Capítulo 23

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Bati a porta do carro com tanta força que assustei André ao meu lado. Eu estava tão furiosa que minhas unhas apertavam as palmas a ponto de machucá-las. Como ele tinha ousado fazer isso? Por acaso pensou que eu nunca descobriria?

— Mas que diabo é isso?  Você ficou a viagem toda se comportando de uma maneira esquisita — perguntou André, sentindo a tensão entre nós.

Inclinei o corpo para frente, fazendo meus olhos se demorarem nele. O rosto de André estava pacífico demais para meu gosto e, naquele momento, tive vontade de esbofetear ele.

— Quando você pretendia me contar. Hein?

— Contar? O quê?

— Você falou com o senhor Giovanni!  Tramou pelas minhas costas — falei pausadamente.

Não tinha falado nada durante nossa viagem até o litoral, pois o casal Miller estava com a gente. No entanto, agora que estávamos a sós, queria passar toda essa história a limpo.

André limpou a garganta e disse:

— Manu. Eu só estava tentando ajudar...

— Você escondeu de mim! — explodi.

— Sinto muito. Eu só queria...

— Eu pedi André para ser completamente sincero. Por que fez isso? Não foi o que combinamos — falei chateada.

Ele bufou.

— Se você deixar eu falar, tenho certeza que posso explicar tudo.

— Anda logo. Desembucha! — falei zangada.

André cruzou os braços, fazendo aquela pose de mandão.

— Ouça o que tenho a dizer, sem julgamentos.

— Tudo bem — digo, com seriedade e olho para ele.

— Eu não procurei seu patrão, na verdade, ele me procurou. Ele achou que fosse uma boa ideia te inscrever nesse concurso de confeitaria — começou ele. — Já que estamos aqui, seria uma boa oportunidade. Você pode até ganhar esse concurso e se tornar uma confeitaria conhecida e renomada.

O concurso de verão para jovens confeiteiros aconteceria no final de semana e eu estava inscrita nele sem saber de absolutamente nada, até um e-mail aparecer na minha caixa de entrada pela manhã.

— Duvido que seja fácil assim. Eu não estou preparada e o senhor Giovanni sabe disso— comentei. — O que mais você está fazendo escondido?

Ele ia me falar alguma coisa, mas fomos interrompidos pelo funcionário do hotel.

Em seguida, nossas malas foram carregadas até um ÚNICO quarto. Estranhei aquilo, devia ser dois.

Explorei o ambiente.

O lugar era espaçoso e bem aconchegante. A luz do sol entrava pelo cômodo dando a claridade necessária para o lugar, inclusive banhava algumas plantas que estavam espalhadas pelo quarto. Havia um sofá creme elegante, com uma tv na frente dele presa na parede.

Meus olhos grudaram na cama presente ali. Era muito grande, caberia umas três pessoas facilmente nela, mas eu não estava disposta a dividi-la com ninguém.

— André. Este é meu quarto, certo? — falei tensa.

Ele notou o nervosismo presente em minha voz, até que seus olhos finalmente pousaram no alvo da minha inquietação. A cama.

André suspirou.

— Parece que Fabiano andou tramando pelas minhas costas. O miserável reservou apenas um quarto para nós dois — soltou.

— E agora? O que vamos fazer?

— Simples. Conseguirei outro quarto para mim.

Fiquei observando André conversar com o funcionário do hotel pelo telefone. A cada minuto, ele parecia ficar mais irritado.

— Não vai rolar — disse ele colocando o telefone de volta no gancho. — Todos os quartos foram preenchidos.

Só podia ser piada.

— Eu não durmo com mentirosos. Você vai dormir no sofá — alfinetei.

— Por Deus, Manuela. Eu não menti para você, só estava esperando a oportunidade certa para lhe contar.

Estreitei os olhos.

— Ah, é? E quando seria isso?

Meu celular começou a tocar.

Isso já estava ficando chato, toda hora alguém atrapalhava nossa conversa. Era a senhora Miller.

— Alô?

— Hello, querida! Estamos esperando vocês para explorar o lugar.

— Estamos indo — avisei.

Seria um longo dia!

Doce MentiraOnde histórias criam vida. Descubra agora