Capítulo 8

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Na noite passada, André tinha oferecido carona até em casa e nem hesitei em aceitar sua oferta. Ele dirigiu até meu bairro e não houve muita conversa entre nós pelo caminho, falamos somente o necessário.

Ficou bem óbvio que nenhum de nós dois estávamos dispostos a expor nossas vidas um para o outro, depois da conversa no bar.

No entanto, era melhor que fosse assim, afinal nossa convivência girava em torno de uma mentira para que pudéssemos alcançar nossos próprios objetivos. Eu sabia que a única maneira de recuperar o prédio da confeitaria era cumprindo esse acordo e também sabia que estava metida nessa confusão absurda por causa de uma pessoa... Dino.

Aquele idiota havia vendido descaradamente o estabelecimento comercial e nos deixado na mão. Fala sério! Como eu pude gostar dele um dia?

- Tia Amália. Tô indo - disse batendo a porta de casa.

- Juízo, Manu! - escutei ela dizer.

Passei pelo jardim da frente, que minha tia tanto gostava de cuidar e chutei uma pedra na minha frente assim que pisei na calçada. Era cedo ainda, tinha acabado de amanhecer, mas eu precisava fazer uma coisa importante antes de aparecer no trabalho.

- Manuela, querida! Como você está? - perguntou dona Ivone.

Pisquei surpresa ao vê-la.

Acho que dona Ivone tinha saído na maior velocidade de casa, pois ainda estava de pijama. Quem não conhecia aquela mulher magricela e de olhos espertos, nem imaginava que era a maior fofoqueira do bairro, ela sabia da vida de todo mundo e pior... tinha me visto chegar tarde ontem, no carro de um "desconhecido".

- Estou levando. Sabe como é, tenho muito trabalho - contei.

- Imagino. Vi que chegou bem tarde ontem - disse ela. - Mas quem era aquele rapaz que te trouxe?

Essa não.

- Eu estou muito atrasada, dona Ivone. Depois a gente conversa, tá? - desconversei, saindo apressada de perto daquela mulher fofoqueira.

Eu não gostava de ser rude com as pessoas do bairro, tentava ser simpática mesmo nos dias mais corridos e desesperadores. Porém, enfrentar a dona Ivone pela manhã era terrível e sendo bem sincera, para ela ser uma bruxa só faltava a vassoura mesmo.

Corri até o ponto de ônibus e milagrosamente consegui encontrar um lugar vago.

Certo. Havia um plano a cumprir.

Eu tinha que encontrar André na construtora hoje cedo. Parece George Miller daria um pulo lá.

Desci do ônibus e encarei o enorme prédio cinzento na minha frente. Meu estômago embrulhou com nervosismo e antecipação, eu só esperava que estivesse fazendo a coisa certa.

Vaguei pelo hall de entrada meio abobalhada, era bem bonito e decorado. Não tinha muita gente nele e uma fileira de cadeiras estava ordenada em um canto para quem precisasse esperar.

Mandei mensagem para André, avisando que tinha chegado.

A resposta veio em seguida.

ESTOU TE ESPERANDO.

Qual o motivo do meu coração bater acelerado desse jeito? E minhas pernas que pareciam ter adquirido a mesma consistência de uma gelatina? Droga. Eu só estava indo ver o André, não era razão para ficar tão nervosa. Mas eu estava e muito!

Subi pelo elevador e quando a porta abriu presenciei o caos diante dos meus olhos.

Havia muita gente trabalhando naquele andar. Pude notar a papelada espalhada por entre as mesas, uma impressora que cuspia documentos freneticamente, a máquina de café que trabalhava sem descanso ali perto e o barulho de tec-tec-tec do teclado de algum computador.

Doce MentiraOnde histórias criam vida. Descubra agora