Capítulo 35

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Eu sobrevivi ao incêndio.

Essa foi a primeira coisa que minha mente alertou quando abri os olhos e sentei bruscamente na maca do hospital. Meu corpo estava dolorido, principalmente na região da perna em que havia sido machucada pela mesa.

- Manuela, você acordou? - a voz de André soou ao meu lado.

Lágrimas inundaram meus olhos quando lhe encarei, nunca tinha o visto naquele estado.

Sua feição transbordava preocupação. Os olhos verdes estavam assustados enquanto me observava, seu cabelo negro se tornou uma bagunça de fios, a camisa branca de botões completamente amarrotada e as maçãs do seu rosto ficaram cobertas pela fuligem.

Ele se aproximou devagar e segurou meu rosto delicadamente como se tivesse medo que eu fosse quebrar.

- André! - falei, agarrando-o pelo pescoço.

Inspirei seu cheiro enquanto o abraçava, nunca me cansaria do seu perfume, uma mistura quente e reconfortante. Ele também logo se recuperou do meu ataque repentino e envolveu seus braços em minha cintura trazendo meu corpo para mais perto do dele. Seu aperto era firme, mas não me incomodei.

- Obrigada, por me salvar - sussurrei em seu ouvido. Se não fosse por André, não sei o que teria acontecido.

Seus lábios tocaram os meus brevemente, tinha um gosto doce e beirava a saudade.

- Não precisa agradecer. Eu te amo Manuela e não gostaria que nada ruim lhe acontecesse.

Abri um sorriso enorme.

- Te amo, André. Com todo o meu coração - respondi.

- Isso é ótimo, por que não pretendo te deixar sozinha. Nunca mais - disse ele fazendo uma promessa. - Só em pensar que quase perdi tudo, eu... quase perdi você, Manuela.

Segurei sua mão e só então percebi o discreto hematoma que se formou na lateral da sua cabeça.

- O que aconteceu com você? - perguntei. Estava óbvio que André tinha se machucado também, enquanto tentava me ajudar a escapar do incêndio.

Ele cerrou os dentes.

- Aquele miserável do doutor Vargas tentou escapar, mas eu não deixei. Entramos numa luta corporal e só larguei ele porque a polícia chegou - confessou. - Mas quando eu soube que você ainda estava presa em meio aquelas chamas, eu enlouqueci.

Beijei sua tempora levemente .

- Acho que sou a garota mais sortuda do mundo. Meu namorado é um herói.

André segurou o meu rosto.

- Então, acho que vou pedir minha recompensa agora.

- Ah, é? Tipo o quê? - falei brincando, quando sua boca aproximou-se da minha.

Seus lábios encontraram os meus novamente. Dessa vez, mais intenso, uma mistura de emoções das quais não pude descrever exatamente, apenas senti enquanto André me beijava. Foi maravilhoso.

- Acho que acabei de me apaixonar por você de novo - disse André.

Uma batida errante soou no meu peito. Eu estava muito feliz por tê-lo comigo.

Porém, antes que pudesse falar algo, um barulho soou na porta.

- Ai meu Deus! Ela acordou gente! - gritou Samuel.

Instantes depois, um pequeno grupo composto por tia Amália, Giovanni, Samuel, Dino e Rebeca adentraram na sala do hospital.

- Manu, como você está querida? - perguntou tia Amália.

- Eu cheguei antes, então, eu falo com ela primeiro - interrompeu meu melhor amigo.

- Samuel, não seja mal educado - reclamou Dino.

- Dio mio! Deixem a bambina falar - retrucou o senhor Giovanni.

Não pude evitar de sorrir. Essa era minha família, pequena e barulhenta.

- Eu estou bem - comecei a falar enquanto flashes invadiram minha mente e eu fui repassando tudo como ocorreu para eles.

Lembrar de tudo foi um pouco doloroso para mim. No entanto, contei tudo para eles. Sobre o ataque do doutor Vargas, quando fiquei presa, o incêndio e a chegada de André para me resgatar. Lembrei também do barulho de sirenes tocando com a chegada dos bombeiros e a voz desesperada de André flutuando ao longe, tentando me manter acordada. Não esqueci do sacolejo dentro da ambulância e do leve embrulho no meu estômago provocado pelo movimento.

- Pobrezinha - disse tia Amália segurando a minha mão.

Rebeca deu um passo a frente.

- Eu sinto muito, Manuela. Se eu soubesse que meu pai estava tramando, teria lhe contado antes.

Sacudi a cabeça.

- Não foi sua culpa.

André expôs para todos nós como tudo aconteceu. Fora Rebeca quem lhe informou sobre os planos de seu antigo sócio, ela percebeu a atitude suspeita do pai naquela noite e correu para avisar.

Quando soube o que Emílio Vargas pretendia fazer comigo, André não pensou duas vezes e dirigiu feito um louco até chegar a confeitaria onde eu trabalhava.

Por um milagre, ele conseguiu atravessar o salão principal e entrar na cozinha onde eu permanecia presa. Ele livrou minha perna do móvel pesado e me carregou em seus braços até sair do prédio em chamas.

A polícia também foi alertada sobre a situação, resultando na prisão de Emílio Vargas logo depois.

Seu atentado contra minha vida não foi o único crime que o sujeito cometeu. Pelo que soube, ele estava aplicando golpes em outros empresários para conseguir dinheiro já faziam cinco anos.

Sua filha, Rebeca, foi considerada inocente. Ela não sabia o que o pai tramava pelas suas costas.

- É, parece que a VERDADE e o AMOR sempre vencem - disse Samuel com um suspiro.

Dino enrugou o nariz.

- Isso não é uma novela, irmão! - ele repreendeu.

- Mas bem que poderia ser - reconheceu Rebeca baixinho.

Dino olhou para a jovem loira e suas bochechas assumiram um leve tom de vermelho. Será que um romance estaria surgindo ali?

- Acho que precisamos fazer uma comemoração - disse o senhor Giovanni.

- E o que vamos comemorar especificamente? - perguntei intrigada.

Giovanni abriu seu melhor sorriso.

- Vamos celebrar a vida.






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