Capítulo 10

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Fiquei muito ocupada pelo resto do dia, já tinha feito meia dúzia de tortas de banana, cobri uma fornada de cupcakes e agora preparava os brigadeiros. Acontece que a Doce & Massa estava recebendo muitos pedidos e, ao mesmo tempo em que isso me deixava animada, também ficava apavorada.

O tempo estava correndo bem rápido (rápido demais!) e a data do despejo estava na nossa cola.

– Olá, Manuzinha. O que você está aprontando? – perguntou Samuel, parado na porta.

– E aí? O que veio fazer aqui?

– Conversar com você, é claro – falou revirando os olhos. – Faz tempo que não te vejo garota.

Lavei as mãos.

– Tudo anda tão corrido, que praticamente estou morando na confeitaria – contei.

Puxei Samuel para um canto, para que meu patrão não ouvisse nossa conversa.

– Estou pensando como vou contar para o senhor Giovanni que não vamos mais precisar sair daqui, quando chegar a hora – murmurei.

Seus olhos azuis arregalaram.

– Já imaginei isso. Que confusão!

– Ele é orgulhoso. Pode não aceitar.

– Você pode dizer que ganhou o dinheiro como stripper e comprou o prédio — sugeriu Samuel.

– Não! Chega de mentiras.

Senti meu rosto pegar fogo. Não sabia onde meu amigo arrumava essas ideias tão absurdas.

Samuel bufou.

– Sem graça.

Nós dois nos assustamos quando tia Amália apareceu. Suas compras escorregaram das sacolas de plástico penduradas em seus braços e espalharam-se pelo chão da confeitaria.

Corri para ajudá-la.

– Já saquei que esse negócio de derrubar as coisas é genético – alfinetou Samuel, correndo para ajudar minha tia.

Soquei seu braço e seus olhos extremamente azuis focaram em mim. Eles claramente diziam que nossa conversa anterior não estava encerrada.

– Trouxe suas tintas, querida – disse tia Amália animada.

Peguei o pacote e dei uma olhada.

Eram tintas comestíveis para bolo. Segurei um potinho na mão, era um verde intenso. Da mesma coloração dos olhos de certo arquiteto irritante.

– Obrigada, tia Amália – falei a abraçando.

– De nada, querida — respondeu. — Ah! Quase esqueci! A Joice e a Ivone vão lá para casa Sábado à noite. Você sabe, uma reunião só com as garotas. Elas perguntaram se você poderia fazer aqueles docinhos deliciosos.

– Sério que a senhora vai dar uma festinha? – brincou Samuel, jogando o cabelo loiro pro lado.

– Claro. Eu ainda sei me divertir – contou minha tia, dando uma piscada.

Samuel riu.

– Imagino que será bem divertida, essa noite com as meninas – continuou ele. – Mas creio que a Manu vai estar muito ocupada para participar disso.

Tia Amália arqueou uma sobrancelha, um ponto de interrogação se formando no meio da testa.

Não gostei daquilo.

– Sabe, a Manuela tem outros planos, dona Amália. Ela pretende sair com o namorado – ele soltou.

– O quê?! – gritei.

Observei alarmada quando um pequeno sorriso surgiu no canto da boca de tia Amália e suas íris amarronzadas brilharam encantadas por causa do que meu amigo havia dito. Ela parecia empolgadíssima com a novidade e para meu desespero, também muito curiosa.

– Manuela, você não me contou que estava namorando. Quando vou conhecê-lo hein?

Olhei feio para Samuel.

– Tia. Não é bem assim...

– Besteira! Não acredito que você ia cancelar seu encontro por minha causa – brigou. – Ah, Manu! Estou tão feliz por você ter conhecido alguém.

Droga. O que deu no meu amigo para fazer isso? Ele merecia umas belas bofetadas agora. Eu tinha problemas demais para resolver e, Samuel tinha provocado outro com essa conversinha de namorado.

– Por que fez isso? – perguntei a Samuel, com os dentes cerrados.

– Você não pode contar a verdade agora, Manuela. Só estou preparando o terreno para quando o grande dia chegar.

— Ah, é? E como isso vai me ajudar?

— Apenas confie em mim.

Suspirei derrotada.

– Como é o nome dele? – questionou tia Amália, curiosa.

– N-nome?

– Exato. Toda pessoa tem um.

– É que...

Ela colocou a mão com as unhas pintadas de vermelho na cintura, meio intrigada.

– Você tem namorado mesmo, Manu? Ou será que, está metida em alguma encrenca?

Opa.

– Claro que tem. Ele está louco por ela – intrometeu-se Samuel. – Disse que não vê a hora de conhecê-la.

Belisquei meu amigo para advertí-lo.

– Sério? Isso é muito bom! Quando ele vai nos visitar, querida?

Mordi o lábio.

– Eu não sei tia. Ele está viajando – menti.

– Quem é... ELE? Por que não me conta de uma vez como seu namorado se chama? – falou impaciente.

Não dava para voltar atrás. Cedo ou tarde, ela ficaria sabendo de alguma coisa e para evitar mais escândalo soltei o nome que preenchia meus pensamentos o tempo todo.

– Ele se chama André – contei.

Um prato se espatifou no chão e todos nós viramos para saber o que tinha acontecido. Para minha pouca sorte, lá estava o senhor Giovanni com uma expressão surpresa no rosto.

Caramba! Agora sim, eu estava absolutamente... ferrada.

Doce MentiraOnde histórias criam vida. Descubra agora