Capítulo 24

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Fazia um calor infernal na praia. Por isso, resolvi abandonar o meu posto com os outros e ir em busca de algo gelado para consumir.

Entretanto, um grande arrependimento me bateu assim que encarei a fila quilométrica na minha frente, iria ser uma grande luta conseguir minha tão desejada casquinha.

André acenou na minha direção oferecendo ajuda, porém recusei de imediato. Ainda estava chateada.

Dali de onde estava, eu podia observar seu corpo bronzeado e completamente em forma. Ele era lindo sem camisa, simplesmente não conseguia desgrudar os olhos dele.

Alguém cutucou minhas costas.

- Moça, a fila está andando.

- Valeu por avisar - agradeci ao garoto de oito anos. Suas bochechas eram fofas, o nariz salpicado de sardas e a pele estava vermelha devido a falta do protetor solar.

Ele me encarou, antes de soltar uma pergunta.

- Você é atriz?

- Não. Por quê?

- Achei que tinha lhe visto na tv.

Sorri para ele.

- Acho que você confundiu.

Comprei uma casquinha para mim e outra para o garoto. Ele correu rapidamente até seus pais que observavam e aguardavam seu retorno ali perto.

Estava pronta para degustar minha casquinha, mas algo me paralisou.

Sabe aquela sensação de estar sendo observado? Pois é, estava sentindo uma nesse momento.

Não sei explicar direito, mas comecei a observar as pessoas na praia mais atentamente. Porém, não foi preciso procurar por muito tempo, o alvo do meu desconforto estava na minha frente. O choque foi tamanho que o meu sorvete foi parar no chão, coberto pela areia.

- Oi, Manuela. Já faz muito tempo desde a última vez que te vi.

Meu rosto congelou em uma expressão surpresa e infeliz. Era Dino.

Nenhuma palavra saiu da minha boca. Foi doloroso vê-lo novamente em carne e osso, parado na minha frente. Dino reacendeu memórias que por muito tempo tentei apagar e isso não era justo.

Engoli em seco.

- Você.

Ele coçou a cabeça, acanhado.

- É. Quer que eu te compre outra casquinha?

Dino estava diferente. O cabelo castanho tinha ficado mais curto, suas roupas já não eram mais simples e sim muito caras, porém a maldita covinha de quando sorria ainda permanecia do mesmo jeito no canto da boca.

- Não. Eu me viro - respondi seca.

Seus olhos castanhos me analisaram.

- Deixa vai, Manu. É só um sorvete - pediu.

Meus olhos encheram de lágrimas, as lembranças me atingiam como bombas. Eu tinha o amado, era perdidamente apaixonada pelo Dino. Mas o que ele fez? Quebrou a porra do meu coração!

Dei as costas para ele. Eu tinha que me afastar, não estava preparada para isso.

Tolamente imaginei que, no dia que encontrasse novamente com o Dino, poderia dizer tudo que estava preso na minha garganta. Porém, a realidade era dura e diferente, eu estava a ponto de chorar.

- Manuela, fala comigo - disse Dino segurando meu pulso.

Sentir seu toque novamente era como brasa, digo de uma forma dolorosa. Entretanto, o contato de Dino não durou muito tempo, pois alguém me livrou do aperto de sua mão.

Senti um abraço forte em volta do meu corpo e permaneci presa nele. Foi reconfortante. Dava para sentir a respiração pesada de um certo alguém em minha nuca e nem precisei olhar para saber quem foi a pessoa responsável por dar um beijo no topo da minha cabeça.

- André? - falou Dino surpreso ao observar ele agarrado em mim.

Óbvio que os dois se conheciam, afinal Dino tinha vendido o prédio da confeitaria para ele.

- Como vai Fernando? Não esperava vê-lo aqui - disse André para ele.

Dino pareceu inquieto, olhando com descrença para mim e depois para André.

- Vocês dois estão... juntos? - a última palavra saiu amarga da boca de Dino.

- Sim. A Manuela é minha namorada - André falou sério.

Fiquei surpresa com suas palavras.

- Isso é verdade? - Dino perguntou para mim, ignorando André.

- Sim – consegui responder.

André interrompeu nossa conversa ao perceber meu desconforto com toda a situação.

- Sua casquinha já era. Vem, vamos arranjar outra - avisou ele, fazendo meus pés desgrudarem do chão.

- Tudo bem - respondi.

- Acho que é aqui nos separamos - disse André de forma educada para meu ex, parecia forçado.

Ele encarou Dino de um jeito estranho, eu nunca tinha o visto agir com alguém daquela forma.




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