Capítulo 18

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Procuramos a estagiária em cada canto da construtora. Com exceção de George Miller é claro. Ele havia partido mais cedo e esperava por notícias da possível sabotagem.

– Gomes. Cadê a Maria Clara?

– Patrão? Faz dois dias que demiti aquela menina incompetente – contou o careca do RH.

André praguejou.

– Como assim você demitiu? Quem lhe deu autorização?

– Acontece que três chefes de setores vieram reclamar comigo. Aquela jovem causou a maior confusão misturando um bocado de documentos importantes, não tive alternativa senhor – explicou.

Decidi intervir na conversa.

– Tá. Por acaso você tem o endereço dela?

– Não.

– Como não existe registro? – explodiu Fabiano.

– A-acontece que houve um acidente em um computador na sala de arquivos hoje pela manhã. A pasta da estagiária estava nele – informou.

Muito suspeito.

– Droga. Tudo está dando errado – falou André, esfregando o rosto de forma frustrada.

– Nosso técnico já está trabalhando para recuperar os documentos – falou Gomes.

Cutuquei André, tentando não fazer uma careta.

– E agora? O que fazemos?

– Vá para casa. Não há mais nada a ser feito.

– Claro que há. A esperança é a última que morre né? – rebati.

De repente, a secretária entrou correndo na sala do RH. Muito assustada. Parecia que a mulher estava entrando em parafuso de tão nervosa. Então ela soltou a bomba que estava segurando:

– Doutor André. Seus pais estão aqui!

– O quê? Quando eles voltaram de Los Angeles?

– Hoje.

Honestamente, tudo estava ficando cada vez pior.

– Isso é péssimo. Não queria estar na sua pele parceiro – falou Fabiano. – Acho até que vou passar o resto do dia fora – completou Fabiano, já saindo.

– Seu traidor. Vai me abandonar?

– Acredite. Vou procurar uma solução para seu problema – disse e sumiu em seguida.

André suspirou pesado e focou os olhos verdes em mim.

– Acho que chegou a hora de você conhecer meus pais, Manuela – contou.

Ele só podia estar brincando. Isso significava elevar nossa mentira para outro nível, eu não estava disposta a fazer isso. Não tinha coragem de enfrentar os pais de André.

– Você está louco? Sem chance.

– Você é minha namorada. Eles precisam te conhecer.

André sorriu quando falou isso e eu fiquei impressionada com a forma com que ele fez tudo isso parecer supercasual. Como se fosse só um acontecimento qualquer e não um momento da vida "mega importante".

Eu nem estava vestida adequadamente.

– Eu não vou fazer isso – falei, escapando pelo corredor.

Infelizmente, acabei dando de cara com os pais de André, que me olharam com certa curiosidade. Eles formavam um casal muito bonito e é claro que eu já tinha os visto em revistas, mas na vida real era uma coisa completamente diferente.

– Você deve ser a Manuela. Certo? – perguntou a mulher.

Eu a encarei, tão chocada, que fiz um barulho estranho tipo hannn? Saindo mais alto do que deveria pelo corredor. Quando recuperei minha voz, falei em um tom agudo:

– Sou. Como sabe disso?

– Todo mundo sabe. Você é a noiva do meu filho – contou.

– Mãe! – André parou ao meu lado, agarrando minha cintura. – Vejo que já conheceu a Manuela.

A mulher jogou o cabelo negro-sedoso para o lado e me dei conta por que o mundo inteiro é apaixonado por ela. Margarida Ribeiro, empresária, casada com Henrique Ribeiro (o engenheiro famosíssimo), é ao mesmo tempo bela e, por incrível que pareça, uma pessoa legal.

– Há algo importante sobre sua vida que eu deva saber filho? – disse Henrique.

Margarida deu uma olhada para o filho, as sobrancelhas franzidas e para meu horror, começou a gritar com ele em voz alta.

– Isso é verdade. "André Ribeiro Mendes", o que está acontecendo? Eu não criei você assim – disse ela. – Passamos apenas um mês fora e quando voltamos, encontramos tudo de cabeça para baixo.

– Pelo amor de Deus, eu não sou mais uma criança. Eu sei o que estou fazendo – reclamou André.

– Sabe mesmo? – falou seu pai, dando um passo a frente. – Viemos pessoalmente na construtora para saber de tudo que está acontecendo e acabar com essa palhaçada.

Não gostei do jeito que o senhor Ribeiro olhou para mim.

– Soube que terminou com a Rebeca – continuou ele. – Por que fez isso? Você sabe que Emílio Vargas é um grande amigo e parceiro nos negócios.

– Não venha falar de trabalho! – reclamou Margarida.

– O quê? Só estou dizendo que Rebeca e André formavam o casal perfeito.

Um soco no estômago teria doído menos. Mesmo que fosse somente uma mentira, isso feriu, me deixando bastante magoada.

– Pai, não é o momento certo para falar sobre esse assunto. Está bem? – bufou André.

– Eu acho que é o momento ideal. Não é mesmo mocinha? – Henrique falou comigo.

Engoli em seco.

– Pai...

– Ela precisa saber, André. Por acaso você sabe em que família está se metendo? O prestígio, a riqueza e o respeito que temos?

– Henrique! Você está passando dos limites – advertiu Margarida.

Sacudi a cabeça.

– Eu não sei o quanto rica e influente sua família é – respondi. – Mas conheço o André. Ele é inteligente, tem caráter e corre atrás do que quer. Então, ao invés de tratá-lo feito um moleque deveria ver o que ele está fazendo pela construtora. Seu trabalho é incrível! Você pode valorizar mais isso e parar de querer escolher com quem ele se relaciona.

Girei pelos calcanhares e fugi dali, não queria que nenhuma daquelas pessoas me visse chorando.

Doce MentiraOnde histórias criam vida. Descubra agora