Capítulo 31

19 2 0
                                    

— Cadê ele? O que aconteceu? — perguntei quando cheguei ao hospital.

— Calma, bambina — disse meu patrão, que já estava lá acompanhando minha tia. — Ele acabou de passar por uma cirurgia, estamos esperando notícias do médico que o operou.

Senti um aperto no peito. 

Eu queria ver meu melhor amigo, saber se Samuel estava bem de verdade. Não arredaria o pé do hospital enquanto não falasse comigo, não importava quantos dias passassem eu ficaria ali por ele. Samuel sempre me apoiou era minha vez de retribuir.

Todos os episódios da nossa amizade passaram na minha mente, enquanto permaneci sentada na cadeira fria da sala de espera. Samuel me defendendo dos moleques do bairro, provando minhas receitas malucas, apoiando minhas escolhas e aplaudindo minhas vitórias, consolando-me quando fiquei com o coração partido. Foi sempre ele que esteve por perto quando precisei.

Pelo que tia Amália havia me contado, Samuel perdera o controle do carro. O veículo derrapou pela rodovia e acabou batendo em um poste. Por sorte, meu amigo estava usando o cinto de segurança no momento do acidente.

— Meu Deus! Ajude-o! — implorei com lágrimas nos olhos.

— Calma, amor. Vai ficar tudo bem — confortou André, abraçando meu corpo.

De repente, um médico de meia idade apareceu segurando uma ficha nas mãos. Saltei da cadeira no instante em que o profissional perguntou quem eram os parentes de Samuel presentes ali.

— Como ele está? — perguntei. Minha voz saiu rouca e alterada, quase não a reconheci.

— Está estável. Vamos esperar os efeitos da sedação passar e avaliar se ocorreu algum dano na memória — disse o médico.

— Isso é ruim doutor? — perguntou tia Amália.

O médico confortou todos nós.

— Samuel é jovem e forte, ele pode se recuperar — falou esperançoso.

— Eu posso vê-lo? — perguntei.

— Claro, senhorita.

Segui uma enfermeira até chegar no quarto onde Samuel fora instalado. Meu coração quase saltou pela garganta ao ver o seu estado de saúde.

Ele repousava na cama. Havia uma faixa enrolada em sua cabeça, arranhões nos braços provocados pelos cacos de vidro, o lábio inferior estava cortado e suas costelas foram enfaixadas devido algumas fraturas.

— Oi Samuel. Sou eu, a Manu — falei. — Fica bem logo. Todos estão preocupados com você e com saudade das suas piadas.

Segurei sua mão.

— Que tal acordar agora e me mostrar esses lindos olhos azuis, hein? — sugeri. — Você é mais durão do que aparenta e sei que vai sair dessa. Não vou sair daqui enquanto não falar com você, é uma promessa.

Como resposta, senti quando sua mão apertou levemente a minha.

Aquilo era um bom sinal. Mesmo sem acordar, parecia que meu amigo ouvia tudo. Fiquei esperançosa.

...

Sai pelo corredor, deixando Samuel descansar. Eu fiquei mais aliviada após vê-lo pessoalmente, vivo e respirando como devia ser.

Entretanto, meu bom humor demorou pouco.

— O que está fazendo aqui? — falei alterada ao ver Dino parado bem ali.

— Eu soube do acidente e fiquei preocupado — disse ele.

— Você ficou preocupado? Seu mentiroso! Você só se preocupa consigo mesmo! — disparei.

— Manuela, pelo amor de Deus. Estamos em um hospital — advertiu minha tia.

— Deixa, Dona Amália. Ela só está magoada comigo — falou Dino.

— Você nunca se preocupou com o Samuel. Sempre teve vergonha dele, mesmo ele sendo seu irmão!

Gritei tão forte que senti faltar ar em meus pulmões. Minhas mãos tremiam tamanha minha raiva.

— Como é? Eles são irmãos? — perguntou André chocado.

Aquilo era uma longa história.

— Eu sei que o magoei muito, mas estou profundamente arrependido. Vou pedir a ele mil desculpas — confessou Dino. — Preciso ter minha família perto de mim e também... eu quero você de volta Manuela.


— Não se atreva. Nunca mais diga isso! — falei irritada.

Eu estava fora de mim. Muito agitada por tudo que aconteceu com meu melhor amigo e agora, pela declaração inesperada de Dino. O que ele estava pensando? Que eu cairia aos seus pés?

O mundo começou a girar de repente e cambaleei para trás. O que estava acontecendo? As paredes do corredor começaram a se fechar e minha visão a escurecer.

— Manu. Você está bem? — disse André preocupado, analisando meu rosto pálido.

— Dio mio! Ela vai desmaiar — ouvi o senhor Giovanni dizer e no momento seguinte, não senti mais nada.

A escuridão tinha me engolido.

Doce MentiraOnde histórias criam vida. Descubra agora