— Tem certeza que está bem? — perguntou André ao meu lado.
— Eu tô legal! — respondi.
Segundo as pessoas que me socorreram, meu desmaio tinha sido provocado pela carga de estresse que sofri mais cedo. Enfrentar que o seu melhor amigo sofreu um acidente e brigar com o ex-namorado no mesmo dia devia ter feito uma bagunça mesmo em minha cabeça.
O fato é que após o desmaio, as coisas ficaram confusas. Minha tia Amália achou que eu estivesse grávida e meu patrão pensou que ela estava certa, um absurdo é claro. Meu namorado por outro lado, ficou mil vezes mais preocupado com minha saúde e queria me levar para casa.
Não concordei.
Só iria sair do hospital com o Samuel junto e ponto!
— Então, deixe-me pelo menos comprar algo para você comer — disse André.
— Não estou com fome.
— Manuela, você precisa comer — repreendeu.
Encostei a cabeça em seu ombro.
— Eu prometo que mais tarde engulo alguma coisa.
Ele bufou irritado.
— Teimosa.
— É melhor você se acostumar.
— E te deixar com fome? Nunca! Vou comprar pelo menos um suco — avisou e saiu em direção ao refeitório.
Fiquei encostada na poltrona e em algum momento entrei num sono profundo.
Essa era uma das desvantagens de estar em um hospital, você se esgotava rapidamente, tanto físico como mentalmente. O ambiente também não colaborava, sempre frio e deprimente.
— Manu? — disse alguém, sacudindo meu ombro lentamente.
— Tia Amália?
Ela sorriu.
— Você dormiu, querida — avisou.
Vasculhei o lugar, procurando por André.
— Seu namorado não está aqui, saiu faz uns cinco minutinhos. Parece que aconteceu alguma urgência lá na construtora e ele não quis te acordar — disse ela. — No entanto, ele deixou sua refeição e implorou que fizesse você comer tudo!
Meus olhos se arregalaram ao ver o prato. Era enorme. Carregado de salada, carne e alguns grãos. O suco que André tinha prometido também estava ali.
Abri um sorriso.
— Ele não para de surpreender — confessei.
— Ele é um rapaz maravilhoso — concordou minha tia.
Naquela noite, tia Amália e eu dividimos a refeição. Que estava muito saborosa e suculenta por sinal.
...
Pela manhã, levantei bem cedo para saber notícias de Samuel.
Tia Amália havia ido para casa e prometeu dar uma passada na Doce & Massa para saber como andavam as coisas, e também me garantiu que viria ao hospital mais tarde para trazer umas roupas limpas para mim.
André mandou mensagem para saber do estado de Samuel e pediu desculpas por sair na noite anterior abruptamente.
— Bom dia — falei para a enfermeira, abrindo meu melhor sorriso quando cheguei na recepção.
A enfermeira me reconheceu de imediato, após o surto que dei ontem. Gentilmente, a funcionária me conduziu até o quarto onde meu amigo estava internado.
— Se precisar, estarei aqui perto — avisou a enfermeira.
— Obrigada — falei, enquanto fechava a porta.
Sentei na ponta da cama observando Samuel, ele parecia tranquilo.
Uma mecha do cabelo loiro escapava das faixas, contornando o rosto fino. Uma fina barba já começava a crescer, dando-lhe um ar mais sério e seu corpo estava ficando mais esguio que o habitual.
— Sinto sua falta. Você bem que poderia acordar logo — comecei a falar. — É sério, essas paredes brancas não combinam com você, não são nada atraentes...
Um bip frenético começou a soar no monitor, deixando-me assustada.
Tropecei quando corri para chamar a enfermeira até o quarto, porém, a voz de Samuel interrompeu que eu desse mais um passo para fora.
Seus olhos azuis estavam abertos e me fitavam atentamente.
— Manuela — sussurrou.
Não me contive, avancei em sua direção caindo com tudo ao seu lado. Lágrimas ensopavam meu rosto, ao mesmo tempo que agarrava meu amigo pelos ombros.
— Samuel! Você acordou! — explodi de felicidade.
— Está doendo. Pega leve, Manu — disse ele.
— Desculpe — funguei. — É muito bom conversar com você de novo. Está tudo bem com você? Lembra do que aconteceu?
Ele assentiu.
— Eu lembro de tudo — respondeu. — Inclusive, você devia estar na praia com o André.
Confirmei.
— Eu vim correndo pra cá quando soube do seu acidente. Fiquei muito aflita, nunca mais me assuste desse jeito.
Um esboço de sorriso surgiu em seus lábios.
— Você é a melhor amiga que eu poderia ter. Obrigado por estar comigo.
Engoli em seco.
— Você sabe que é como irmão para mim — disse abraçando-o outra vez. — Vou avisar os outros que você acordou e chamar um médico também.
Samuel segurou minha mão interrompendo que eu fosse.
— Preciso lhe contar uma coisa.
— O que houve?
Samuel controlou a respiração antes de soltar a próxima frase.
— Não foi um acidente. Acho que tentaram acabar com a minha vida.
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Doce Mentira
Teen FictionManuela Martins curtia viver sua vida simples na cidade. Dona de uma personalidade atrevida, decidida e de um coração generoso demais, ela jamais imaginou que algo pudesse abalar a sua vida. No entanto, tudo muda quando um aviso de despejo surge na...