Capítulo 16

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Pulei de susto, quando a porta da confeitaria abriu bruscamente.

- Quase borrei as calças agora, Samuel! - reclamei.

- Pelo jeito que se assustou, devia estar pensando em sacanagem - falou ele, exibindo os dentes brancos.

Se ele soubesse o que aconteceu ontem, lá em casa.

- Para com isso. Desliga essa câmera agora! - briguei com Samuel, quando ele apontou aquela coisa em minha direção.

Meu amigo tornou-se frequentador assíduo no meu trabalho, desde que largou seu emprego na revista de doces e começou a atuar como freelancer. Pelo que Samuel me contou estava dando muito certo, já que conseguiu arrumar alguns trabalhos interessantes.

- Não vai dar gata. Preciso de uma cobaia para testar minha nova máquina e adivinha quem foi à escolhida?

Gemi.

- Tem certeza? Existem coisas mais legais para você gravar.

- Absoluta. Então, o que você está fazendo?

Voltei ao trabalho em cortar o bolo que tinha preparado e Samuel focou bem ali.

- Se chama "Red Velvet" - expliquei.

- É vermelho, por isso que tem esse nome?

Assenti.

- O Red Velvet se popularizou em meados dos anos 40, exatamente no período da Segunda Guerra Mundial - comentei. - Por conta da guerra houve um racionamento de alimentos, que obrigou os confeiteiros a utilizarem sua criatividade. A opção foi o uso da beterraba para substituir o açúcar e ainda deixar a massa vermelha.

- Caramba! Isso é incrível.

- Eu sei. Você tem que provar o bolo.

- Desse jeito, não poderei faltar na academia - resmungou ele.

Separei um pedaço do bolo e lhe entreguei um garfo.

- Aproveite!

Esperei que ele ficasse com a boca cheia, para que não pudesse falar nenhuma besteira e soltei a bomba.

- André esteve em minha casa ontem. Tia Amália finalmente o conheceu.

Samuel engasgou, congelando outra garfada quase a meio caminho da boca.

- O quê?! - exclamou chocado. - Não me diga que vocês dois ficaram grudados no sofá, sozinhos.

- Não fizemos isso.

- Mas rolou beijo, né? Diz que aconteceu, por favor!

Bufei.

- Até parece. O coitado do André acabou queimando a língua com chá, por causa das perguntas indiscretas da tia Amália. Você sabe como ela é - reclamei.

- E?

- Nada mais. Foi horrível! Ele não ficou muito tempo lá em casa, principalmente por que tia Amália flagrou André pelado na nossa sala.

Meu amigo riu.

- Sua safada. O que está escondendo?

- Eu juro que não aconteceu nada. Ele só estava molhado e precisava trocar de roupa, por causa do incidente que ocorreu ontem. Você soube né?

Ele confirmou e depois fez um biquinho de decepção.

- Poxa, Manuela. Que coisa mais sem graça, como você ainda não agarrou aquele gostosão? Você é cega ou o quê?

- Mas eu já beijei! Beijei o André - soltei sem querer.

Samuel escancarou a boca.

- Como assim? Quando pretendia me contar? - perguntou para mim.

- Não tive chance.

- Você gosta dele?

Senti meu rosto queimar como brasa. Droga, por que ele tinha que ficar mexendo nesses assuntos? Eu estava confusa, diante dos acontecimentos nas últimas semanas. Não era capaz de dar uma resposta concreta.

Felizmente meu celular tocou.

- Alô? - atendi rapidamente, agradecendo mentalmente a pessoa que tinha ligado.

- Manuela, está ocupada? - falou uma voz masculina.

- André? O que houve? - questionei ao notar sua voz estranha.

- Acabou - disse ele. - George Miller cancelou o contrato.

Doce MentiraOnde histórias criam vida. Descubra agora