Sombras subliminares

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Boaaaa noitee

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Durante os dias que se seguiram, Clarke  bateu de cara em todos os becos sem saída que apareceram. Quando precisava de uma mudança de ritmo para clarear a mente, usava a cabeça de Peabody para atingir alguma parede sem saída. Infernizou a vida de Whittle  para que ele usasse qualquer tempo livre que tivesse, a fim de achar alguma coisa para ela. Não apareceu nada. Rangia os dentes sempre que via outros casos aterrissando em sua mesa, e ficava trabalhando sempre além do horário.

Quando os rapazes do laboratório faziam corpo mole, ela subia em cima deles e os pressionava sem pena. Chegou a um ponto em que o pessoal do laboratório começou a tentar fugir dela e de suas cobranças. Para combater isso, rebocou Octavia lá para baixo, até o laboratório, para um pequeno confronto cara a cara.

—  Não me venha com aquele VPF sobre falta de gente, Dickie.

Dickie Berenski, a quem os colegas se referiam, pelas costas, como Cabeção, pareceu ofendido. Como chefe dos técnicos do laboratório, ele bem que poderia ter convocado meia dúzia de subalternos para encarar um confronto pessoal com uma detetive irada, mas cada um deles o desertara.
Cabeças iam rolar por causa daquilo, pensou, enquanto soltava um suspiro e perguntava:

— O que quer dizer com VPF?

— Velho Papo Furado, Dickie. É sempre VPF com você.

Ele fez uma cara feia, mas gostou do acrônimo, e decidiu que ia usá-lo.

— Escute, Griffin, apressei o exame de todos os tranqüilizantes e remédios que você me trouxe, não apressei? Coloquei prioridade máxima neles como um favor a você.

— Favor uma ova! Eu subornei você bonito, arrumando lugares de camarote para a final do campeonato.

— Eu considerei aquilo um presente —  e seu rosto assumiu um tom formal.

— Não vou suborná-lo de novo! —  e cutucou seu peito mole com o dedo indicador. —  Qual foi o lance com os óculos de realidade virtual? Por que não recebi seu relatório até agora?

— Porque não encontrei nada neles para relatar. É um programa bem quente, Griffin —  e suas sobrancelhas fizeram uma dança sugestiva, subindo e descendo — , mas o aparelho estava limpo. Sem defeitos. O mesmo podemos dizer de todos os outros programas daquela peça: limpos e dentro dos códigos legais. Fiz até melhor —  acrescentou, com a voz ligeiramente esganiçada — , fizemos o melhor que podíamos: mandei Sheila desmontar o equipamento todinho e tornar a montá-lo. Aliás, é um aparelho fantástico, topo de linha, da melhor qualidade, topo do topo. Tecnologia mais do que avançada. Mas isso era de esperar. É um produto das Indústrias Lexa .

— É um produto... —  Clarke  parou de falar, lutando para não dar a perceber a sua surpresa ou desânimo diante desse pedacinho de informação. —  E foi montado em que fábrica?

— Ah, sei lá!... Sheila é que tem esses dados. Foi fora do planeta, disso estou certo. Mão-de-obra mais barata. E aquela gracinha acabou de ser lançada. Está no mercado há menos de um mês.

O estômago de Clarke  apertou-se ainda mais e chegou a se retorcer.
— Mas não saiu de fábrica com defeito, então?

— Não. Funciona que é uma beleza! Eu já estou até pensando em comprar um para mim —  e arqueou as sobrancelhas, esperançoso. —  Você bem que podia me arranjar um, a preço de custo.

— Consiga o relatório para mim, agora, com todos os mínimos detalhes, devolva-me o aparelho e posso pensar no assunto.

— É o dia de folga de Sheila —  choramingou ele, com a boca pendendo nos cantos em busca de pena. —  Ela pode acabar o relatório amanhã de manhã, e logo depois vou mandar que ela o envie diretamente para você, antes do meio-dia.

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