Capítulo 22

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Peguei minha bolsa prateada e, quando estávamos prestes a nos despedir de Henrique e Margarida para partir dali, alguém surgiu em nossa mesa.

— André, tenho uma notícia horrível! — contou o Doutor Vargas surgindo de repente.

Esse homem, havia alguma coisa nele que me deixava muito incomodada. Talvez sua hostilidade comigo tenha despertado esse sentimento de desconfiança, mas o fato é, que eu não gostava dele.

— O que houve? — perguntou André.

— Nosso caminhão foi roubado! Perdemos toda a carga do material importado — informou.

André soltou um xingamento.

— Como?

— Foi tudo tão rápido. Parece que os assaltantes sabiam de tudo, inclusive os horários de transportação — disse.

— Alguém se machucou? 

— Não. Os funcionários estão bem.

Com certeza, esse roubo traria grandes problemas para André. Isso me cheirava a trapaça.

— E agora? — falou André desesperado. — Sem o material, não haverá progresso na obra. Também não temos mais verba para repor o material. Droga!

Fiquei bem ao seu lado, segurando seu rosto entre minhas mãos.

— Ei. Sempre existe uma solução — disse baixinho, para que somente ele ouvisse.

Ele sacudiu a cabeça.

— Não sei o que vai ser de mim, acho melhor eu desistir. Tudo está dando errado!

— Concordo com você, André — disse o Doutor Vargas. — Não há qualquer possibilidade do negócio funcionar agora.

Tomei fôlego.

— Não! Você não vai largar tudo agora, não quando chegou até aqui — tento convencer André.

— Sinceramente, não sei o que fazer — ele me diz. 

— Só precisamos de tempo. Tenho certeza que tudo pode ser resolvido.

Emílio Vargas fez uma cara de desdém e eu o vejo olhando para os pais de André, que estão diplomaticamente focados em seus convidados e completamente alheios a conversa que está rolando entre nós.

— É melhor deixar Henrique e Margarida fora disso — provoco, quando vejo as intenções do Doutor Vargas de contar tudo para eles.

— Se você se acha tão esperta, o que devemos fazer? — soltou ele irritado.

— Está na hora do plano B.

. . .

— O plano B é — Fabiano disse, ainda sem desgrudar os olhos do laptop — que vocês façam uma viagem de verão. Para a praia. Vai ser muito mais fácil enrolar George e Alice Miller se estiverem ao redor deles.

— Eu não quero enrolar ninguém — respondeu André mal humorado. — Além disso, não posso ir a praia quando tenho um projeto para concluir. Ficou maluco?

Fabiano se inclinou para frente, seu sorriso se tornando ameaçador.

— Você vai sim — ele diz. — Enquanto isso vou mexer uns pauzinhos por aqui e dar um jeito nessa bagunça!

— André, estamos tentando ajudar — pedi encarando seu rosto. Ele parecia mais magro, pela primeira vez percebi uma leve sombra violeta sob seus olhos.

Suspirando, André jogou as mãos para cima.

— Ok. Mas eu quero tudo resolvido em uma semana. TUDO. O problema com o material importado, entendido?

— Parece um termo meio-justo — disse Fabiano. — O cronograma de verão de vocês já está fechado, incluindo bebedeira e indecência.

— Fabiano! — André reclamou, as bochechas ficando rosadas e os olhos fuzilando o amigo.

— Desculpa, desculpa — ele falou com um aceno de mão.

— Então, está marcado? — perguntei, sentindo o estômago revirar.

Fabiano abriu um sorriso.

— Já pode arrumar suas malas, Manuela.

Doce MentiraOnde histórias criam vida. Descubra agora