doendo - resmungou André, impedindo que eu colocasse mais gelo.

- Fique quieto - falei afastando sua mão. - Nem dói tanto assim.

André me olhou com a cara feia.

- Claro que está. Mas não é você que está sentindo a dor, hein?

Bufei irritada.

- Quanto drama. Eu quase fui atropelada e não fiz tanto escândalo, lembra?

- Já lhe pedi desculpas por causa disso - rebateu André, focando aquelas duas esmeraldas no meu rosto.

George Miller riu, chamando nossa atenção.

- Isso deve ser uma história interessante.

Não era.

Porém, decidi aproveitar a oportunidade e colocar nosso plano doido em prática. Mesmo que eu não fosse uma boa mentirosa, reuni toda a coragem que tinha e soltei:

- Foi assim que conheci o André.

- Ele atropelou você?

Neguei.

- Não. Foi a namorada dele na época - respondi.

Rebeca quase havia me atropelado de verdade, algumas semanas atrás. Apesar de parecer fazer mais tempo do que apenas simples semanas. Havia acontecido tanta coisa nova e estranha depois disso...

- A Manuela ficou toda arranhada. Parecia que um gato tinha usado suas unhas nela - comentou André, abrindo um sorriso.

Uau! Que sorriso.

- Ele insistiu umas mil vezes para me levar ao hospital. Acredita? - contei para George.

- Ela está exagerando. Mas insisti mesmo, você estava perdendo muito sangue para alguém com seu tamanho - alfinetou André.

- Viu só como ele é? - acusei.

- Gosto do jeito como se tratam. Há paixão - soltou o empresário.

Não tive resposta para aquilo e pelo jeito que André estava me encarando, ele também não sabia o que dizer. E para nossa sorte, o senhor Giovanni não estava por perto para ouvir essa conversa esquisita sobre sermos um casal.

- Vocês topam um jantar? - continuou George Miller, quebrando o clima tenso. - Minha esposa chegará em breve.

Não! Absolutamente não! - pensei, mas parece que o vacilão do André tinha outros planos.

- Lógico. Nós vamos adorar.

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