Procuramos a estagiária em cada canto da construtora. Com exceção de George Miller é claro. Ele havia partido mais cedo e esperava por notícias da possível sabotagem.
– Gomes. Cadê a Maria Clara?
– Patrão? Faz dois dias que demiti aquela menina incompetente – contou o careca do RH.
André praguejou.
– Como assim você demitiu? Quem lhe deu autorização?
– Acontece que três chefes de setores vieram reclamar comigo. Aquela jovem causou a maior confusão misturando um bocado de documentos importantes, não tive alternativa senhor – explicou.
Decidi intervir na conversa.
– Tá. Por acaso você tem o endereço dela?
– Não.
– Como não existe registro? – explodiu Fabiano.
– A-acontece que houve um acidente em um computador na sala de arquivos hoje pela manhã. A pasta da estagiária estava nele – informou.
Muito suspeito.
– Droga. Tudo está dando errado – falou André, esfregando o rosto de forma frustrada.
– Nosso técnico já está trabalhando para recuperar os documentos – falou Gomes.
Cutuquei André, tentando não fazer uma careta.
– E agora? O que fazemos?
– Vá para casa. Não há mais nada a ser feito.
– Claro que há. A esperança é a última que morre né? – rebati.
De repente, a secretária entrou correndo na sala do RH. Muito assustada. Parecia que a mulher estava entrando em parafuso de tão nervosa. Então ela soltou a bomba que estava segurando:
– Doutor André. Seus pais estão aqui!
– O quê? Quando eles voltaram de Los Angeles?
– Hoje.
Honestamente, tudo estava ficando cada vez pior.
– Isso é péssimo. Não queria estar na sua pele parceiro – falou Fabiano. – Acho até que vou passar o resto do dia fora – completou Fabiano, já saindo.
– Seu traidor. Vai me abandonar?
– Acredite. Vou procurar uma solução para seu problema – disse e sumiu em seguida.
André suspirou pesado e focou os olhos verdes em mim.
– Acho que chegou a hora de você conhecer meus pais, Manuela – contou.
Ele só podia estar brincando. Isso significava elevar nossa mentira para outro nível, eu não estava disposta a fazer isso. Não tinha coragem de enfrentar os pais de André.
– Você está louco? Sem chance.
– Você é minha namorada. Eles precisam te conhecer.
André sorriu quando falou isso e eu fiquei impressionada com a forma com que ele fez tudo isso parecer supercasual. Como se fosse só um acontecimento qualquer e não um momento da vida "mega importante".
Eu nem estava vestida adequadamente.
– Eu não vou fazer isso – falei, escapando pelo corredor.
Infelizmente, acabei dando de cara com os pais de André, que me olharam com certa curiosidade. Eles formavam um casal muito bonito e é claro que eu já tinha os visto em revistas, mas na vida real era uma coisa completamente diferente.
– Você deve ser a Manuela. Certo? – perguntou a mulher.
Eu a encarei, tão chocada, que fiz um barulho estranho tipo hannn? Saindo mais alto do que deveria pelo corredor. Quando recuperei minha voz, falei em um tom agudo:
– Sou. Como sabe disso?
– Todo mundo sabe. Você é a noiva do meu filho – contou.
– Mãe! – André parou ao meu lado, agarrando minha cintura. – Vejo que já conheceu a Manuela.
A mulher jogou o cabelo negro-sedoso para o lado e me dei conta por que o mundo inteiro é apaixonado por ela. Margarida Ribeiro, empresária, casada com Henrique Ribeiro (o engenheiro famosíssimo), é ao mesmo tempo bela e, por incrível que pareça, uma pessoa legal.
– Há algo importante sobre sua vida que eu deva saber filho? – disse Henrique.
Margarida deu uma olhada para o filho, as sobrancelhas franzidas e para meu horror, começou a gritar com ele em voz alta.
– Isso é verdade. "André Ribeiro Mendes", o que está acontecendo? Eu não criei você assim – disse ela. – Passamos apenas um mês fora e quando voltamos, encontramos tudo de cabeça para baixo.
– Pelo amor de Deus, eu não sou mais uma criança. Eu sei o que estou fazendo – reclamou André.
– Sabe mesmo? – falou seu pai, dando um passo a frente. – Viemos pessoalmente na construtora para saber de tudo que está acontecendo e acabar com essa palhaçada.
Não gostei do jeito que o senhor Ribeiro olhou para mim.
– Soube que terminou com a Rebeca – continuou ele. – Por que fez isso? Você sabe que Emílio Vargas é um grande amigo e parceiro nos negócios.
– Não venha falar de trabalho! – reclamou Margarida.
– O quê? Só estou dizendo que Rebeca e André formavam o casal perfeito.
Um soco no estômago teria doído menos. Mesmo que fosse somente uma mentira, isso feriu, me deixando bastante magoada.
– Pai, não é o momento certo para falar sobre esse assunto. Está bem? – bufou André.
– Eu acho que é o momento ideal. Não é mesmo mocinha? – Henrique falou comigo.
Engoli em seco.
– Pai...
– Ela precisa saber, André. Por acaso você sabe em que família está se metendo? O prestígio, a riqueza e o respeito que temos?
– Henrique! Você está passando dos limites – advertiu Margarida.
Sacudi a cabeça.
– Eu não sei o quanto rica e influente sua família é – respondi. – Mas conheço o André. Ele é inteligente, tem caráter e corre atrás do que quer. Então, ao invés de tratá-lo feito um moleque deveria ver o que ele está fazendo pela construtora. Seu trabalho é incrível! Você pode valorizar mais isso e parar de querer escolher com quem ele se relaciona.
Girei pelos calcanhares e fugi dali, não queria que nenhuma daquelas pessoas me visse chorando.
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Doce Mentira
Teen FictionManuela Martins curtia viver sua vida simples na cidade. Dona de uma personalidade atrevida, decidida e de um coração generoso demais, ela jamais imaginou que algo pudesse abalar a sua vida. No entanto, tudo muda quando um aviso de despejo surge na...