Código 1217

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Ela sentia seu corpo leve, mas forte, e sua mente descansada. Quando o carro pegou na primeira tentativa, viu aquilo como um bom presságio, e o controle de temperatura ficou estável em agradáveis vinte e dois graus.

Ela se sentia preparada para encarar o comandante e convencê-lo de que tinha um caso nas mãos para investigar.

Então, chegou à esquina da Quinta Avenida com a Rua Quarenta e Sete e caiu em um engarrafamento. O tráfego de terra estava parado, os veículos aéreos ficavam circulando como urubus e ninguém estava dando a mínima para as leis contra poluição sonora. Buzinas, gritos, xingamentos e urros subiam pelo ar e ecoavam. No instante em que ela parou, seu controle de temperatura subiu direto para a marca dos trinta e cinco graus.

Clarke  saltou do carro enfurecida e se enfiou na confusão.

As carrocinhas com comestíveis tiravam vantagem da situação, e deslizavam através e sobre o nó que se formara, fazendo grandes negócios com a venda de pedaços de fruta congelada e café. Ela não se deu ao trabalho de exibir o distintivo para um dos vendedores ambulantes para lembrá-lo de que vendas fora da calçada não eram permitidas por lei. Em vez disso, chegou junto de um deles, comprou uma lata de Pepsi e perguntou que diabos estava acontecendo.

— É uma passeata de partidários da Família Livre. —  Com os olhos correndo de um lado para outro em busca de mais clientes, ele enfiou as fichas de crédito em um recipiente próprio. —  Estão protestando contra a cultura do consumo em excesso. Centenas deles estão espalhados ao longo da Quinta Avenida, como uma fita comprida. Estão cantando. Quer um brioche de trigo para acompanhar a Pepsi? Estão fresquinhos.

— Não.

— Vou ficar aqui por mais um tempinho —  avisou ele, enquanto entrava em sua carrocinha para circular pelo tráfego parado.

— Filho-da-mãe... —  Clarke  avaliou o cenário. Estava bloqueada por todos os lados, por veículos que tentavam passar. Parecia que sinos badalavam em seus ouvidos, e o calor dentro do carro transformava-o em uma fornalha.
Entrou novamente no veículo, deu um soco no painel de controle e conseguiu que a temperatura baixasse de repente até o nível de refrescantes quinze graus. Acima dela, um dirigível para turistas passava lentamente. Cheio de gente com os olhos arregalados.

Mesmo sem levar muita fé no seu carro, Clarke  apertou o botão para colocá-lo na vertical e ligou a sirene. O barulho era alto, mas não era páreo para a cacofonia de ruídos. Mesmo assim, ela conseguiu subir, aos trancos e barrancos. Suas rodas deixaram de atingir o teto do carro da frente por centímetros, mas continuou, tossindo e engasgando, a caminho dos céus.

— Sua próxima parada vai ser em uma pilha de lixo para reciclagem, eu juro! —  resmungou ela para o carro, enquanto ligava o comunicador. —  Peabody, que diabos está acontecendo?

— Senhora... —  Peabody apareceu na tela, com os olhos imperturbáveis e os lábios sem expressão. —  Imagino que a senhora já notou o engarrafamento provocado pelo protesto na Quinta Avenida.

— Esse protesto não foi anunciado. Sei muito bem que esta passeata não estava nos avisos da polícia para esta manhã. Eles não podem ter conseguido uma autorização para sair.

— Os partidários da Família Livre não pedem autorizações, senhora —  e pigarreou enquanto Clarke  rugia. —  Sugiro que a senhora vá para oeste, pois terá melhor sorte vindo pela Sétima Avenida. O tráfego está pesado por lá, mas está se movendo. Se der uma olhada no sistema que informa o fluxo de carros no seu painel...

— Tá... Como se isto estivesse funcionando nessa lata velha. Ligue para o setor de manutenção e avise-os que vou fazer picadinho deles. Depois, entre em contato com o comandante e avise que talvez eu me atrase um pouco para a reunião com ele. —  Enquanto falava, Clarke  lutava quase corpo a corpo com o carro, que dava mergulhos repentinos e fazia com que pedestres e outros motoristas olhassem para cima, apavorados. —  Diga-lhe que, se eu não despencar em cima de alguém, devo chegar aí daqui a vinte minutos.

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