Capítulo 32

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— Tem certeza que está bem? — perguntou André ao meu lado.

— Eu tô legal! — respondi.

Segundo as pessoas que me socorreram, meu desmaio tinha sido provocado pela carga de estresse que sofri mais cedo. Enfrentar que o seu melhor amigo sofreu um acidente e brigar com o ex-namorado no mesmo dia devia ter feito uma bagunça mesmo em minha cabeça.

O fato é que após o desmaio, as coisas ficaram confusas. Minha tia Amália achou que eu estivesse grávida e meu patrão pensou que ela estava certa, um absurdo é claro. Meu namorado por outro lado, ficou mil vezes mais preocupado com minha saúde e queria me levar para casa.

Não concordei.

Só iria sair do hospital com o Samuel junto e ponto!

— Então, deixe-me pelo menos comprar algo para você comer — disse André.

— Não estou com fome.

— Manuela, você precisa comer — repreendeu.

Encostei a cabeça em seu ombro.

— Eu prometo que mais tarde engulo alguma coisa.

Ele bufou irritado.

— Teimosa.

— É melhor você se acostumar.

— E te deixar com fome? Nunca! Vou comprar pelo menos um suco — avisou e saiu em direção ao refeitório.

Fiquei encostada na poltrona e em algum momento entrei num sono profundo. 

Essa era uma das desvantagens de estar em um hospital, você se esgotava rapidamente, tanto físico como mentalmente. O ambiente também não colaborava, sempre  frio e deprimente.

— Manu? — disse alguém, sacudindo meu ombro lentamente.

— Tia Amália?

Ela sorriu.

— Você dormiu, querida — avisou.

Vasculhei o lugar, procurando por André.

— Seu namorado não está aqui, saiu faz uns cinco minutinhos. Parece que aconteceu alguma urgência lá na construtora e ele não quis te acordar — disse ela. — No entanto, ele deixou sua refeição e implorou que fizesse você comer tudo!

Meus olhos se arregalaram ao ver o prato. Era enorme. Carregado de salada, carne e alguns grãos. O suco que André tinha prometido também estava ali.

Abri um sorriso.

— Ele não para de surpreender — confessei.

— Ele é um rapaz maravilhoso — concordou minha tia.

Naquela noite, tia Amália e eu dividimos a refeição. Que estava muito saborosa e suculenta por sinal.

...

Pela manhã, levantei bem cedo para saber notícias de Samuel.

Tia Amália havia ido para casa e prometeu dar uma passada na Doce & Massa para saber como andavam as coisas, e também me garantiu que viria ao hospital mais tarde para trazer umas roupas limpas para mim.

André mandou mensagem para saber do estado de Samuel e pediu desculpas por sair na noite anterior abruptamente.

— Bom dia — falei para a enfermeira, abrindo meu melhor sorriso quando cheguei na recepção.

A enfermeira me reconheceu de imediato, após o surto que dei ontem. Gentilmente, a funcionária me conduziu até o quarto onde meu amigo estava internado.

— Se precisar, estarei aqui perto — avisou a enfermeira.

— Obrigada — falei, enquanto fechava a porta.

Sentei na ponta da cama observando Samuel, ele parecia tranquilo. 

Uma mecha do cabelo loiro escapava das faixas, contornando o rosto fino. Uma fina barba já começava a crescer, dando-lhe um ar mais sério e seu corpo estava ficando mais esguio que o habitual.

— Sinto sua falta. Você bem que poderia acordar logo — comecei a falar. — É sério, essas paredes brancas não combinam com você, não são nada atraentes...

Um bip frenético começou a soar no monitor, deixando-me assustada.

Tropecei quando corri para chamar a enfermeira até o quarto, porém, a voz de Samuel interrompeu que eu desse mais um passo para fora.

Seus olhos azuis estavam abertos e me fitavam atentamente.

— Manuela — sussurrou.

Não me contive, avancei em sua direção caindo com tudo ao seu lado. Lágrimas ensopavam meu rosto, ao mesmo tempo que agarrava meu amigo pelos ombros.

— Samuel! Você acordou! — explodi de felicidade.

— Está doendo. Pega leve, Manu — disse ele.

— Desculpe — funguei. — É muito bom conversar com você de novo. Está tudo bem com você? Lembra do que aconteceu?

Ele assentiu.

— Eu lembro de tudo — respondeu. — Inclusive, você devia estar na praia com o André.

Confirmei.

— Eu vim correndo pra cá quando soube do seu acidente. Fiquei muito aflita, nunca mais me assuste desse jeito.

Um esboço de sorriso surgiu em seus lábios.

— Você é a melhor amiga que eu poderia ter. Obrigado por estar comigo.

Engoli em seco.

— Você sabe que é como irmão para mim — disse abraçando-o outra vez. — Vou avisar os outros que você acordou e chamar um médico também.

Samuel segurou minha mão interrompendo que eu fosse.

— Preciso lhe contar uma coisa.

— O que houve?

Samuel controlou a respiração antes de soltar a próxima frase.

— Não foi um acidente. Acho que tentaram acabar com a minha vida.

Doce MentiraOnde histórias criam vida. Descubra agora