Eu sobrevivi ao incêndio.
Essa foi a primeira coisa que minha mente alertou quando abri os olhos e sentei bruscamente na maca do hospital. Meu corpo estava dolorido, principalmente na região da perna em que havia sido machucada pela mesa.
- Manuela, você acordou? - a voz de André soou ao meu lado.
Lágrimas inundaram meus olhos quando lhe encarei, nunca tinha o visto naquele estado.
Sua feição transbordava preocupação. Os olhos verdes estavam assustados enquanto me observava, seu cabelo negro se tornou uma bagunça de fios, a camisa branca de botões completamente amarrotada e as maçãs do seu rosto ficaram cobertas pela fuligem.
Ele se aproximou devagar e segurou meu rosto delicadamente como se tivesse medo que eu fosse quebrar.
- André! - falei, agarrando-o pelo pescoço.
Inspirei seu cheiro enquanto o abraçava, nunca me cansaria do seu perfume, uma mistura quente e reconfortante. Ele também logo se recuperou do meu ataque repentino e envolveu seus braços em minha cintura trazendo meu corpo para mais perto do dele. Seu aperto era firme, mas não me incomodei.
- Obrigada, por me salvar - sussurrei em seu ouvido. Se não fosse por André, não sei o que teria acontecido.
Seus lábios tocaram os meus brevemente, tinha um gosto doce e beirava a saudade.
- Não precisa agradecer. Eu te amo Manuela e não gostaria que nada ruim lhe acontecesse.
Abri um sorriso enorme.
- Te amo, André. Com todo o meu coração - respondi.
- Isso é ótimo, por que não pretendo te deixar sozinha. Nunca mais - disse ele fazendo uma promessa. - Só em pensar que quase perdi tudo, eu... quase perdi você, Manuela.
Segurei sua mão e só então percebi o discreto hematoma que se formou na lateral da sua cabeça.
- O que aconteceu com você? - perguntei. Estava óbvio que André tinha se machucado também, enquanto tentava me ajudar a escapar do incêndio.
Ele cerrou os dentes.
- Aquele miserável do doutor Vargas tentou escapar, mas eu não deixei. Entramos numa luta corporal e só larguei ele porque a polícia chegou - confessou. - Mas quando eu soube que você ainda estava presa em meio aquelas chamas, eu enlouqueci.
Beijei sua tempora levemente .
- Acho que sou a garota mais sortuda do mundo. Meu namorado é um herói.
André segurou o meu rosto.
- Então, acho que vou pedir minha recompensa agora.
- Ah, é? Tipo o quê? - falei brincando, quando sua boca aproximou-se da minha.
Seus lábios encontraram os meus novamente. Dessa vez, mais intenso, uma mistura de emoções das quais não pude descrever exatamente, apenas senti enquanto André me beijava. Foi maravilhoso.
- Acho que acabei de me apaixonar por você de novo - disse André.
Uma batida errante soou no meu peito. Eu estava muito feliz por tê-lo comigo.
Porém, antes que pudesse falar algo, um barulho soou na porta.
- Ai meu Deus! Ela acordou gente! - gritou Samuel.
Instantes depois, um pequeno grupo composto por tia Amália, Giovanni, Samuel, Dino e Rebeca adentraram na sala do hospital.
- Manu, como você está querida? - perguntou tia Amália.
- Eu cheguei antes, então, eu falo com ela primeiro - interrompeu meu melhor amigo.
- Samuel, não seja mal educado - reclamou Dino.
- Dio mio! Deixem a bambina falar - retrucou o senhor Giovanni.
Não pude evitar de sorrir. Essa era minha família, pequena e barulhenta.
- Eu estou bem - comecei a falar enquanto flashes invadiram minha mente e eu fui repassando tudo como ocorreu para eles.
Lembrar de tudo foi um pouco doloroso para mim. No entanto, contei tudo para eles. Sobre o ataque do doutor Vargas, quando fiquei presa, o incêndio e a chegada de André para me resgatar. Lembrei também do barulho de sirenes tocando com a chegada dos bombeiros e a voz desesperada de André flutuando ao longe, tentando me manter acordada. Não esqueci do sacolejo dentro da ambulância e do leve embrulho no meu estômago provocado pelo movimento.
- Pobrezinha - disse tia Amália segurando a minha mão.
Rebeca deu um passo a frente.
- Eu sinto muito, Manuela. Se eu soubesse que meu pai estava tramando, teria lhe contado antes.
Sacudi a cabeça.
- Não foi sua culpa.
André expôs para todos nós como tudo aconteceu. Fora Rebeca quem lhe informou sobre os planos de seu antigo sócio, ela percebeu a atitude suspeita do pai naquela noite e correu para avisar.
Quando soube o que Emílio Vargas pretendia fazer comigo, André não pensou duas vezes e dirigiu feito um louco até chegar a confeitaria onde eu trabalhava.
Por um milagre, ele conseguiu atravessar o salão principal e entrar na cozinha onde eu permanecia presa. Ele livrou minha perna do móvel pesado e me carregou em seus braços até sair do prédio em chamas.
A polícia também foi alertada sobre a situação, resultando na prisão de Emílio Vargas logo depois.
Seu atentado contra minha vida não foi o único crime que o sujeito cometeu. Pelo que soube, ele estava aplicando golpes em outros empresários para conseguir dinheiro já faziam cinco anos.
Sua filha, Rebeca, foi considerada inocente. Ela não sabia o que o pai tramava pelas suas costas.
- É, parece que a VERDADE e o AMOR sempre vencem - disse Samuel com um suspiro.
Dino enrugou o nariz.
- Isso não é uma novela, irmão! - ele repreendeu.
- Mas bem que poderia ser - reconheceu Rebeca baixinho.
Dino olhou para a jovem loira e suas bochechas assumiram um leve tom de vermelho. Será que um romance estaria surgindo ali?
- Acho que precisamos fazer uma comemoração - disse o senhor Giovanni.
- E o que vamos comemorar especificamente? - perguntei intrigada.
Giovanni abriu seu melhor sorriso.
- Vamos celebrar a vida.
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Doce Mentira
Teen FictionManuela Martins curtia viver sua vida simples na cidade. Dona de uma personalidade atrevida, decidida e de um coração generoso demais, ela jamais imaginou que algo pudesse abalar a sua vida. No entanto, tudo muda quando um aviso de despejo surge na...